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sexta-feira, 7 de abril de 2023

O Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul



 Há doze anos - se bem me lembro - o Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul vem montando peças e dando, ao público de Porto Alegre, espetáculos que as companhias profissionais, em suas esporádicas excursões ao ponto sul do Brasil, como qualidade, raramente lhe levam. Não sei quais os diretores que lhe guiaram o início; meu conhecimento mais direto com o grupo data do encontro, em São Paulo, há três anos, mais ou menos, com Loris Melecchi, Valmor Chagas e mais dois companheiros, em viagem de passeio ao Rio e capitais do sul do país. Nessa época, já Luís Tito era encenador do grupo, e Loris Melecchi, diretor geral. Sob o comando de Luís Tito, foram apresentadas: "A Verdade de Cada Um", de Pirandello, "O Herói e o Soldado", de Shaw, "Simbita e o Dragão", de Lúcia Benedetti e a "Paixão de Cristo", de Eduardo Garrido, numa Semana Santa. Com a vinda de Luís Tito para São Paulo, o T.E. gaúcho ficou sem encenador. Loris Melecchi, diretor incansável e bom ator, voltou ao Rio, para tratar de assuntos do grupo, junto ao S.N.T. e ver se seduzia alguém a ir a Porto Alegre, montar um ou dois espetáculos. Luísa Barreto Leite, abordada pelo charme e a lábia do jovem conterrâneo seu, concordou em rever os pagos, encenar outro Pirandello e fazer conferências, nas férias de 53-54. As férias, porém, ainda estava longe (essa conversa ocorreu em meios de 1953) e o grupo ficaria muito tempo sem trabalhar. Silva Ferreira estava disponível, aqui, no Rio, e poderia partir logo. Aceitou o convite de Loris e lá se foi. Sob sua direção, o Teatro do Estudante apresentou, com êxito, "A Corda", de Patrick Hamilton. Ao mesmo tempo que dirigia os ensaios da peça, dava aulas na Escola de Teatro Mário Hermes, cuja direção lhe foi entregue. Além dessas atividades, iniciava sua colaboração na página literária dos sábados, do "Correio do Povo", com artigos sobre coisas de Teatro. Loris, antes de abandonar a direção do grupo, resolveu realizar a segunda excursão a cidades do interior do Estado. Prepararam "O Noviço", de Martins Pena. O repertório estava pronto: "A Corda", e "O Noviço". "A Corda" obtivera ótimas críticas, mas as finanças do grupo continuavam curtas. Como atender às despesas de condução, hotéis, propaganda, casas de espetáculos? O Dr. Nei Brito, secretário do Governador, solicitado, conseguiu-lhes condução e um vagão-dormitório, com o Diretor da Viação Férrea. Transporte e alojamento, resolvidos. Faltavam, ainda, alimentação, propaganda e locais para as representações. Um dos rapazes partiu, em visita às cidades programadas e, com as Prefeituras e as agremiações de estudantes, arranjou manutenção e publicidade. Os donos de cinemas, porém, exigiram 50% da renda bruta. Para não desmerecer da classe. Por não haver outro jeito, o grupo teve de aceitar. Os espetáculos, realizados em Cachoeira, Santa Maria, Alegrete e Uruguaiana, foram extraordinariamente bem recebidos. Em Uruguaiana, a Prefeitura patrocinou uma récita de "O Noviço", para a população, ao ar livre, sobre tablados, diante de mais de duas mil pessoas. De volta a Porto Alegre, Silva Ferreira recebeu e aceitou dois convites: um, da Faculdade Católica de Filosofia, que lhe propôs dirigir uma peça e realizar dez conferências, para os alunos; outro, do Dr. Mariano Beck, Secretário da Educação, que lhe ofereceu o cargo de Assistente Técnico de Teatro no Estado. Em consequência de suas novas atribuições, Silva Ferreira pôs em andamento os quatro primeiros pontos de seu programa: reforma completa do Teatro São Pedro; organização de fichário de peças e serviços de cópias, para indicação e remessa aos grupos de teatro do Estado, que solicitarem orientação; prêmio para a melhor peça - que a Prefeitura encenará - de autor gaúcho; prêmio ao melhor conjunto amador do Estado, conferido por comissão nomeada para assistir a todos os espetáculos teatrais apresentados no interior. No fim do ano, ao conjunto premiado será oferecida uma viagem a Porto Alegre, para que a Capital o aprecie. Eis o que está acontecendo, no Rio Grande do Sul. Além desta grata oportunidade de referir-me aos trabalhos do Teatro do Estudante daquelas bandas, outros dois motivos levaram-me a publicar esta nota: o incentivo que dela pode vir aos amadores do interior do país, cheios, em geral, de boa vontade, mas escassos de iniciativa, e o avisto, aos nossos diretores jovens, que seu futuro tem muitas probabilidades de bom início fora do Rio de Janeiro. Aqui, a concorrência é maior; os interesses pessoais, mais exclusivistas; a política de bastidores, não raro, sórdida. Nas cidades do interior, os diretores incipientes encontrarão campo mais tranquilo para aplicar seus conhecimentos e adquirir experiência, e os grupos de amadores contarão com garantias de progresso, ao trabalhar sob a direção de alguém que, mais que seus componentes, conheça o "ofício". Para benefício do Teatro nacional, aí ficam aviso e conselho.


Fonte: PEDREIRA, Brutus. O Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul. Manchete, Rio de Janeiro/RJ, edição 098, 06 de março de 1954, pág. 14.

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