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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Invasão espanhola de Rio Grande em 1763

 



Enquanto os espanhóis ocupavam Santa Tereza, os fugitivos atravessavam os campos arenosos do Albardão, a cavalo ou a pé, e se aproximavam de Rio Grande. A chegada dos primeiros deles, com as notícias de que o inimigo aproximava, causou pânico entre os moradores da capital.

Só então, no dia seguinte - 20 de abril de 1763 -, o governo Elói Madureira tomou providências. Ele reuniu, na Casa do Governo, o provedor, o tesoureiro e os chamados homens bons da vila de Rio Grande para lhes fazer uma confissão. Desde 16 de janeiro, contou, ele tinha ordens da Junta Governativa de fazer a retirada organizada da população tão logo os espanhóis dessem sinais de que invadiriam a vila. Perguntaram-lhe por que não havia cumprido a ordem. "Eu não queria provocar pânico", explicou um constrangido governador.

Surpresa, xingações, confusão. Pânico. As pessoas se deram conta de que não tinham embarcações suficientes para a fuga. Dias antes, quatro navios haviam sido enviados a Santo Amaro, para trazer madeira para a vila. No porto, restavam duas canoas e duas faluas. A fuga para o pequeno povoado de São José do Norte, no outro lado do canal, seria necessariamente caótica. A debandada passaria para a história como "A Corrida do Rio Grande".

O primeiro a chegar à outra margem foi o próprio Elói Madureira. Segundo o historiador Jônathas Monteiro, "civis e soldados, ao verem o governador abandoná-los, aos brados o insultavam, chamando-o de traidor e covarde. O cabo de dragões José Marques chegou a alvejá-lo com uma pistola, gritando que era preciso matar os que haviam traído. Só a intervenção do provedor Barbarica não permitiu que a ameaça fosse efetivada".

No outro lado da margem, sentado dentro de uma liteira, Madureira ficou à espera da carruagem que mandara pedir em Mostardas, para a fuga rumo a Santa Catarina. Estava desmoralizado. Só os mais servis cumpriam suas ordens. A condução chegou no dia 24, e o governador partiu com pequena escolta rumo a Tramandaí. Só não seguiu imediatamente para Laguna porque o capitão que administrava Gravataí, Antônio Pinto Carneiro, mandou-lhe uma carta pedindo que fosse para Viamão e resistisse.

Nos dias anteriores à chegada dos espanhóis, a barbárie imperou em Rio Grande. Pelos testemunhos que constam dos autos da Devassa, é possível montar o quadro. Bêbados, os soldados fugitivos de Santa Tereza saíram a saquear e quebrar, com o argumento de que não poderia deixar nada inteiro para o invasor. A eles se juntou o populacho. Alguns comerciantes fizeram eles mesmos a distribuição de alimentos e roupas. Mas quem não fazia isso era assaltado. Mulheres foram violadas.

Os armazéns reais foram assaltados. "Soldados armados obrigaram o almoxarife a abrir-lhes as portas", como relata a Devasssa, e muitas fazendas e roupas foram roubadas por aqueles que queriam se vestir, "por se acharem rotos e nus". Os armazéns de farinha "foram abertos por populares, a maioria casais das ilhas, que levaram toda a farinha". Completamente bêbados, soldados invadiram a matriz de São Pedro a cavalo e saíram de lá vestidos com as roupas da Confraria do Santíssimo e carregando objetos sagrados.

Nas ruas, muitas brigas, mas no porto a confusão era ainda maior, agravada pelos gritos das mulheres e o choro das crianças. Não havia embarcações suficientes. A prioridade para levar armamentos não era respeitada: as pessoas atiravam as armas na água e ocupavam os barcos. Os soldados tentaram atravessar os três mil cavalos trazidos de Santa Tereza por um baixio. Mas um vento forte bateu, levantando as águas, e a maioria dos animais morreu afogada.

No dia 24 de abril, o capitão Molina entrou na vila com seus soldados, dando início a uma ocupação de 13 anos. Encontrou apenas 156 dos 714 casais que viviam ali. Havia bandeiras brancas na frente das casas. Em 13 de maio, Molina ocupou também o outro lado do canal. Além de conquistada a capital da capitania, estava bloqueada a entrada da Lagoa dos Patos. 

Fonte: COSTA, Elmar Bones da (editor). História ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/RS: Zero Hora/CEEE/Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1998, págs. 69-70.

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