A escolha das cores vermelha e branca é outro capítulo interessante da história do Inter. Qualquer clube, ainda mais um clube esportivo, no fundo é uma simulação de um exército, e o confronto de clubes rivais simula uma guerra - isso é evidente. Basta lembrar as guerras antigas, em que as facções em disputa se identificavam com cores e emblemas característicos. É que as cores, o uniforme, os cantos de torcida, tudo isso tem um papel de enorme importância simbólica. No nosso caso, a escolha teve um componente de rivalidade que nada tinha a ver diretamente com o futebol. Na época, havia em Porto Alegre duas associações carnavalescas de grande torcida - a Sociedade Esmeralda Porto-Alegrense, que tinha como cores predominantes o verde e o branco, e a Sociedade Venezianos Carnavalescos, que usava as cores vermelha e branca. Havia também outras, algumas de nomes brincalhões, como Club Saca-Rolhas, Clube Jocotó, Sociedade Floresta Aurora, Sociedade Germânia e muitas outras, que duravam pelo menos alguns anos (Grupo dos Congos, Vagalumes, Roxa Saudade, Cotubas, Boêmios, Satélites de Momo, Bilontras, Caraduras, etc.); mas aquelas duas tinham mais força. Uma e outra dividiam as preferências, e as duas estavam representadas entre os que se reuniram para fundar o Inter. Quando chegou a hora da escolha das cores - vamos lembrar que isso se passou em abril, meses depois do Carnaval, que em 1909, segundo consta, tinha causado até brigas físicas entre integrantes das duas sociedades -, e após a definição do nome, houve uma divisão entre os presentes, que correspondia à divisão entre os adeptos das duas sociedades: uma ala quis verde e branco, outra quis vermelho e branco; acabou vencendo a segunda opinião, em favor do encarnado sanguíneo e do branco vitorioso. O resultado desagradou tanto os esmeraldinos que alguns chegaram a se retirar do recinto, deixando de assinar a ata - pelo menos é o que relata um dos presentes do dia, Napoleão Gonçalves. (A história dessas duas associações não é totalmente conhecida, mas é certo que elas eram bem antigas, fundadas que foram em 1873. Com algumas interrupções, elas e outras agremiações carnavalescas promoveram desfiles de rua em Porto Alegre, com carros alegóricos decorados, fantasias e charangas, pelo menos até 1912).
Fonte: FICHER, Luís Augusto. Dicionário Colorado. Caxias do Sul/RS: Belas-Letras, 2011, pág. 61-62.
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