CONFLICTO EM MAGÉ
Na terça-feira de carnaval, em Magé, alguns rapazes foram, fantasiados, ao largo da Ferraria, e ahi levantaram um tablado, sobre o qual collocaram cadeiras, nas quaes cada um dos mascaras sentou-se, para simular uma sessão tumultuaria da camara municipal, cousa que não é raro ver-se, sem fantasias, durante o anno, mas que á auctoridade policial d'alli, o delegado, não pareceu regular em dia de carnaval.
Dizem que essa auctoridade levou o seu escrupulo pelo respeito ás instituições juradas, ao ponto de qualificar a camara municipal, ou antes a fingida edilidade, com um substantivo adjectivado que Victor Hugo empregou n'uma das suas obras immortaes, mas que nem com este baptismo do mestre póde-se pronunciar em rodas decentes. E juntando á qualificação um ordem, mandou que fosse destruida aquella quitanda, o que foi executado por onze soldados armados.
Aos mascarados fingindo edis juntaram-se outros e pessoas do povo que reclamavam contra a prepotencia, e tanto bastou para que a auctoridade policial mandasse carregar sobre o povo, sahindo algumas pessoas feridas, e entre estas, como de costume, cidadãos que nada tinham que ver com a historia.
Á noite, 03 mascarados, então em grande numero, voltaram ao mesmo largo, estando tambem presente o grupo dos Africanos; voltaram tambem as onze praças, mas d'esta vez foram completamente repellidas a pedradas, tendo então de correr ainda de sabre em punho, não sobre o povo, mas para o quartel, onde se recolheram, segundo prudente aviso do commandante do destacamento.
Nenhuma auctoridade appareceu depois d'isto, apezar dos insultos dirigidos pelo povo ao delegado. Ficaram feridos 2 soldados e contundidos 6; ficaram feridas tambem muitas pessoas do povo.
Fez-se corpo de delicto nas praças; alguns particulares requereram tambem corpo de delicto.
Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 17 de Fevereiro de 1888, pág. 01, col. 04
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