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domingo, 26 de dezembro de 2021

Jabuticaba

 



O padre Francisco Soares, que tinha corrido todas as vilas de São Vicente até Pernambuco, era um entusiasta da jabuticaba (Myrciaria cauliflora): "É das melhores frutas do Brasil". Ao descrever doze frutas brasileiras, o jesuíta a elegeu como a número um. E eram enormes as jabuticabas em 1590: "Em São Vicente as vi boas, são como limões pequenos" dizia Soares, ecoando o que Fernão Cardim, também da Companhia de Jesus, escreveu: "É do tamanho de um limão seitil". Os dois concordavam sobre o sabor, que hoje nos parece meio improvável: "O sabor é como de uvas" afirmava o primeiro, "no gosto, parece de uva ferral", descrevia Cardim.

As jabuticabas não eram abundantes como os abacaxis, os cajus ou as bananas. Segundo Cardim, era "fruta rara", sendo encontrada somente pelo sertão adentro da capitania de São Vicente (a fruta é nativa da mata atlântica de São Paulo e Minas Gerais). Ao que tudo indica, os colonos ainda não tinham descoberto o licor de jabuticaba, que talvez viriam a aprender inspirando-se nos índios, que faziam "vinhos" com a fruta, "que cozem como vinho de uvas".

Curiosamente, em tupi, jabuticaba quer dizer "comida de cágado".

Fonte: HUE, Sheila Moura. Delícias do Descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro; Zahar, 2009, pág. 37

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