É o quarto grupo mais representativo de imigrantes na história de Pelotas, atrás de portugueses, alemães e italianos. A proximidade com o país vizinho e a importância do núcleo charqueador pelotense no século XIX sempre foi um atrativo para esses migrantes.
As três principais cidades da metade
sul do Rio Grande do Sul (Rio Grande, Pelotas, Bagé) na época receberam enormes
contingentes de uruguaios sobretudo após o final da Revolução Farroupilha. Isso
se deve ao fato de o país vizinho ter enfrentado uma turbulenta guerra civil
entre 1838 e 1851. Boa parte dessas pessoas encontrava muitas oportunidades de
trabalho em solo gaúcho, dado terem experiência em sua terra natal com vários
ofícios ligados à pecuária e à indústria saladeiril. Mesmo durante o século
XIX, esse movimento não cessou, pois Pelotas era visto como uma espécie de Meca
econômica para os uruguaios. Isso persiste durante a primeira metade do
século XX e toma novo fôlego a partir de 1973, quando o Uruguay entra num
período ditatorial. Mesmo até a década de 1990, Pelotas sempre atraiu essa
nacionalidade, igualmente estimulada pela presença das universidades e
institutos de educação técnica e superior.
Vale lembrar também que os ditos uruguaios
que se estabeleceram no Rio Grande do Sul não constituem um grupo homogêneo,
pois existem os uruguaios criollos e os uruguaios que são migrantes de
outras nacionalidades que viveram pouco tempo no país vizinho e por alguma
razão perceberam melhores oportunidades de ascensão social no Brasil. Fazemos esta
observação, porque um dos grupos que mais se fez presente no país vizinho e
passou ao Brasil para empregar-se principalmente na atividade pecuária foram os
bascos (tanto franceses quanto espanhóis). A presença desse elemento humano no
meio rural gaúcho se faz perceber pela grande quantidade de sobrenomes bascos
no Rio Grande do Sul e a introdução do uso da boina na indumentária gaúcha.
Do ponto de vista cultural, a
presença uruguaia confunde-se com os próprios elementos de identidade da
cidade. A culinária da carne é muito similar à do país vizinho, bem como várias
palavras e expressões compartilhadas com o espanhol falado por aquelas bandas,
assim também a notável influência musical platina sempre presente nos ritmos
tradicionalistas.
Atualmente em Pelotas o único
consulado estrangeiro existente é o da República do Uruguay, situado à Avenida
Ferreira Vianna, evidenciando assim a forte presença dessa comunidade por aqui.
Fontes:
BECKER, Klaus. A
imigração no Sul do Estado do Rio Grande do Sul. In: BECKER, Klaus (org.). Imigração.
Canoas/RS: Editora Regional, 1958.
FAGÚNDEZ, Ariel
Salvador Roja. Ni de Acá, Ni de Allá: memória e identidade de filhos de
imigrantes uruguaios residentes em Pelotas. In: Anais do XXVI Simpósio
Nacional de História, ANPUH, São Paulo, jul. 2011.
GILL, Lorena
Almeida. A luta de Olga por seus direitos: imigração, saúde e trabalho de
mulheres em Pelotas, RS (década de 1940). São Paulo, Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho, vol. 38, 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/2210/221065057003/html/. Acesso em: 14 de
julho de 2021.
SILVA, Marianela
Tafernaberry da. Bascos no Uruguay: considerações sobre imigração e
identidade. Monografia, Lic. Plena em História, Instituto de Ciências
Humanas/UFPel, 1995.
VARGAS, Jonas
Moreira. “Entre Jaguarão e Tacuarembó”: os charqueadores de Pelotas (RS) e os
seus interesses políticos e econômicos na região da campanha rio-grandense e no
norte do Uruguai (c. 1840 – c. 1870). In: Estudios Historicos, CDHRPyB,
Ano V, Montevidéu, n. 11, dez. 2013.
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