Um diario que acabamos de receber menciona que na villa de S. José da Boa-Vista, Estado do Paraná, houve uma scena de vandalismo praticada por alguns criminosos que viviam em quilombos nos limites d'esse Estado com o de S. Paulo.
Os assaltantes saquearam a villa, tendo os juizes de direito e municipal fugido para Castro.
Deu motivo ao assalto a prisão do chefe dos bandidos que é auctor de 15 mortes.
Por ordem do governador seguiram 50 praças de cavallaria, commandadas pelo capitão Azevedo para restabelecer a ordem.
Aguardam-se noticias de grandes desgraças.
Podemos dar algumas informações, diz a citada folha, sobre esse facto e causas:
Ha longo tempo que vivem homisiados em um quilombo, no lugar denominado Patrimonio Maria Ferreira, muitos bandidos em numero superior a 30. Ahi plenamente seguros e defendidos contra a acção da justiça, porque taparam as picadas e é quasi inaccesivel e perigosissimo o lugar em que se acham, entregam-se nos dias de descanço ao trato de sua lavoura e construcção de suas casas.
Calcula-se a população d'esse quilombo superior a 60 almas.
Do seu antro sahem de tempos em tempos em excursões funestas esses facinoras matando e roubando.
Por vezes a policia do Paraná teve denuncia do facto.
Mas para ser fructífero o ataque ao quilombo carece de ser feito em commum pela policia d'aquelle e d'este Estado, porque o unico caminho viavel para uma força respeitavel como precisa ser a que lá fôr dá sahida para terras de S. Paulo.
Por causa d'essa combinação e por causa do numero de praças precisas para semelhante diligencia não se deu caça até hoje ao viveiro daquelles salteadores.
Ha pouco o juiz municipal de S. José da Boa-Vista, dr. Arsenio Gusmão, um moço activo e corajoso, conseguiu prender o chefe do quilombo, segundo consta um rapaz ainda.
Essa prisão pôde ser realisada porque com toda a ousadia o bandido se aventurou a ir desembuçadamente ao povoado de São José da Boa-Vista, proximo do Quilombo.
Como se vê, essa prisão foi a causa do assalto dos bandidos á villa. Felizmente conseguiram salvar-se o juiz municipal Ferreira de Novaes, um cavalheiro distincto e integerrimo magistrado.
Do mais não se sabe por emquanto.
É de crer que a correria dos criminosos tenha deixado vestigios tristes de sua passagem.
Agora certo os poderes competentes hão de tomar as mais energicas providencias afim de destruir por completo aquelle formigueiro onde se entrincheiram e donde sahem para o crime tão numerosos salteadores."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 13 de Janeiro de 1891, pág. 01, col. 03
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