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domingo, 8 de novembro de 2020

A companhia dos anões no Teatro São Pedro


"Os anões

Que grande pena eu tive d'aquellas pobres creaturinhas que trabalharam hontem no São Pedro!

É triste exibir a gente, como se exibem os gallos de tres pernas ou outro qualquer phenomeno teratologico, para ganhar o celebre e indispensavel pão d'amanhã.

Comprehende-se um palhaço que diga pilherias para fazer rir a massa, comprehende-se um leão domesticado que salta, comprehende-se um cachorro ensinado que dansa: - ha sempre n'isto uma certa arte, um certo trabalho de paciencia.

Mas expôr-se o physico atrophiado e minusculo, explorando a respeitabiidade que devemos a nós mesmos, mostrando a tanto por cabeça, como nos barracões de feira, os defeitos d'uma organismo infeliz, a conformação da cabeça ou a pequenez do pé, é uma cousa que, si não é vil, é dolorosa.

A mim, palavra, causou-me um forte impressão de piedade o espectaculo de hontem em que aquelles pobres anões cantaram, na voz fraca de typinhos doentes e rachiticos, cançonetitas canalhas que provocam applausos nos cafés cantantes e nos theatrinhos baratos.

Repugnou-me aquillo.

O principe Emidiget, com 65 centimetros de altura, de casaca e d'oculos a fazer-se de velho, constrangido com certeza por ficar acordado até tarde a walsar com a liliputiana princeza mignon, o general Ernesto Schoffer, com 72 centimetros de altura, a fingir de bebedo, a generala Tot, com 80 centimentros a chiar uns cantos da sua terra e miss Martha Brow, com 78 centimetros, a levantar a perna, como as cocottes nos can-cans dos maqués, tudo isso commove profundamente a quem reflectir um pouco sobre o destino cruel d'esses coitadinhos, sujeitos talvez a uma tutella eterna e rispida.

A muitos parecerá impubilissimo e patusco esse modo de ver, esses sentimentos de humanidade e moral.

Sebo para a rhetorica...!

E estão na logica do século...

GAVARNI."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 03 de Janeiro de 1891, pág. 02, col. 03

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