"Hontem, ás 6 horas da tarde, cessou de viver o nosso amigo Matheus de Magalhães, portuguez de nascimento e brasileiro naturalisado.
Era um homem de talento e illustrado, um espirito emancipado e finamente humorista, - bem o sabem todos quantos partilharam da sua palestra vivida e palpitante, sobre todo e qualquer assumpto.
Exerceu em outros tempos o magisterio particular, leccionando em varios estabelecimentos de instrucção secundaria o francez e o portuguez, habilmente, como um verdadeiro purista que era.
Outr'ora foi traductor da conhecida casa editora Garnier, do Rio.
Tambem para A Federação elle traduziu, posteriormente, com uma impeccabilidade fóra do commum, varios romances importantes da moderna litteratura franceza.
N'esse mister elle nunca subordinou, com o azafama e o atropello dos traductores vulgares, a correcção de seu trabalho, sempre scintillante e escoimado de defeitos, ás imperiosas exigencias da vida material, que aliás não pouco o fustigaram em tempos de dolorosa inclemencia, sem comtudo lhe quebrantarem o animo.
Em 1891 Matheus de Magalhães foi nomeador sub-redactor da repartição da estatistica, sendo mais tarde mandado addir á secretaria do interior, onde serviu até á sua morte.
Seu progenitor foi um dos homens mais illustres de Portugal, um livre-pensador de Portugal de alevantada estatura, o notavel orador José Estevam, de memoria perpetuada em expressiva estatua que se ergue no Aveiro.
Matheus de Magalhães deixa viuva e tres filhas menores, - tres gentis meninas que eram todo o seu encanto, ídolo adorado e palpitante de innocente caricia para o velho pái, - um vencido da vida tormentosa que levou.
Pezames."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 03 de Janeiro de 1895, pág. 02, col. 02
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