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segunda-feira, 25 de maio de 2020

A Lenda do Ibagé


"Bagé

(DANTE DE LAYTANO)

- Walter Spalding dá uma versão da lenda de Ibag-é.

Dizem que existiu na Serra de Santa Tecla, uma tribo de índios que jamais se reuniu com os povos das Missões Orientais do Uruguai.

Dentre os que dirigiram a tribo, um se destacou pela sua vida e pela sua austeridade: Ibahê ou Ibagê, o que chegou no rio ou o que veio do céu, - o que apareceu nas proximidades da nascente do arrôio mais tarde denominado bagé vindo do céu.

Um dia, enquanto portuguêses e castelhanos se entreveravam pela conquista daquelas terras, os homens de Ibagé foram obrigados a entrarem em luta. Embora não guerreiros, mas excelentes atiradores de arco e melhores atiradores de bolas, puseram em fuga as primeiras partidas. Foi quando lhes apareceu, vindo das Missões, o valente Sepé Tiarajú disposto a expulsar os invasores. Ibagé, já então velho e cansado, não o acompanhou, mas entregou-lhe algumas centenas de guerreiros para engrossarem a legião vingadora. E se ficou no cume dos cerros, em contacto com Tupã, o senhor daquelas terras, o velho e arguto Ibagé.

O desastre de Sepé, porém, encheu-o de tristezas e dor. Sofreu muito o grande chefe da grande ocara de Ibagé-i. Mas não desanimou. Ao contrário: pareceu remoçar, e, cheio de fé reuniu sua gente e partiu ao encontro do valente chefe missioneiro. Iria lutar com êle, lado a lado, em defesa daquelas terras que eram deles.

O encontro dos dois chefes foi verdadeiramente comovedor. Estava já por partir a hoste de Sepé, refeita do primeiro revés. E assim, unidas as legiões, marcharam os dois mas, desta vez, para lutas mais sérias, pois iriam enfrentar dois exércitos aguerridos: o espanhol comandado pelo Marquês de Valdelirios, e o português comandado por Freire Gomes de Andrade.

Em Caibaté, finalmente encontraram-se as fôrças. Sepé após tremenda batalha que representa autêntica chacina, perde 1.200 homens, e é morto afinal.

Ibagé assistiu os últimos momentos do heróico chefe missioneiro e constata a subida ao céu de sua alma de santo guerrilheiro, e vê fixar-se lá em cima naquela azul que cobre aquela região bendita, ensopada em sangue de seus filhos, o brilhante lunar que Sepé trazia gravado na testa, formando a maravilhosa constelação do Cruzeiro do Sul.

...E voltou para seus pagos, com sua mente desfalcada, mas disposta tanto que, daí por diante, conseguiram isolar por completo as terras de Ibagé, afastando delas os conquistadores.

Um dia, porém, enquanto a natureza sorria festivamente, tôda flôres, frutas, cantos, um pio lúgubre de coruja, ao anoitecer, arrepiou as almas daquela humilde aldeia. Era o prenúncio de algum mal, e tanto mais certo que os próprios quero-queros pareciam soluçar.

Reuniram-se os anciãos e correram à cabana de Ibagé para que lhes explicasse o que aquilo significava e esconjurasse o mal.

Era tarde, porém. Quando chegaram, Ibagé, em sua humilde rêde, estava morto! Mas viram ainda sua alma subindo ao céu, muito brilhante, e pousar, serenamente, quasi no centro do Cruzeiro que era o lunar de Sepé. E ali ficou encastoada para sempre formando a quinta estrela da magnífica constelação brasileira.

E em memória do grande chefe indígena, os cerros, o arroio e tôda aquela região, recebeu seu nome sagrado - Ibagé, que os portuguêses e castelhanos, depois, deturpando, denominaram Bagé, - a terra encantada do grande índio que viera do céu e se estabelecera nas margens do múrmuro arroio que, no seu manso correr, parece murmurar, ainda hoje, o nome do grande amigo:

- Ibagé... Ibagé... Ibagé...!"

Fonte: O PIONEIRO (Caxias do Sul/RS), 22 de Agosto de 1959, pág. 12

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