"Carnaval
Decididamente Deus Momo ha muito não era tão glorificado, como o foi este anno, por estas plagas fronteiriças.
Ambos os sexos, feio e bello, estiveram n'uma culminancia unica, prestando fervoroso culto ao deus patusco da troça e da folia.
Creio mesmo não me acoimarão de exagerado, si asseverar que o nosso bello Quarahy, jamais fez tanta honra a Momo. Parece que todas as inspirações carnavalescas affluiram nos cerebros nossos, procurando todos, negros e brancos, pardos e mestiços, chirús e caboclos, para na altura de suas forças contribuir para dar maior realce e brilho, mais esplendor ao tradicional carnaval.
Momo foi assaz glorificado entre nós.
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No primeiro dia (domingo de carnaval) sahiu a campo a comparsa da S.C. Niding, a qual apresentou-se bem uniformisada e visitou muitas casas de familia, sendo em todas optimamente recebida.
As batalhas de flores, travadas em diversas ruas, estiveram imponentes. O bello sexo, com seu chic habitual, concorreu em massa para dar maior esplendor á brilhante passeata effectuada no domingo e dias posteriores.
Apesar de, indistinctamente, achar que todas as flores do jardim quarahyense estavam correctas, não me posso furtar ao dever de especializar as gentis marinheiras, que n'um rico e bem adornado carro, chamavam com seus encantos naturaes a attenção e os olhares perscrutadores não só da elegante rapaziada, como dos... papeis queimados.
Grata, gratissima é a recordação que nos deixou a penultima e principalmente a ultima batalha de flores.
Centenares de kilos de confettis e milhares de serpentinas foram jogadas mutuamente pelo fragil e forte sexo, deixando as ruas elegantemente macadamisadas de papeisinhos.
Com tanto brilho e enthusiasmo feicharam-se os tres dias gordos do carnaval.
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Apesar dos trez primeiros dias estarem feichados, no domingo teremos, dados pela Niding - um passeio triumphal a carro, batalha de flores e um baile á phantasia, que, segundo os preparativos, vae fazer época no nosso meio social.
Por hoje despeço-me dos leitores, antes porem, atiro um punhado de confettis nas gentis leitoras.
CAFAGESTE."
Fonte: FARRAPO: JORNAL DEMOCRATA (Quaraí/RS), 05 de Março de 1897, pág. 01, col. 01-02
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