CARISSIMAS LEITORAS
Trá... lá... lá... lá... lá... ló... tri... li... li..., etc.
Perdão, minhas benevolas leitoras, se não vos saudei com o devido respeito: sim: quero dizer, isto é, com consideração: porque ainda parece-me que viajo pelo espaço, dentro do meu incomparavel balão, apreciando lá de cima as grandes folias carnavalescas: trago a cabeça em enthusiastica dança, e só estou a ouvir a musica do Zé Pereira.
Abençoado fandango!!!...
Vamos passar um rapido golpe de vista pela resenha dos festejos carnavalescos, que tenho na minha carteira, e mencionarei o que houver de melhor cá para mim.
As taludas gazetas da terra, já declararam alto e bom som urbe et orbi, que o carnaval este anno esteve excellente; por isso é tedioso repetir a mesma cousa; porém como só fallaram n'aquillo que mais encheu o olho, isto é, que todos viram pelas esquinas, beccos, ruas e praças, eu agora vou contar, como tinha promettido as couzinhas boas, que occorreram n'esta santa cidade, durante os tres dias de folia.
Mascates, gaúchos, mulheres, zuavos, etc., já é mais que sabido que houverão; mas, vamos ao theatro, onde teve lugar um explendido masqué; ao qual assistiu uma immensa concorrencia.
Todos os amantes da pandega lá se acharam mascarados com mais ou menos gosto e luxo. Cleopatras e Cupidos não faltaram com seus respectivos Adonis. Emfim o pagode esteve completamente mascarado.
Varios mascaras agradaram pelo espirito de suas continuas graças: emquanto outros limitavam-se ao: - não me conhece?
Distinguir mascarados, quando actualmente a sociedade é em sua maior parte composta d'elles, é tarefa bastante difficil, por isso não massarei a paciencia de minhas leitoras, com uma longa descripção que lhes seria bastante enfadonha e sem interesse.
O ultimo baile foi o mais cheio de enthusiasmo e de numerosa concorrencia; e n'elle deram-se varios episodios, enevitaveis em certas occasiões."
Fonte: GRINALDA: PERIODICO LITTERARIO, CRITICO E RECREATICO (Porto Alegre/RS), 26 de Fevereiro de 1871, pág. 10, col. 01-02
"- O carnaval fôra esplendido, e immensamente conccorido."
Fonte: O CONSTITUCIONAL (Porto Alegre/RS), 11 de Março de 1873, pág. 02, col. 05
"As sociedades carnavalescas preparão-se para a grande batalha de Fevereiro!...
Começarão os preparativos da luta, e, segundo nos informão, o combate será renhido este anno.
Os Venezianos dizem que desejão sustentar os honrosos creditos que têm adquirido em tantos annos de labor, e a Esmeralda exclama que não póde deixar cahir por terra as sympathias com que se tem firmado na opinião publica.
E o caso é que ambas têm razão.
Ambas têm feito tudo quanto é humanamente possivel para agradar, e o esplendor e bom gosto de suas festas anteriores está a prometter-nos brilhante carnaval neste anno.
E assim seja. Eu cá já me ven de antemão preparando para o apanhamento dos importantissimos successos de então e tenho certeza de encher uma carteira de notas preciosas (notas escriptas)."
Fonte: ALBUM DE DOMINGO (Porto Alegre/RS), 12 de Janeiro de 1879, pág. 327, col. 02
"O movimento é geral...
Dir-se-ha que se trata de uma revolução. O peior, porém, é que os signaes da approximação da época carnavalesca se manifestão de modo a fazer reapparecer velhos usos e costumes, que pódem vir prejudicar o modérno systema de festejar o folieiro Momo.
O entrudo!... O entrudo é o peior inimigo das sociedades carnavalescas, que decididamente hão de vir a morrer um dia debaixo de uma alluvião de bisnagas e affogadas n'um verdadeiro mar de agua perfumosa.
Pois se atá já ha bisnagas que equivalem a um barril d'água!
É sempre assim:
No primeiro anno de Carnaval o querido Zé-Povinho, mais pela curiosidade do que por attenção ás prohibições e ordens da policia, que é velha, cansada e rheumatica matrona, com quem elle nunca se importou, despejou todas as vasilhas d'agua, deixou a cera de limões apodrecer nos armazens e tavernas, banio das casas as enormes seringas de folha, que erão um flagello, e mandou comprar flores para atirar nos bandos carnavalescos, sahindo em pessoa para ir vêr das esquinas desfilarem os prestitos.
E era bonito de vêr-se como elle, de bocca aberta e olhos arregalados, acompanhava aquelles carros e ria-se das pilherias do Doux, que fazia de Dulcamara, e atropellava-se e pisava-se para disputar a outrem um impresso que, embollado, sahia de um carro em direcção a uma janella, cahindo sem força na calçada.
Foi um carnaval cheio esse."
Fonte: ALBUM DE DOMINGO (Porto Alegre/RS), 09 de Fevereiro de 1879, pág. 358, col. 02, pág. 359, col. 01
"Todos rião... e com razão.
É justo que as decepções e tristuras da vida tenhão uma tregoa, no esquecimento, durante esses tres dias descuidosos, em que os apolvilhados chicards, os pretenciosos dominós, os desenxabidos prinsêses, os dengues pierrots, os detestaveis diabinhos e o detestabilissimo Zé-Pereira, que pelo nome não perca, todos cheios de frivoleiras e semsaborias, exceptuando alguma allusão feliz, que é um optimo emprego do proficuissimo - ridendo castigo mores - desempenhão importante papel nesta festa do Carnaval, que, a ser originado, como suppõem, das Saturnaes romanas, não é das heranças que mais se nos recommendão."
Fonte: ALBUM DE DOMINGO (Porto Alegre/RS), 09 de Março de 1879, pág. 385, col. 01
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