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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Histórias Curiosas LXVIII

A facilidade das comunicações nos dias atuais não se compara há décadas atrás, em que o telefone era ainda um objeto de certa dificuldade de acesso por meio do consumidor comum. Hodiernamente, por meio de aplicativos de mensagem, é possível conversar com um amigo seu que está em São Paulo, bem como saber como anda a sua tia-avó que mora numa grota qualquer. Por que faço essa constatação? Bem, durante muito tempo no interior do Rio Grande do Sul, o principal meio midiático de propagação de notícias e informações era o rádio. O Fulano precisa encontrar a Beltrana, o seu Sicrano perdeu uma vaca no campo tal, tem uma encomenda na agência de correios local para o seu Zé - tudo isso era noticiado pelos programas (mormente matutinos) das pequenas rádios locais. Ali se sabia e ouvia sobre a safra do milho, dos acontecimentos políticos, das festas regionais, dos rodeios em tal lugar, dos negócios de compra e venda que se ofereciam e dos jogos do futebol colonial, entre outros. Porém, um dos fatos mais importantes noticiados por essas pequenas radiodifusoras eram os falecimentos e os respectivos locais e datas de velório e enterro. Famílias sabiam que o primo distante que morava num rincão mais afastado faleceu pela rádio. Assim, como aquele teu amigo de longa data, que há muito tempo você não o encontrava, havia falecido e o sepultamento iria ser no cemitério tal, numa colônia bem distante, que provavelmente você ainda não havia conhecido. Mas, como no interior, sempre há possibilidade de se fazer alguma brincadeira, a moçada não havia de perder tempo.

Na época em que o atual município de Morro Redondo ainda era parte de Pelotas, nos idos da década de 1980, havia um senhor de origem germânica proprietário de uma bodega em que os borrachos de plantão se reuniam nos fins de tarde para sorver uma pinga. Muito sisudo, o tal alemão era vítima constante das brincadeiras dos clientes locais, que sempre aprontavam "pegadinhas" para ele. Certa ocasião, inventaram que uma fábrica de conservas local iria contratar trabalhadores para a safra do pêssego e propagaram que o local de cadastro iria ser a venda do alemão. Tal qual foi a surpresa do pobre, ao que, num belo dia, ao abrir seu comércio às 6h30min da manhã, observar aquela fila que não tinha fim de supostos "clientes" defronte à porta. Mas, essa foi uma das pilhérias. A principal ainda estava por vir.

A moçada resolveu inventar que o tal vendeiro havia morrido. Lógico, espalhar pela vila que o alemão havia batido as botas não ia adiantar. Resolveram então pagar um anúncio na rádio local, em que o nome do alemão seria apenas mais um entre tantos que semanalmente eram noticiados. Foi então o que aconteceu. Só que a notícia propagou-se e muito. Como a comunidade teuto-descendente é sempre muito unida, principalmente em torno da religião luterana, três ou quatro que ouviram mais afoitamente o comunicado, não tardaram em passar a falsa informação a locais mais distantes. Em questão de uma tarde, o fictício falecimento já era conhecido nos rincões de Canguçu, na zona colonial de Pelotas, nas grotas de Piratini e Pedro Osório e até mesmo em São Leopoldo. Tudo numa comoção muito profunda, os antigos conhecidos e parentes mais distantes já se preparavam para comparecer ao cemitério local cedo da manhã no outro dia - tal qual como havia sido noticiado na rádio. Afinal, o alemão era merecedor das últimas homenagens (risos). 

No outro dia, cedíssimo da manhã, uma movimentação incomum na capela da comunidade luterana do lugar, embora a mesma estivesse fechada. Os viajantes chegavam e se perguntavam: o velório não vai ser aqui? Então deve ser no cemitério. Chegando lá, outro desencontro: nenhum enterro marcado naquele dia. Foi então a tropa até a casa do alemão, que com cara de sono e usando singelos chinelinhos de dedo recebeu-os, causando surpresa e susto aos incautos, sendo que alguns julgaram estar quase vendo um fantasma. 

Confusão esclarecida, a história ainda viveu muito tempo na rodas de conversas da localidade e, o alemão enfurecido, buscava a todo custo saber quem lhe aprontou a sua própria "morte" durante ainda muito tempo.

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