"Importante é observação sobre a naturalidade da população estrangeira: 'Os imigrantes portugueses em Pelotas, na sua grande maioria são provenientes do distrito de Aveiro e sua presença é vislumbrada também pela cultura, onde a 'cidade dos doces' possui como característica marcante destes, à base de ovos, influência presumível da doçaria de Aveiro, com seus famosos 'ovos moles'. Tal influência estende-se pelo nome dos estabelecimentos comerciais e nomes de ruas com motivos aveirenses.
Referem-se, a título elucidativo, nomes de ruas, estabelecimentos comerciais e edifícios que na cidade de Pelotas lembram Portugal:
* Panificadora e Lancheria Aveiro
* Agência de Bicicletas Águeda
* Edifício Vila Nova de Gáia
* Edifício Mondego
* Edifício Coimbra
* Bairro com o nome de 'Recanto de Portugal' onde está localizada a sede campestre do Centro Português e onde todas as ruas possuem nomes de concelhos de Portugal.
(...)
'Muitos são os relatos de imigrantes que justificam suas preferências pelo sul do Brasil e por Pelotas, não só devido a grande concentração de aveirenses, como pelos próprios aspectos geográficos dessa cidade traduzidos sobretudo em idêntica história geológica, dominada por um sistema lagunar onde se inscrevem a 'ria de Aveiro' bem como a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim'.
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'Sobre a situação e traços físicos tem-se que ambas estão localizadas em áreas planas e junto à encosta de zonas mais altas... Localizam-se junto a regiões lagunares... sofrendo, também influências climáticas (clima húmido), pela proximidade da água. Ambas as comunidades estão em uma faixa litoral apresentando formações arenosas e dunas costeiras, com clima subtropical e, portanto, com uma vegetação que se assemelha.'
Do ponto de vista histórico, 'cada comunidade possui aspectos tão próprios que não são comparáveis. Aveiro é milenar e Pelotas centenária... ambas tiveram sempre ideais de liberdade e foram pioneiras no republicanismo'.
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Em Pelotas as duas associações representativas da comunidade portuguesa são a 'Sociedade Portuguesa de Beneficência' e o 'Centro Português 1o. de Dezembro'.
A primeira, fundada em 28 de junho de 1858, já com 350 sócios, sendo uma associação que surgia por desligamento daquela existente em Porto Alegre, ou seja, a uma distância de 250 km de Pelotas e que consequentemente ocasionava dificuldades.
Hoje a Beneficência é uma casa de saúde que funciona como qualquer outro hospital mas sempre ligado à comunidade portuguesa de onde são escolhidos seus dirigentes e dada como preferência, pela mesma comunidade, quando da necessidade de hospitalização. 'Possui 254 sócios ativos (sócios com título e pagamentos mensais), 1708 sócios remidos (sócios com título de pagamento integral), banco de sangue e plano de Saúde Maior. Este último é oferecido e garantido pela própria Beneficência com um total de 11500 pessoas, destes são 1 por centro de portugueses natos e 60 por cento são de descendentes'.
A segunda associação, recreativa e cultural - 'Centro Português 1o. de Dezembro' - é onde se observa com mais objectividade o interesse pelo resgate e preservação das origens lusitanas.
Fundado em 26 de Janeiro de 1926 como resultado da fusão de dois grupos: o 'Congresso Português 1o. de Dezembro' e do 'Grêmio Republicano Português', ambos com ideias divergentes mas que suplantadas as divergências políticas, acabam por unir esforços e fundar o 'Centro Português 1o. de Dezembro'."
Fonte: ARROTEIA, Jorge Carvalho & FISS, Regina Lucia Reis de Sá Britto. Traços da comunidade portuguesa em Pelotas. Artigo de 2006, p. 180-181, 184.
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