Por Fernando Osório
"Vigário de Pelotas. - Preclaro cidadão e venerando sacerdote, pároco querido de Pelotas, amigo extremoso desta cidade, que relembra, com gratidão enternecida, a sua dupla missão cívica e religiosa; nasceu em Taquari, aos 15 de abril de 1843, primogênito do Dr. Antonio José Leal de Siqueira e de D. Vicencia Maria de Jesus Siqueira. Aí fez ele os primeiros estudos, transferindo-se depois para o Seminário Episcopal de Porto Alegre. Antevia-se já a esteira luminosa que ia percorrer o jovem Canabarro que, em 7 de outubro de 1861, embarcava-se para Roma onde chegou a 24 de novembro.
Altamente honrosa para o Brasil foi sua estada no Colégio Pio Latino-Americano. Bem o comprova científica dissertação em que eram contendores o jovem ariano Rampolla, depois cardeal e secretário genial de Leão XIII, e o moço rio-grandense, que devia ser mais tarde vigário de Pelotas. Ali, em 1863, recebeu o grau de bacharel em Filosofia, e em 29 de julho de 1867 o de doutor em Teologia. Em dezembro de 1866 disse sua primeira missa no sepulcro de S. Pedro. Em 28 de setembro de 1867 o esperançoso levita despedia-se de Roma, aportando, a 26 de novembro, às plagas rio-grandenses. Ao partir da academia célebre, o reitor, reunindo os condiscípulos, vaticinou: 'Vedes partir um apóstolo; não o será unicamente para a Religião; a liberdade e sua pátria registrarão também o seu nome entre os seus diletos defensores'. Lúcida profecia! Toda atividade, aspirações - toda a sua vida, Canabarro dedicou à dupla tarefa religiosa e cívica.
Primeiramente pároco da Vila de Gravataí, depois de Uruguaiana e após de Pelotas, coube-lhe pronunciar o discurso inaugural do Colégio Conceição em S. Leopoldo. Pelotas, desde 25 de dezembro de 1873, deveu-lhe grandes momentos, ao crente e ao patriota, aureolado, pela aura popular, como herói da redenção do escravo nesta cidade. Privando com prelados ilustres a que tinha direito mais prezando a honraria de ser pároco de Pelotas que nele venerava um de seus principais ornamentos. Em oração fúnebre eloquente que recitou nas exéquias, em Porto Alegre, de D. Sebastião Laranjeira, disse o Vigário Canabarro: '...Não é a nobreza do sangue nem são as riquezas o que eleva o homem acima de seu semelhante, e sim a virtude e o talento'. Aplicam-se lhe estas palavras.
Era da têmpera dos fortes, austero nos deveres sagrados, coração nobre e generoso, e impertérrito nos deveres cívicos. Di-lo a campanha abolicionista, onde ameaças de morte não o demoveram da missão que se impôs do resgate de seus irmãos cativos, no meio social e na tribuna sagrada! Nunca estremeceu para confessar a sua fé cristã ou política!
Tombou aos 47 anos, o preclaro cidadão e sacerdote, a 8 de dezembro de 1890, de uma comoção, em fatal noite, a bordo de um navio, a cuja amurada ele se precipitou, duas horas antes de sucumbir e febrilmente recuou pedindo a um amigo que o recolhesse à câmara, para responder, passado o acesso: 'Desesperado pela sufocação quis lançar-me na água, mas lembrei-me que era padre e recuei espavorido do suicídio!'
Em vida, conseguiu o Dr. Canabarro, como diz um biógrafo, salvar os seus deveres profissionais, sem comprometer outros igualmente possantes, capazes de os obscurecer ou entibiar em ânimos menos resolutos do que o do saudoso vigário de Pelotas."
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