Escrito por um padre, de cuja biografia pouco se sabe, o livro era dedicado ao rei D. João VI que, em razão da invasão napoleônica em Portugal, transferira toda a Corte para o Brasil, trazendo consigo a Imprensa Régia.
Dividido em dois volumes, a Corografia faz uma descrição de todo o país: relaciona cada Província e, para cada uma, refere as vilas nela existentes. Sua obra divide do território brasileiro em regiões de acordo com as bacias fluviais, utilizando o curso dos rios.
Reproduzimo aqui por sua importância, o trecho entre as páginas 66 e 70.
Montes. — Nesta província não há serras, nem montes de altura considerável:
os maiores ficariam em silêncio em outras províncias, ainda que não fossem
montanhosas. A única serra notável é a Cordilheira, que vem do norte sempre ;i
vista do mar, e no paralelo de 29°% vira para o ocidente, e depois para o
noroeste com algumas tortuosidades, quebrando em muitas partes para dar
passagem a vários rios, como são entre outros menores o Taquari, o Jacuí, o
Uruguai, o Iguaçu, e o Paraná, que nesta paragem forma a correnteza das Sete
Quedas: Serra Geral é o seu nome.
O Monte de S. Martinho, aliás Monte Grande, é uma porção daquela serra
quando divide a província da do Uruguai.
Monte Vídio, ou Vidéu, situado no lado ocidental da baía, a que dá o nome
é vistoso, e o único alto nas vizinhanças do mar.
Castilhos Grande é um outeiro (junto à ponta do seu nome) coroado de
penedos, que parecem torreões.
O Pão de Açúcar está sobre a praia, 4 léguas ao poente de Maldonado: e o
Monte de Santa Luzia pouco a leste do rio deste nome.
A chamada Serra dos Tapes, não passando dum terreno pouco levantado,
corre paralela com a Lagoa dos Patos em distância de 4 até 7 léguas, com 15 de
comprimento norte-sul, e em partes 5 de largura: a do Herval fica mais ao
setentrião por detrás daquela.
Chamam-se Cochilhas as cadeias de colinas de grande extensão com pastagens
para os gados, e sem árvores.
O mencionado Pão de Açúcar é a extremidade meridional da chamada
Cochilha Grande, que se estende para o norte até à origem do Rio Ariçá: é
verdade que em muitas paragens a sua elevação é imperceptível, parecendo
campo: dela partem outras muitas para um, e outro lado alternadamente com os
rios, que também nela principiam. As do lado ocidental são-nos desconhecidas: as
maiores das orientais são: a do Erval, a do Pixatinin nas proximidades dos rios
destes nomes: Babiraqua nas vizinhanças do Camaquã.
Chamam-se Cerros as porções mais elevadas das serras, e cochilhas de forma
circular, pontudas, e destituídas de vegetais, de cujas sumidades se descobre
grande extensão de terreno; e por isto têm servido de atalaias muitos para fazer
sinais nas ocasiões de guerra. Os principais, começando ao longo da Lagoa Mirim,
são: Cerro Largo, entre os rios Chuí e Jaguarão; o Cerre da Vigia, nas vizinhanças
do derradeiro rio; o Cerro Baú, na cochilha grande; o Irajassé próximo
às cabeceiras do Rio Negro; Cerro Pelado, sobre a margem setentrional do Piratini;
o Cerro Bativi, perto da origem do Vacai; Santa Maria, numa ponta da serra
geral, próximo à nascença do Vacaí-mirim; Maria Pinto, em cima da Cochilha
Babiraqua; Cerro Pelado da Encruzilhada, sito nas cabeceiras do Rio Iroí; Vigia
da Encruzilhada, sito em cima da Cochilha Babiraqua, denominada naquele sítio
a Encruzilhada; Cerro de Mateus Simões, à margem do Capivari; Butucaraí, na
margem do rio assim chamado; Monte Alegre, na margem setentrional do Rio
Pardo; Monte Negro, sobre o Rio Caí; Capocaia, em cima doutra ponta da serra
geral, e junto da margem meridional do Rio do Sino; o Itacolomi, pouco distante
daquele na mesma ponta da serra, e vertentes do Arroio dos Ferreiros. De alguns
avistam-se outros em distância de 20 léguas.
Rios e Lagoas. — Quase todas as torrentes desta província saem dela por
dois canais: o Rio Grande de S. Pedro, que deságua no meio da costa oriental, e
o Rio Uruguai, que desemboca no Paraguai. A cochilha grande divide os
confluentes dum e outro.
O Uruguai principia na falda da serra, que se prolonga com o oceano: corre
dilatado espaço ao poente com o nome de Pelotas, quase sempre por entre ribanceiras
de rocha a pique, recolhendo os rios Caveiras, Canoas, Cachorros, e Correntes,
que saem ou da falda, ou da vizinhança da mesma cordilheira, e regam
a parte mais meridional da Província de S. Pedro, designada com o nome de
Campos da Vacaria, que abrangem também a porção desta, que fica de serra
acima. Aqui toma o nome com que acaba; e já caudaloso curva para o sudoeste,
engrossando ainda com outros, que se lhe unem por um e outro lado, entre os
quais se nota o mencionado Pepiri. Na latitude de 29°%, recolhe pela esquerda o
considerável Ibicuí; depois o Mirinaí pela direita, quando já procura o sul; e
ultimamente o Rio Negro pela margem oriental. Descreve muitas tortuosidades,
forma grande número de ilhas, e dá navegação a grandes lanchas até o primeiro
salto grande, que fica obra de 10 léguas abaixo da confluência do Ibicuí: as
canoas sobem até o centro da Vacaria, não sem grande trabalho por causa das
muitas cachoeiras e correntezas.
O Ibicuí nasce nos campos de Iapoguaçu;
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depois de muitas léguas ao poente,
volta ao setentrião por espaço de 25, aumentando consideravelmente com os que
se lhe incorporam por um e outro lado, sendo um deles o Casiqueí: um pouco
abaixo do qual se lhe une o Toropi, que é maior, e vem dos campos da Vacaria
procurando o sudoeste, e traz consigo o Ibicuí-mirim, que se lhe junta pela
esquerda um pouco acima. Nesta confluência, designada pelo nome de ForquiIha,
onde fica mui largo, volta para o ocidente, alargando de cada vez mais, de
sorte que muito acima da sua embocadura já tem 400 braças. Pouco abaixo da
Forquilha se lhe junta pela direita o considerável Jaguari, que vem dos mencionados
campos da Vacaria. Suas beiradas são cobertas de matos, seu álveo tortuoso,
e semeado de ilhas, sua corrente quase sempre tranqüila, e navegável até perto
das cabeceiras dos que o formam.
O Rio Negro tem a sua origem muito próxima à do Ibicuí: corre sempre ao
sudoeste, engrossando com um vasto número de torrentes, e incorpora-se com o
Uruguai 5 léguas antes dele sair no Rio Paraguai, ou da Prata, depois de ter
regado um terreno de 80 léguas, povoado em grande parte de gado vacum.
O seu maior confluente é o Rio Ili, que se lhe une perto de 20 léguas acima
da sua embocadura, depois de 36 léguas de curso leste-oeste por um terreno rico
em criações de gado.
O Rio de Santa Luzia, ao qual dão perto de 40 léguas de curso através dum
terreno fértil, abundante de pastagens, e povoado de gado vacum, e deságua 4
léguas ao poente de Montevidéu, havendo recolhido um pouco acima o Rio de S.
José pela direita, com o qual fica largo e profundo: é navegável, e forma um
porto na embocadura.
O Rio Jacuí (Rio dos Jacus) forma-se na parte ocidental dos Campos da
Vacaria com a união de várias ribeiras, que a regam, e donde sai já considerável.
Poucas léguas depois de ter atravessado a serra geral, vira para leste, descreve
amiudadas reviravoltas por espaço de 30 léguas em linha reta; e de repente volta
para o sul, e vai entrar mui caudaloso, depois de 15 milhas, no lado ocidental da
Lagoa dos Patos, obra de 4 léguas abaixo da sua extremidade setentrional.
Entre outros menores, que o engrossam depois que sai da serra, nomeiam-se
o Vacai, que nasce poucas léguas ao norte do Ibicuí-guaçu e traz consigo o
Vacaí-mirim, cuja origem dista pouco da do Jacuí-mirim. Estes nomes foram-lhes
postos depois que suas margens começaram a ser povoadas de gado vacum. Corre
manso; não tem cachoeiras; sua navegação é fácil. O Irapuã, que traz consigo
grande número de ribeiras quase todas de águas turvas, salobras, e mui frias. Nas
suas margens em muitas partes acha-se uma casta de pedra mole, e negra com
porções brancas como de prata; arde como cepa, e então exala cheiro de enxofre,
ficando em carvão mui leve, que para nada mais presta. O Butucaraí, que vem do
norte, e tem uma ponte. Perto da sua foz está o Passo do Fandango. O Piquiri,
incorporado com o Irai, ou Iroí, que vem do morro partido. O Tubatingaí, que se
8 Iapoguaçu, que, segundo dizem, significa pântano-grande, ocupa um terreno de considerável área cortado
pelo paralelo de trinta e um.
forma entre cerro partido, e a encruzilhada. O Rio Pardo, que vem de serra acima
por entre matos, e não dá navegação por causa da muita penedia do seu leito:
passa-se em ponte. O Capivari, que vem do mencionado morro partido. O Rio
das Antas, formado de várias torrentes, que saem da falda, ou vizinhança da terra
do mar, depois de grande espaço contra o poente, volta para o sul, recolhe o
Tibicoari, ou Taquari, tomando-lhe o nome, e depois de 10 léguas entra no Jacuí,
do qual é o maior tributário. Dá navegação a iates até à confluência, onde perde o
primeiro nome. As terras adjacentes são fertilíssimas: criam formosos pinheiros, e
outras árvores de boa madeira.
O Jacuí (12 léguas abaixo do Taquari), na paragem onde de repente vira
para o sul, toma boa meia légua de largura, formando uma baía, onde recolhe o
Rio Caí, que vem dos campos de cima da serra com mais de 25 léguas de curso
quase ao sul, e dá navegação a iates por espaço de dez; o Rio do Sino, pouco
menor, que nasce em cima da mesma serra mais ao sul, e corre ao sudoeste, navegável
por largo espaço: o Rio Gravataí, que principia na mesma Serra mais ao
sul do precedente, corre ao mesmo rumo, e dá navegação por espaço de 5 léguas.
Também lhe chamam Rio da Aldeia.
Os rios Igarupaí, Daimar, e Gualeguaí são os principais, que entram no
Uruguai pela esquerda entre a boca do Ibicuí, e a do Rio Negro.
O de Maldonado, os dois de Solis pequeno, e grande, desaguam no golfão do
Rio da Prata.
Rio Grande de S. Pedro é o nome do desaguadouro da Lagoa dos Patos, e
poderá ter 3 léguas de comprimento quase norte-sul, e uma de largura. Fica 60
léguas ao nordeste do Cabo de Santa Maria. As terras laterais são mui rasas, sem
árvores, ou edifícios, que o indiquem aos navegantes, os quais só em distância
de 2 léguas com tempo claro distinguem a sua abertura, onde o fluxo e refluxo
raras vezes se move manso. O canal é variável: nenhum navio entra, sem que
venha prático de terra para guiá-lo com uma embarcação de duas proas, em que
vai diante até o porto.
A
Lagoa dos Patos, que tomou o nome duma nação hoje desconhecida, como
dissemos, é a maior do Estado, tendo 45 léguas de comprimento do nordeste ao
sudoeste, paralelamente com a costa, e 10 na maior largura, com fundos para
navios de mediano porte, e alguns baixos perigosos. Suas águas são salgadas na
parte meridional; as margens geralmente rasas .É o receptáculo de quase todas as
torrentes, que regam a parte setentrional e oriental da província, e cujos canais
principais são a boca do Jacuí ao norte, e a do Rio de S. Gonçalo ao sui.
A Lagoa Mirim, que quer dizer pequena, comparativamente àqueloutra,
sendo de 26 léguas de comprimento com 7 para 8 na maior largura, está também
prolongada com a costa, e deságua para a dos Patos por um canal de 14 de
comprido, largo, vistoso, e navegável, que é o mencionado Rio de S. Gonçalo.
O Rio Saboiati, depois de ter recolhido outros muitos, deságua caudaloso
perto da extremidade meridional da Lagoa Mirim, e dá navegação por muitas
léguas.
O Rio Ohuí, que não é considerável, desemboca quase no meio da mesma
lagoa: e mais ao norte o Jaguaron, que principia perto da Lagoa Formosa, dão-lhe
25 léguas de curso, e 5 ou 6 de navegação.
O Rio Piratini, que tem sua origem na vizinhança da Lagoa Formosa, desemboca
no meio do de S. Gonçalo depois de 30 léguas de curso, e dá navegação por
espaço de 10 milhas.
O Rio de Pelotas nasce na Serra dos Tapes, une-se ao de S. Gonçalo junto à
sua embocadura, e dá navegação a iates por 4 até 5 léguas. Dele toma 'nome a
formosa enseada, onde desemboca o que o recolhe.
"Passando a boca do Rio de S. Gonçalo, o primeiro que se encontra é o
Contagem, que poderá ter 14 léguas de extensão: o segundo é o Correntes: o
terceiro o Canguçu, navegável por algumas léguas: o quarto corre com o nome
de 5. Lourenço: o quinto, denominado Boqueirão, menor que todos, vem como
eles da Serra dos Tapes."
"Acima do Boqueirão, no meio da Lagoa dos Patos, deságua o Camapuã por
cinco bocas formadas por quatro ilhas, das quais a maior tem meia légua de
circuito. Vem da Cochilha grande com mais de 30 léguas de curso rápido por
entre serrotes de penedia, e só dá navegação a iates por distância de 4 léguas,
sendo para cima cheio de cachoeiras. Pelo lado meridional recolhe catorze
torrentes, das quais algumas têm mais de 10 léguas de extensão e pelo setentrional
150 sem que nenhuma passe de cinco. As meridionais, começando na foz do que
as recebe, são: a do Pereira, que principia nas Serras dos Tapes; a do Cardoso; a
do Evaristo; a do Meireles; o Sapata, aliás Caraí, que vem da mesma serra; o
Arroio das pedras, que principia perto do sítio chamado Igatimi; o do Almeida; o
Arroio-grande, o Velhaco, que principia na Cochilha-grande, junto do Cerro Baí,
e corre por sítios fragosos: o do Fagundes, que corre 5 léguas por entre rochedos
com muitos saltos: o do Rodrigues, que foge despenhado, e espumoso por
penedias; o Arroio da palma, que é considerável, sereno, piscoso, e navegado por
embarcações menores: as capivaras andam pelas suas margens em rebanhos de
60, e 100: o Camaeuã-Chico, também vagoroso, e recolhe entre outros um
ohamado Tigre. As terras adjacentes são campinas aprazíveis, e férteis em trigo".
Passando a foz do Camapuã para o norte, encontra-se a do Daro, ou Duro,
que corre por campinas sem ribanceiras, nem mato nas suas margens, e forma
algumas lagoas: depois o Velhaco, que corre apressado por entre matos: adiante
o Passo-grande, vagaroso com matos pelas margens.
Subindo pelo Jacuí acima até Porto Alegre, encontram-se à esquerda o Araçá,
que principia na ponta da Serra do Erval; o de Antônio Alves, que 3 léguas acima
da sua foz recolhe o Doudarilho, e dá navegação a iates.
Na extremidade setentrional da Lagoa dos Patos deságua o Rio dos Palmares,
que principia nos campos vizinhos ao Tramandali.
Três léguas ao poente corre o Capivari, que só é corrente no inverno,
enquanto a Lagoa da Serra, aliás dos Barros, recolhe as águas de vários regatos,
sendo dela o desaguadouro. Esta lagoa, que poderá ter 5 léguas de comprimento,
e 1 até 2 de largura, fica paralela com a Cordilheira. As numerosas capivaras,
que povoam suas margens, lhe deram o nome. O terreno atravessado por estes
rios é plano, de areia fina, e em grande parte alagadiço; mas cria erva, mato, e
plantações.
Ao longo da costa, que corre do Cabo de Santa Maria até Castilhos-pequeno,
há várias lagoas na proximidade do mar .
A Lagoa da Mangueira, que tem 23 léguas de comprido, e quase sempre uma
de largo, está prolongada no intervalo, que medeia entre a costa e a Lagoa Mirim,
para onde deságua na extremidade setentrional por um esgotadouro chamado
Arroio Taim. Ao norte dele está a Lagoa Cajuba, com 6 milhas de comprimento.
Na península, que medeia entre a costa e a Lagoa dos Patos, e cuja largura é de 2
até 6 léguas, há grande número de lagoas ordinariamente pequenas, das quais umas
deságuam para aqueloutra, as mais para o Oceano. Entre as que se escoam para o
poente, nota-se (na parte meridional) a das capivaras, na qual deságua um arroio,
de água pura e limpa, que rebenta com força admirável, e é a melhor fonte da
península, que todavia não é falta de águas potáveis. No lado oriental nota-se a
Lagoa de Mostardas, mais conhecida pelo nome de Lagoa do Peixe, com 9
léguas de comprimento, pouca largura, 5 até 8 palmos de fundo, prolongada com
o mar, para onde deságua por um sangradouro, que a natureza abre, e entope
anualmente, pelo qual entra imensidade de várias espécies de pescado sendo a
mais numerosa a denominada Miragaia com figura de bacalhau. Com esta
mesma se comunicam várias outras, que ficam ao norte encadeadas por seus
desaguadouros. Perto da derradeira, que termina não longe de Barros-vermelhos,
começa outra cadeia semelhante, em pouca distância da praia, e com ela prolongada
por espaço de 25 léguas ao menos. Em um dos Mss. que nos socorrem,
acha-se: "de Barros-vermelhos a pouca distância para a banda do mar há uma
lagoa pequena, que tem seu desaguadouro em outra maior que acaba nos capões
do Retuvado, distante uma légua, e tem seu sangradouro em outra que acaba daí
légua e meia. Adiante há duas lagoas emparelhadas; e mais adiante outra junto
ao Capão do Xavier em distância de duas léguas, a qual deságua noutra maior
chamada da Charqueada por terminar no sítio deste nome; e tem seu sangradouro
em outra pequena, que deságua para outra igual, e esta em outra maior, que acaba
no Capão das»Taquaras. A última deságua na do Quintão, que é grande, e sangra-se
na da Cidreira, que é dividida em três sacos ou lagos comunicados por gargantas,
ou sangradouros grandes, ocupando uma extensão de 4 léguas e meia. Esta da
Cidreira tem um canal de duas milhas de comprimento para a dos campos do
Ribeiro, que termina junto ao passo do arroio, o qual é o seu sangradouro para o
Rio Tramandaí."
O Rio Tramandaí, ao qual Pimentel chama Taramandabu, e que se acha na
latitude de 30°, tem poucas léguas de curso, não sendo mais que o desaguadouro
dum grande número de lagoas, em que se esgotam os extensos campos, que
medeiam entre a praia e a cordilheira. Nele deságua também o mais meridional
doutra cadeia de lagos, que se estende ao longo da mesma cordilheira para o
setentrião até bem perto do Rio Mambituba, em cuja foz há um destacamento
para registrar os que entram ou saem da Província.
A mencionada península, formada pela Lagoa dos Patos com o Oceano, é
de terreno raso com um pequeno albardão
8 pelo meio; e sendo quase em linha
reta pelo oriente, forma várias pontas, enseadas no lado contrário. Entre as
primeiras notam-se (começando pelo sul) a Ponta do Mandanha, onde se hão
achado vestígio duma povoação, e cemitério de indígenas: depois a ponta rasa.
Entre elas deságua a mencionada Lagoa das Capivaras. A do estreito. Na enseada
média chamada Barranca, e que é o melhor abrigo desta lagoa para todas as
embarcações, deságuam alguns arroios, em um dos quais entram canoas, em
outros lanchas. A de Bujuru, 6 léguas mais ao norte. Na enseada média, e do
mesmo apelido, desemboca um arroio abundante, que forma uma ilhota na barra.
A de Cristóvão Pereira, 6 léguas mais adiante. Na enseada, que lhe fica ao sul, há
dois volumosos montes de casca de mariscos, os quais provam quanto cs indígenas
usavam deste alimento. A ponta, e Enseada da Caeira istão mais ao norte, e são
as derradeiras notáveis. É terreno geralmente muito arenoso; mas tem-se achado
barro debaixo da areia em partes; o que prova que a península não é formada
pelas areias do mar, mas sim que estas hão coberto o terreno antigo.
Por entre a Lagoa Mirim, e a da Mangueira desce com muitas léguas de
curso o Arroio Chuí, que sai ao oceano defronte da extremidade meridional da
primeira.