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terça-feira, 12 de setembro de 2017

A estância no Rio Grande do Sul

Fonte: MACEDO, Francisco Riopardense de. Arquitetura luso-brasileira. In: WEIMER, Günther (org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987, p. 76-78.

"(...) Estância, era a instalação rural dedicada à pecuária onde vivia a família do grande proprietário de terra, seus escravos e alguns trabalhadores livres. A apropriação de grandes áreas, feitas pelo sistema de concessão de sesmarias aos que tivessem reunido ponderável quantidade de gado alçado, criou verdadeiros feudos que tiveram efetiva importância na conservação do território para a coroa portuguesa, o que, afinal, era o verdadeiro sentido de tais concessões.

Grande parte destas estâncias se constituíram, até a metade do século passado, pela soma de sesmarias pedidas e concedidas a vários membros de uma mesma família. Algumas delas compreendiam dois ou três municípios atuais, reunindo milhares de cabeças de gado.

Sendo, pois, muito grande a distância entre elas e poucas as cidades que pontilhavam a região o movimento de escravos e livres em cada uma deveria ser muito grande para garantir certa autonomia produtiva, um auto-abastecimento. Para tanto, cada uma possuía, no mínimo, as seguintes instalações:
- sobrado, residência da família
- capela
- atafona, engenho de farinha de mandioca
- tulha, depósito de grãos e verduras
- casa do charque
- pomar
- jardim
- depósito geral, máquinas e ferramentas
- área de serviços gerais e circulação
- senzala.

Todos estes prédios, alguns com mais importância numa do que em outra estância, foram constantes naquelas instalações rurais, pois estavam relacionados não só com o abastecimento como a elaboração de produtos que, em maior ou menor grau, viriam a se constituir em mercadorias. Um deles, era a atafona, primeira instalação industrial para o fabrico da farinha e derivados. Nela se fabricava o polvilho para roscas e para engomar golas, rendas e punhos de camisa. Com a farinha era feito o pirão para o churrasco de charque, a massa curativa para emplastro e o grude comum usado como adesivo. Outra instalação importante foi a casa de charque, necessária para prolongar a duração da carne que serviria para o consumo entre duas carneações, para o comércio próximo e para a alimentação de tropeiros nas longas viagens de transporte de gado. Uma terceira instalação, a senzala, era raramente citada nos documentos por ser de construção modesta e pouco durável, mas que em algumas estâncias tiveram posição e resistência tais que até hoje encontramos seus vestígios. As estâncias maiores dispunham, ainda, de uma capela separada dos outros blocos, consagrada formalmente pelo vigário mais próximo e cuidada pela família, que nela assistia aos ofícios e recebia os sacramentos.

Entre estes blocos e os muros que os ligavam, havia um conjunto de áreas abertas que se constituíram para finalidades diversas. São mais frequentes: o pátio de serviço, que relacionava a senzala com a atafona; o pátio íntimo, com seu pomar e o pequeno jardim, ao lado da casa e próximo à fachada. Esta disposição dos pátios sofreu pequenas variações de uma para outra estância e se compreende que assim fosse em virtude da maior ou menor importância das duas instalações básicas: a atafona e a casa do charque, as quais solicitariam circulações diferentes."

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