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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Barão de Santa Tecla


Trecho extraído de: KREMER, Azambuja. Benfeitores de Pelotas. IN: ETCHEVERRY, José Vieira. Coleção "Cadernos de Pelotas". Pelotas, 1996, número 26, edição datilografada, p. 65-67.

"JOAQUIM DA SILVA TAVARES
Barão de Santa Tecla

Nosso biografado, apesar de não ser filho de Pelotas, pelos relevantes serviços prestados à comunidade local, conquistou méritos a fim de tornar-se um dos tantos benfeitores de Pelotas.

O senhor Joaquim da Silva Tavares nasceu na cidade do Herval (na época Freguesia do Herval), a 28 de novembro de 1830. Seus pais eram João da Silva Tavares e dona Umbelina Nunes da Silva Tavares. Seu pai foi agraciado com o título de Visconde de Cerro Alegre, sendo chefe legalista na grande Revolução (Guerra dos Farrapos), deixando tradições gloriosas para a Pátria.

CHARQUEADOR - Nosso biografado galgou, degrau por degrau, a escada de Industrialista, conquistando, no viver honesto, um nome honrado e exemplar, como importante proprietário de uma charqueada na Princesa do Sul. Sua dedicação ao trabalho era por demais reconhecida e comentada, não só pelo povo em geral como também por seus concorrentes de suas atividades profissionais (charqueadores).

A 15 de maio de 1857, consorciou-se com dona Amélia Gomes de Mello. Ampliando a esfera de sua ação, veio a tornar-se criador na cidade de Bagé. Isso aconteceu nas estâncias de Pirahy, prolongando-se até a estância do Cerro Alegre. A indústria pelotense encontrou nele, sempre, inteiro apoio, batalhando ao lado dos beneméritos desta terra, pela desobstrução da barra do São Gonçalo. Como chefe de família, revelou a sensibilidade de um coração generoso e compreensivo. Como homem político, grande foi a respeitabilidade do seu nome, inicialmente como soldado do Partido Conservador, posteriormente como chefe combatente, que soube lançar mão dos meios justos e probos, cativando muitíssimas simpatias.

PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO - Em 30 de janeiro de 1886 foi agraciado com o título de Barão de Santa Tecla. Em 11 de julho de 1888, foi nomeado vice-presidente da Província de São Pedro (atual Estado do Rio Grande do Sul), conforme carta imperial. A 6 de agosto de 1888, assumiu a presidência da Província de São Pedro, tendo desempenhado a referida função até 8 de dezembro de 1888.

Surgiu o ano de 1889 e com ele viriam a acontecer grandes transformações na vida política de nosso país.

MONARQUIA SUPERADA - Em 15 de novembro de 1889, um ano após a queda da triste exploração que fazia a raça negra, o regime monárquico encontrava-se sem forças e quase sem apoio do povo. A única imagem, figura e ainda símbolo de respeito era a inconfundível pessoa chamada Dom Pedro II. Este foi um dos grandes brasileiros, porém, o regime era por demais arcaico.

Gostaria que, com a proclamação da República, tivéssemos a sorte de termos Dom Pedro II como presidente de nosso país. Bem, mas, voltando à biografia do Barão de Santa Tecla, devo relatar que, na época da Proclamação da República, foi nosso biografado um dos fundadores do grêmio político União Liberal. que manteve nesta cidade a folha diária 'O Nacional', órgão do partido originário da fusão entre conservadores e liberais.

REVOLUÇÃO - Muito se empenhou, na Revolução Federalista de 1893, junto a seu irmão, o qual era comandante das forças em Bagé, para a deposição das armas, envidando esforços no decorrer desta guerra civil, pela pacificação do Estado.

O Barão foi preso durante seis meses, no período violento da revolta da esquadra contra Floriano Peixoto, tendo recebido a distinção de ser transferido da Casa de Correção para o Quartel General do Exército, sem que a isso tivesse direito.

ASILO - No século passado, por volta da década de 70, aumentou o número de mendigos, muitos com idade já bem avançada.

Para acolher estas sofredoras pessoas teria de ser criado um estabelecimento o qual deveria ser erguido por nossa generosa população. A ideia foi lançada e já em 1882 era fundado o Asilo de Mendigos e em seguida a diretoria da entidade, após estudos, opinou pela compra de uma chácara que pertencia ao Barão de Santa Tecla (local onde encontra-se atualmente o Asilo de Mendigos). Após a avaliação feita pelos dirigentes do Asilo, o Barão, num gesto de grande caridade, apenas aceitou a metade da importância oferecida; a outra metade do terreno ele doou a esta benemérita entidade. Portanto, a metade de todo o terreno que faz parte de nosso Asilo de Mendigos foi uma bendita doação do senhor Joaquim da Silva Tavares. Devido sua generosidade, foi agraciado pela diretoria do Asilo de Mendigos com o honroso título de Grande Benfeitor.

Na Santa Casa de Misericórdia, o Barão de Santa Tecla muito ajudou com seu trabalho, desempenhando o cargo de mordomo, vários anos, tendo estendido seu auxílio, também na parte financeira, doando parte do terreno hoje pertencente a citada benemérita entidade.

MORTE - O Barão de Santa Tecla veio a falecer no dia 17 de novembro de 1901, faltando poucos dias para completar seus 71 anos, o que lastimavelmente não veio a se realizar, porém seus hábitos e costumes e também suas atitudes ficaram em forma marcante na história de nossa gente.

Em justa homenagem pelos relevantes serviços prestados ao nosso povo, na localidade do Capão do Leão (antigo distrito de Pelotas) os habitantes e veranistas, onde o Barão tinha uma estância, erigiram uma capela, tendo anexa uma aula sob a invocação de Santa Tecla, para cuja edificação concorreu a Baronesa de Santa Tecla, com o terreno necessário juntamente com a soma de 10 contos de réis.

RUA - Na cidade de Pelotas, a rua Paysandú, noutra justa homenagem ao nosso biografado, passou a chamar-se rua Barão de Santa Tecla.

Eis, senhores, algumas das virtudes do senhor Joaquim da Silva Tavares, no passado agraciado com o título de Barão de Santa Tecla e atualmente com o de Benfeitor de Pelotas." 



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