Entrevista com a Sra. Hermelina Camacho de Corrêa
Realizada pelo autor em 12-03-2004
Referência: a entrevistada possui 102 anos, mora no interior do município e sabe alguns detalhes sobre a presença de irlandeses na região de Pelotas
"A senhora lembra-se que a senhora comentou que o seu pai contava de uma gente estranha que ele conheceu e que era da colônia de Pelotas?
Sim. Era uns alemães...não, não era alemão. Era um pessoal que vendia manteiga no Mercado Público. Papai comprava fumo e banha lá. Papai contava que tinha umas pessoas estranhas que iam lá e vendiam manteiga e outras coisas.
Dona Hermelina, seu pai sabia dizer se eram estrangeiros? Dizia se eram alemães ou italianos? Dizia de onde eram, digo, de qual colônia ou região?
Moço, papai contava para nós o seguinte: era um pessoal estranho que vendia manteiga no Mercado Público e que ele nunca tinha visto antes. Ele encontrou com eles algumas vezes, pelo que me lembro, mas quando era mais novinho. Papai trabalhou muito tempo levando burras para o Boqueirão e passava por Pelotas. Depois papai morou num monte de lugar e fazia um monte de coisa para sobreviver. Mas lembro que papai falava sempre do Mercado Público de Pelotas e nos dizia dessa gente. Ele dizia que eram uns ruivos que falava uma língua que ninguém entendia. Isso que ele dizia.
Mas o seu pai não foi morar em Jaguarão depois?
Não. Papai conheceu mamãe por aqui mesmo. Ela que veio de Jaguarão. Papai morou em um monte de lugar, mas não foi para Jaguarão. Papai colocava a gente no meio da sala e ficava contando um monte de histórias da época dele. Ele disse até da revolução, sabe?! Da revolução aquela. Papai falava muito da revolução. Falava dos degolados. Papai era um homem muito forte também.
(...)
Dona Hermelina, mas voltando à questão dos ruivos ou da gente estranha que seu pai falava, ele não sabia dizer então se eram colonos? Se era gente da colônia alemã? A senhora me comentou que várias vezes vocês iam nos bailes da colônia "para fora" e que tinha muito alemão?
Meu filho, papai falava e xingava em alemão. Ele trabalhou com tanto alemão na colônia que aprendeu. Esse pessoal dos 'alemão' gostava muito do papai, porque ele era um homem forte que não...como se diz...repunava serviço. Papai cortava muita lenha nos matos. Eles faziam aqueles almoços grandes e convidavam papai e também davam uns tarros de leite para ele. Mas papai dizia que essa gente, os ruivos, ele nunca tinha visto igual.
Seriam de outra procedência, então?
Eu não me lembro muito, mas sei de uma história que o papai contava. Tinha um alemão, o Walter que botou uma casa de comércio em Pelotas, mas falava que nem nós o 'brasileiro'. Ele era muito amigo do papai. Do Walter eu me lembro quando era mocinha ainda. Pois é, daí papai dizia que uma vez essa gente chegou na venda do Walter e o Walter foi falar alemão com eles e não adiantou. Daí o Walter foi tentar falar pomerano e também não adiantou. Mas igual parece que se entenderam misturando 'brasileiro' na conversa. O Walter sabia de onde era esse pessoal. Mas eu não sei de onde era esse pessoal. Quem sabe o senhor conversa com a Simone. A Simone do Nico, é neta do Walter (nota: informação inconclusa).
(...)"
Obs.: a entrevista obviamente foi "polida" na ortografia e concordância gramatical. (Nota minha de 2009)
Obs.: os trechos separados dizem respeito ao tema anunciado no início do artigo, pois partes da entrevista possuem detalhes íntimos e não diretamente relacionados. (Nota atual na publicação desta postagem).
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