Os três distritos (Pavão, Passo das Pedras e Hidráulica) que compõem a zona rural de Capão do Leão são muito antigos e remontam à época das sesmarias e das tropeadas. Aliás, a área do município sempre se caracterizou por uma destacada atividade agropecuária, desde os seus primórdios.
Boquête: trata-se de um corredor próximo à Capela da Buena. O nome advém de uma passagem estreita entre dois morros. O “Boquête” ou “Capão do Boquête” já aparece listado em 1785.
Canto Grande: a localidade já aparece descrita em 1830. O nome evidencia a característica geográfica: um “canto de terras” entre os arroios Palma e Itaita. Atualmente, apresenta economia baseada na pecuária leiteira, avicultura, soja, milho e arroz.
Cerro das Almas: existem várias teorias para explicar o nome do morro que dá nome ao local. Argumenta-se que ali eram mortos escravos negros no século XIX. Outra explicação sustenta que ali houve uma batalha com grande número de mortos, na época farroupilha. Inclusive já se teria achado uma espada na encosta do morro. Há relatos também que dão conta de um ataque a fugitivos na Revolução Federalista de 1893 ou na Revolução de 1923. Diferente versão informa a respeito de um cemitério indígena no cerro. Misturam-se aí lendas e histórias de ouro enterrado e grutas mal-assombradas. O fato é que o Cerro (ou Morro) das Almas aparece descrito e identificado no final do século XVIII, com clareza. Um obscuro historiador pelotense escreveu que o Cerro das Almas teria recebido este nome em função de ali ter ocorrido um massacre de fugitivos portugueses, quando da invasão de Rio Grande pelos espanhóis (1763). Uma patrulha castelhana os teria perseguido desde o litoral, entrando “sertão adentro” e os encontrando no morro, onde ocorreu a tragédia. É a localidade rural mais próxima da zona urbana e, atualmente, apresenta uma economia sustentada pela pecuária de leite e plantações de milho, além de outras pequenas culturas.
Coxilha Florida: uma das explicações que pode sustentar a existência de localidades como Coxilha Florida, Canto Grande, Boquête e Passo da Eira é que todas surgiram em função de antigas rotas de tropeiros. Só que, comumente, aplica-se a idéia de que todas as tropas de gado que passavam em nosso atual território direcionavam-se à Pelotas. É importante considerar, contudo, que algumas estâncias do Pavão também foram charqueadas, além de terem sido redutos de gado para engorda. Por isso, havia rotas que levavam o gado proveniente do norte ou do oeste para estas estâncias. Se observarmos, as localidades citadas perfazem um conjunto de pequenas vias conducentes ao Passo das Pedras e, deste, ao Pavão. A Coxilha Florida é uma área na qual carecem maiores informações históricas.
Figueirinhas: está situada no distrito da Hidráulica. O nome provém de um agrupamento de figueiras existentes no local que, segundo dizem, eram ponto de parada para tropeiros. Na década de 1940, a Igreja Católica comprou uma propriedade no local para utilizá-la como chácara do seminário diocesano. É localidade pequena, com economia baseada no minifúndio.
Hidráulica: o distrito recebe este nome em razão de, em 1873, ter sido ali construída a “Companhia Hydraulica Pelotense”, que capta água do Arroio Moreira para abastecimento da cidade vizinha. Zona limítrofe aos municípios de Morro Redondo e Pelotas, concentra o maior número de médias e pequenas propriedades do Capão do Leão, muitas voltadas à fruticultura e a produção de hortaliças. A Estrada da Hidráulica originou-se de um antigo caminho de tropeiros que se estabeleceu na região por volta da década de 1870.
Passo das Pedras: área do município de inquestionável valor histórico, com diferentes localidades e grandes extensões de terra. O Passo das Pedras já era conhecido antes do Tratado de Santo Ildefonso (1777), por isso é provável que desde aquela época ali passassem tropas de gado rumo à Pelotas. Cartas da época farroupilha dão conta do transporte de couros bovinos e apontam o lugar como paragem de tropeiros. Inúmeras vendas e repartições retalharam a área no decorrer das décadas, que inicialmente pertencia em quase sua totalidade à Família Barboza de Menezes. No final do século XIX, foi erguida uma estação ferroviária no local e ocorrera a visita da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Também desta época, acusa-se a existência do Sanatório Passo das Pedras, de propriedade de Antônio Ribeiro Tacques. Espécie de hospedaria de perfil campestre, procurada por pessoas que precisavam tratar problemas respiratórios, possuindo benfeitorias diversas, pomares e passeio eqüestre. Na década de 1920, o político Assis Brasil veio a possuir estância no local. Atualmente, apresenta produção agropecuária diversa, com ênfase à criação de bovinos, equinos e ovinos.
Passo do Descanso: localizado entre o Passo das Pedras e o Cerro das Almas, o nome parece ter origem na antiga Estância do Descanso, ainda hoje existente. Tal propriedade teria servido de abrigo para tropas farroupilhas na época da revolução, bem como ponto de parada de tropeiros, daí o nome “Descanso” (isto é, das tropas). Alguns estudos de pesquisadores independentes têm apontado o local com grande valor arqueológico, possuindo este antigas trilhas de mato, currais centenários e restos de aldeamentos indígenas. Nesta região também, comenta-se a respeito de uma pedra com inscrições, até hoje não encontrada, mas que remontaria à época dos jesuítas (sic). Foram encontrados registros da localidade nos anos de 1851 e 1877.
Passo do Ricardo: localizado junto ao Rio Piratini, adjacente ao Pavão, seu nome provém de um antigo tropeiro que teria estabelecido ali rancho de moradia na época das sesmarias. Foi passagem de tropas de gado durante o período das charqueadas. Em meados do século XIX, cita-se “a antiga estrada do Capão do Leão que vai pelo Passo do Ricardo”. Atualmente, existem algumas pequenas propriedades na área, direcionadas à pecuária leiteira e ao cultivo da melancia.
Pavão: remonta à antiga sesmaria do Pavão, que era imensa e ocupava mais da metade da área do atual município. O nome já aparece em mapas espanhóis antigos com a denominação “Serranías Del Pabón”, em meados do século XVIII. O termo “pavão” designa um tipo de ave encontrada nos banhados típicos daquela região que, obviamente, não é o pavão europeu verdadeiro. A área foi sede de charqueada importante no século XIX, bem como de grandes rebanhos de gado bovino, eqüino e muar. Há fazendas históricas e centenárias no distrito, que merecem um estudo particular cada. Em especial, a Fazenda da Gruta, da Sra. Antonia Berchon Sampaio – que, entre outros fatos importantes, serviu como locação às cenas do filme “Negrinho do Pastoreio”, de 1973. Atualmente, além das pecuárias de leite e corte, o Pavão apresenta as culturas de arroz e soja com destaque.
Fantástico! Parabéns!
ResponderExcluirMuito boa a descrição do Cerro das Almas. Parabéns!
ResponderExcluirO nome Boquet, (ou Boquete) é sobrenome de alguma família de imigrantes que viveu lá? Sabes a origem? Tenho propriedade nesse "corredor" e tenho curiosidade de saber a origem da denominação.
ResponderExcluirMeu avô morador do local, me informou que se trata da forma do primeiro serro ter a forma de um bouquet de pedras e foi dado por uma senhora pela insistência do seu marido querer utilizar o terreno muito acidentado. "Bouquet de Pedras" Mas os moradores com a dificuldade em pronunciar a palavra francesa o chamavam de Boquete.
ExcluirSegundo meu tio avô, Jaci B. Vasconcelos (1919 - 2019) morador do local, o nome foi dado por uma das primeiros moradoras, "Bouquet de Pedras" por ser um morro muito pedregoso ideal para criação de cabras e ovelhas. Por ser um termo francês, é mais conhecido por boquete.
ExcluirBoquete era a denominação dada a uma pequena abertura entre dois morros, como uma passagem, isto é, uma "pequena boca".
ResponderExcluirIvani Almeida- Gostaria de saber , como chegar em Passo da Eira,, estou em Rio Grande/RS. minha mãe nasceu neste lugar e gostaria de conhecer este lugar.
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