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sábado, 5 de abril de 2008

A Melancia no Capão do Leão


“Aqui, conseguimos produzir 20 dias mais cedo do que nas demais lavouras, o clima é mais quente do que os outros municípios.”(De um produtor do Pavão que planta a melancia há cerca de 32 anos)

Embora o Capão do Leão tenha se notabilizado no passado (1ª. metade do século XX) devido à fruticultura, a melancia não figurava entre as espécies vegetais cultivadas no então distrito à época. Somente várias décadas após, já próximo de tornar-se município, é que o Capão do Leão começou a apresentar a melancia como uma de suas principais culturas agrícolas. Não se pode precisar com exatidão quando a melancia foi introduzida em terras leonenses, todavia tudo indica que foi a partir da década de 1950.
Dos fatores que levaram que vários agricultores passassem a plantar a melancia, alguns aparecessem em destaque: o clima do Capão do Leão é mais quente nos meses da primavera e do verão, em comparação com outros municípios da Zona Sul. Daí as plantações leonenses apresentarem uma precocidade maior. Condições de solo também propiciaram vantagens para a produção de melancia no Município. Porém, talvez tenha sido um motivo econômico que possibilitou que a melancia se tornasse uma fruta-símbolo de nossa terra.
A partir da década de 1970, agricultores que viviam do cultivo de frutas para a indústria conserveira local começaram a sofrer com os baixos preços de mercado oferecidos pelo produto. Isso foi particularmente observado no caso do pêssego. Para que se compreenda: como a produção de pêssego da Zona Sul normalmente se direcionava a agroindústria, esta fixava ano a ano os preços pagos ao agricultor. Bem, o produtor poderia então optar por vender o pêssego in natura, assim conseguiria um rendimento mais considerável do que ficar preso à necessidade de vender para indústria. Só que isso era uma loteria. Primeiramente, porque o valor pago em feiras e mercados poderia ser até bem mais baixo do que o pago pelas indústrias, sobretudo, se vários produtores optassem por este caminho. Em seguida, o não-aproveitamento imediato da produção, acarretava perdas causadas pelo transporte e pela estocagem. O leitor visualize o seguinte: é mais fácil tu venderes uma tonelada de pêssego diretamente a uma indústria de compotas, por exemplo, do que teres que vender a mesma quantidade em feiras e mercados do produto in natura. Aliás, o que acontecia com o pêssego, também tinha reflexos em outras culturas como o figo e o morango. Que solução poderia amenizar os problemas econômicos enfrentados pelos agricultores da região? Alguns optaram pelo fumo, porém muitos passaram a ver a melancia como uma interessante alternativa econômica.
De certa maneira rústica, rentável, sem interesse agroindustrial imediato, a melancia só podia ser vendida in natura. Os preços então eram regulados pelos próprios produtores e compradores. A partir daí, entra em cena um outro tipo de personagem histórico: o carroceiro. Foi graças a este que a melancia leonense popularizou-se como sinônimo de qualidade e sabor. Era comum observar nas décadas de 1970 e 1980, carroças atulhadas de melancia que tomavam o rumo do Fragata, via Estrada do Jardim América, em direção à Pelotas. Lá percorriam bairros e vilas vendendo a fruta.
Atualmente no nosso município a principal variedade plantada é a Crimson Swift. Destacam-se as famílias Marini e Camelato como os produtores mais antigos.

A Melancia


Seguramente, temos conhecimento que a melancia, se não é a fruta mais consumida do mundo, está entre aquelas que melhor se adaptaram ao paladar de inúmeros povos e culturas ao redor do planeta.”
(The Dictionary of American Food & Drink)

A melancia – fruto da melancieira (Citrillus vulgaris, Schrad) – é um dos frutos mais populares do mundo, sendo consumida e cultivada em várias regiões do planeta. Não se sabe desde quando a melancia faz parte da dieta humana, porém remonta a tempos pré-históricos. Agrônomos ingleses identificaram sua possível origem na região do Deserto do Kalahari, na África. A melancia tal como se conhece seria resultado da domesticação de uma espécie de fruta selvagem comum naquele local: a Tsamma (Citrillus lanatus var citroides). Os primeiros registros históricos do cultivo da melancia datam de 3.000 a.C. no Egito Antigo, onde era considerada preciosa entre o povo, sobretudo por sua capacidade de armazenar água, qualidade mais do que óbvia numa região desértica. Na mitologia egípcia, a melancia era apreciada como uma dádiva, tanto que se supunha que fosse resultado da aspersão do sêmen do deus Set sobre a terra. Em tumbas de faraós, arqueólogos encontraram sementes de melancia e descobriu-se que isso era feito conforme a crença que a fruta serviria para alimentar o defunto no além-túmulo. Ainda na Antigüidade, a melancia transpôs a África e chegou à Ásia, percorrendo todo o continente, da Palestina ao Japão. Em qualquer lugar que fosse introduzida, logo adquiria grande aceitação por parte das populações nativas. Ao chegar à China, por volta do século X de nossa era, seu cultivo expandiu-se tão rapidamente, que este país foi considerado a pátria da origem da fruta, dado a grande quantidade de produção de melancia. Mesmo sendo esta uma hipótese totalmente incorreta, atualmente este país é o maior produtor mundial de melancia. Por volta do século XIII, os árabes introduziram a fruta na Europa, onde foi primeiramente conhecida como “melão-d’água”.
No século XVI, a melancia chegou às Américas, fato que inúmeros historiadores apontam como causa sementes que foram levadas por escravos africanos em navios. No Brasil, as primeiras plantações de melancia datam do século XVI. Cultivada inicialmente na Bahia, foi trazida para as capitanias do sul da colônia (São Paulo e Rio de Janeiro) no século XVIII durante o ciclo da mineração. O caráter de alimento popular nunca se perdeu e era comum observar nas feiras de interior grandes amontoados de melancia vendidos a preços módicos. Muito embora, somente no início do século XX, devido ao trabalho pioneiro dos imigrantes japoneses em São Paulo, esta cultura agrícola adquiriu uma produção essencialmente comercial, ultrapassando os limites da mera subsistência ou de um pequeno mercado local.
No Rio Grande do Sul, a melancia é conhecida e consumida desde os primeiros tempos da colonização, estando muito bem documentado tal fato no conto de João Simões Lopes Neto: “Melancia e Coco Verde”. Entretanto, somente nas últimas décadas é que a melancia granjeou importância considerável economicamente no estado, tanto que, atualmente, o Rio Grande do Sul lidera no País a produção agrícola da fruta. São as principais regiões de cultivo: Centro-Sul, Vale do Rio Pardo e Zona Sul.

Assim eram os carreteiros...

Imagem encontrada no site: http://www.prati.com.br
Trata-se de um desenho de 1851, feito na cidade de Pelotas que, entre outras coisas, mostra como eram as carretas de boi (parte superior) utilizadas na época das tropeadas - fato, inclusive, que marcou muito a nossa localidade de Capão do Leão.