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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Lembranças Leonenses XII


– Em meados da década de 1960, a antiga sede da Associação dos Trabalhadores do 4º. Distrito, onde atualmente se encontram as secretarias municipais de administração, finanças e obras, foi palco de um evento famoso na comunidade: o Festival “Talentos do Capão do Leão”. Composto por apresentações musicais, ocupava as tardes de domingo, estendendo-se até a noite. Gaiteiros e violeiros se exibiam mostrando suas habilidades numa disputa que chegava a envolver quase cinqüenta artistas. Para a comunidade o Festival de Talentos era sinônimo de diversão e lazer. Uma outra opção eram os bailes no antigo Salão do Manoel Selmo (que depois viria a ser o Restaurante Cantarelli). Ali também aconteciam fartos almoços e movimentados encontros políticos.

– Um costume deplorável que existia no passado era diferenciar entretenimentos sociais pelo critério da cor da pele. Isso acontecia em todo o Brasil. Havia bailes, jogos e eventos sociais para brancos e bailes, jogos e eventos sociais para negros. Em alguns casos, nas zonas coloniais principalmente, a divisão se acentuava e existiam coisas para alemães e não-alemães, coisas para italianos e não-italianos e assim por diante. Na sede da Associação dos Trabalhadores do 4º. Distrito em Capão do Leão também houve essa forma de racismo. Ocorriam os bailes dos brancos separados dos bailes dos negros. E tal fato não faz muito tempo (menos de meio século, seguramente). Contraditório é pensar que o mesmo povo que fazia esta distinção, elegeu por sete vezes consecutivas um homem negro para representá-lo na Câmara de Pelotas. A parte este detalhe, a divisão dos bailes “de brancos” e “de negros” era, como afirmamos, algo muito comum. Seja no antigo Salão do Faeco no Jardim América, nas domingueiras que eram realizadas na Hidráulica ou nos casamentos que ocorriam em outras zonas.
Algo comum também era burlar tal proibição. Como alguns bailes aconteciam à noite, sob a luz de precários lampiões de carbureto, homens que possuíam uma tez mestiça (mulatos de 1ª ou 2ª. geração) costumavam passar pó-de-arroz no rosto e nas mãos. Desta forma, participavam dos bailes dos brancos sem chamarem à atenção. Às vezes não dava certo e o sujeito era expulso do divertimento. Porém, havia igualmente a outra face da moeda: brancos não podiam entrar em bailes de negros? Pois, mentes menos preconceituosas, sem se importarem com tal situação, iam adiante e davam um jeito (ao menos poder ficar na porta). Uma história pitoresca nisso tudo é contada sobre um sujeito, da Família Barboza, lá no Passo das Pedras, tendo o fato se passado na década de 1920. O homem se besuntava de graxa para poder ir aos bailes negros, os quais considerava infinitamente melhores do que os que eram feitos pelos brancos.

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