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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte IV



“Gastaud foi verdadeiro exemplo de trabalho e inventiva”.
(Armindo Beux)

Além de bascos franceses oriundos do Uruguay e colonos provenientes da Colônia Santo Antônio em Pelotas, observa-se também em Capão do Leão uma imigração francesa de caráter espontâneo, desde muito cedo. Já em 1835 encontra-se a Família Adam na Capela da Buena. Segundo Leandro Ramos Betemps, pelo menos até 1874, a imigração francesa em Pelotas é feita por professores, artistas e comerciantes.
As características do Capão do Leão do fim do século XIX – Estação Ferroviária, indústria extrativista (lenha e pedra), terrenos a preços acessíveis – anteriormente descritas em outro artigo, foram estímulos à fixação de imigrantes das mais diversas localidades no lugar, inclusive indivíduos que vinham não somente por razões econômicas, porém também por causa do perfil campestre da região. Alguns tiveram, adiante, um envolvimento muito importante com a comunidade, contribuindo para o progresso do distrito. Neste ínterim, destacam-se alguns franceses. Vejamos alguns sobrenomes: Recart, Perez (lê-se “Perrê”), Litrez, Gontran, Durand, Larré, Roux, Delaunay, Roquemaure, Lacroix, des Essarts, Gastaud, Rouget Perez, Masseron, etc. Destes imigrantes “espontâneos”, duas personalidades merecem destaque: Dr. João Rouget Perez e Sr. Alexandre Gastaud (ambos nomes de ruas no município).
João Rouget Perez foi professor e diretor da Escola de Agronomia e Veterinária Eliseu Maciel, também fundador do laboratório que leva seu nome. Desenvolveu trabalhos científicos importantes nas áreas de Parasitologia, Bioquímica, Veterinária e Agronomia. Presidiu a Sociedade Agrícola de Pelotas, além de atuar como fundador e diretor da Rádio Pelotense. Viajou à Europa várias vezes para divulgar seus estudos. Sua propriedade no Capão do Leão, datada de 1914, encontra-se localizada no km 18 da BR-293 e atualmente pertence à Família Perez Wrege. A Granja da Cachoeira, como é chamada, tem como prédio principal um “castelo” que imita uma propriedade em Paris observada pelo Dr. Rouget Perez. Aliás, ele considerava o local, por suas paisagens, semelhante à cidade natal de Lannes, França.
Alexandre Gastaud, o qual Armindo Beux em sua obra “Franceses no Rio Grande do Sul” elogia continuamente, foi uma figura ímpar. Foi varredor de escritório e caixeiro e com menos de 20 anos foi trabalhar como limpador da Estação Férrea em Pelotas. Inteligente e curioso, aprendera sozinho a operar o telégrafo, tornando-se mais tarde telegrafista daquela estação. Ascendeu até se tornar telegrafista-chefe na Companhia do Telégrafo Nacional em Pelotas. Exerceu a mesma função, como instrutor do telégrafo, em Rio Grande, na Bahia, em Belém do Pará e em vários outros lugares. Numa época em que não havia eletricidade em Pelotas, mandou buscar na Europa aparelhos e instalou luz elétrica e força na Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde fabricou um aparelho de Raio X, realizando a primeira operação em radiografia do Brasil, em 1903. Em Capão do Leão, também fora o pioneiro no uso da eletricidade, pois tinha em sua chácara luz elétrica e água encanada com força eletrodinâmica, numa época que sequer havia um gerador público. Também foi fundador e comunicador da Rádio Pelotense, membro da Liga Operária de Pelotas (a qual sempre trazia os associados para piqueniques no Capão do Leão) e um dos responsáveis diretos pela construção da Ponte do Teodósio, em 1923. Falecera em 1940, com avançada idade. A via que liga o Teodósio à BR-293 recebe honoravelmente seu nome.

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