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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

VII Festival de Teatro de Pelotas

 



TEATRO 

YAN MICHALSKI

FESTIVAL INTERNACIONAL EM PELOTAS

Enquanto uma sugestão feita por alunos do Colégio Estadual Ferreira Viana, e lançada recentemente através desta coluna, no sentido de que o Estado da Guanabara deveria incluir na sua programação cultural um grande festival de teatro, caia aparentemente como era de se prever, nos ouvidos surdos das nossas autoridades, a cidade gaúcha de Pelotas fazia realizar o seu VII Festival de Teatro, desta vez com a presença de três elencos estrangeiros.

Enquanto o bem intencionado mas bastante medíocre Festival de Teatro Amador da Associação de Teatro Amador se realizava no Rio sob os auspícios do Serviço Nacional de Teatro (auspícios estes cujos termos financeiros não foram dados a conhecer a exemplo do que acontecer com todas as operações financeiras da atual administração do SNT), o Festival de Pelotas não pode contar com a ajuda do órgão dirigido pelo Sr. Felinto Rodrigues Neto. O Sr. Antônio Franqueira Moreira, presidente da Sociedade de Teatro de Pelotas, promotora do certame, escreveu-nos a esse respeito:

"Infelizmente o SNT, cujo diretor havia-me garantido pessoalmente ajuda substancial, falhou integralmente. Daí termos lutado com grandes dificuldades financeiras e ficado impossibilitados de pagar as passagens dos grupos. Isso dificultou a vinda de grupos que se haviam inscrito, vindos de regiões mais distante, como foi o caso do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Brasília e Guanabara."

OS PARTICIPANTES

Mesmo assim, o Festival de Pelotas contou com a participação de doze grupos (um argentino, dois uruguaios, um paulista e oito gaúchos), e alcançou amplo sucesso, a julgar pelos comentários da imprensa local que nos foram enviados pelo presidente da STEP.

Foram os seguinte os grupos participantes do VII Festival de Teatro de Pelotas, e as suas respectivas montagens:

Grupo Presença, de Santa Maria, com A Guerra Mais ou Menos Santa, de Mário Brasini, com direção de Pedro Freire Júnior.

Grupo Teatro Novo de Petrópolis, de Porto Alegre, com João e Maria nas Trevas, de Ronald Radde, direção do autor.

Coletivo de Teatro Nacional, de Porto Alegre, com Água Furtada 389, de Paulo Ubiratã Campos de Carvalho, direção do autor.

Artistas Argentinos Independientes, de Buenos Aires, com El Espantoso Regresso de Dracula, de Roberto Habegger, direção do autor.

Grupo de Teatro do Sesc de Porto Alegre, com O Castiçal, de Alfred de Musset, direção de J. Carlos Caldasso.

Teatro Acadêmico Balduíno Rambo, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo, com ...Mas Livrai-nos do Mal, de Jairo Lima, direção de Marcos Wainberg.

Instituto Cultural Juventud, de Montevidéu, com Mala Laya, de Ernesto Herrera, e El Desalojo, de Florencio Sánchez, direção de Pedro Perdomo.

Teatro Casarão, de São Paulo, com O Canto do Cisne e Os Malefícios do Fumo, de Tchecov, direção de Benedito Lara, e Amor por Anexins, de Artur Azevedo, direção de Ermínio Furlan.

Teatro de Arena, de Porto Alegre, com O Fardão, de Bráulio Pedroso, direção de Miguel Grant.

Teatro Escola de Pelotas, com Quando Despertamos de entre os Mortos, de Ibsen, de direção de Rui Antunes.

Grupo 12 Institución Teatral Independiente, de Sarandi Grande, Uruguai, com Ceremonia por Negro Asesinado, de Fernando Arrabal, direção de Homero González Tortebolo.

Teatro do Estudante, de Bom Jesus, com Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, direção de Milton Carlo Baggio.

OS VENCEDORES

O Júri, presidido por Pascoal Carlos Magno e secretariado por Aron Menda, delegado regional da SBAT e do SNT, atribuiu os seguintes Prêmios Brecht (estatuetas em bronze com o busto do dramaturgo alemão):

Melhor espetáculo: El Espantoso Regreso de Dracula, produção dos Artistas Argentinos Independientes, de Buenos Aires.

Melhor direção:Homero González Torterolo, do grupo uruguaio de Sarandi Grande, pela sua encenação de Ceremonia por Negro Asesinado.

Melhor cenoplastia: o mesmo Homero Torterolo, na mesma peça de Arrabal.

Melhor atriz: Araci Estêves, do Teatro de Arena de Porto Alegre, pelo seu desempenho em O Fardão.

Melhor ator: Ermínio Furlan, do grupo paulista, pelo seu trabalho nas duas peças de Tchecov.

Melhor atriz coadjuvante: Elsa Batter, do vitorioso elenco argentino.

Melhor ator coadjuvante: Yamandú Vidart, do grupo de Sarandi Grande.

Por outro lado, Pascoal Carlos Magno distinguiu quatro atores gaúchos e um paulista com bolsa-de-estudos de um mês em Arcozelo.

A Sociedade de Teatro de Pelotas espera que o seu Festival de 1969 poderá ser não só internacional, como até intercontinental, já tendo iniciado entendimentos no sentido de assegurar a vinda de um grupo parisiense.

Como estamos vendo, a Guanabara está sendo passada para trás, em matéria de promoções teatrais, não somente por grandes centros como São Paulo e Curitiba, mas também por uma cidade como Pelotas. É claro que nos resta ainda o Festival Internacional da Canção e o carnaval carioca, para defender o chavão de capital cultural do país...

Fonte: JORNAL DO BRASIL (Rio de Janeiro/RJ), 11 de Dezembro de 1968, Caderno B, pág. 02