Páginas

terça-feira, 1 de outubro de 2024

José Volta Grande - o famigerado de Mundo Novo

 



A 1 de fevereiro de 1894, às cinco horas da manhã, a cidade do Mundo Novo, então vila, foi assaltada, depredada e saqueada por uma quadrilha composta de cêrca de duzentos bandoleiros, capitaneados pelo famigerado José Balbino da Silva, conhecido por José Volta Grande.

Concorreram muito para isto caprichos e injunções políticas daqueles tempos passados e também injustiças praticadas por poderosos usurários, açambarcadores de terras do Estado para legitimação em seus nomes, usurpando assim, em tais medições, sítios de várias pessoas pobres.

José Balbino da Silva, com seus irmãos, residia no lugar Volta Grande, naquele tempo pertencente ao município de Mundo Novo e hoje ao município do Morro do Chapéu e, para atacar Mundo Novo, trouxe jagunçada das Lavras Diamantinas, habituada a estas emprêsas de depredações e roubos.

A horda de bandoleiros atacou a cidade às cinco horas, quando todos dormiam, desfechando sôbre ela descargas de clavinotes e produzindo grande barulho com urros e vozeria infernais.

A fôrça policial, composta de dezesseis praças e um oficial, tentou resistir, mas vendo a sua impotência e inevitável derrota, fugiu, tendo a população civil também fugido espavorida para os matos.

Os bandidos apossaram-se da cidade e nela permaneceram até o dia 3 de fevereiro pela manhã, quando se retiraram em demanda de Volta Grande, em seu reduto, levando no lombo de animais tudo que puderam conduzir, inutilizando tudo que não puderam levar e deixando a cidade semelhante a um cemitério em ruínas!

Um dia depois da retirada dos bandoleiros, isto é, a 4 de fevereiro, eu, que por êsse tempo me achava na fazenda Alecrim, distante três léguas da cidade, vim a esta para ver com os meus próprios olhos as depredações, e fiquei deveras horrorizado!

Prefeitura Municipal, Cadeia Pública, Coletorias, Cartórios, tudo depredado, portas lascadas a machado, assim como muitas casas comerciais e residenciais com as portas escancaradas, arrendadas de balas, Viam-se relógios de parede e muitos outros objetos semelhantes pelo meio das ruas tudo arrebentado! Enfim, o aspecto da cidade era desolador!

Como vimos, a jagunçada apoderando-se da cidade, nela permaneceu dois dias, enfardando fazendas e outras mercadorias, a fim de conduzir para o seu reduto, para o que, grupos de jagunços foram mandados pelo seu chefe a diversos lugares no subúrbio, arrebanhar animais e cangalhas, para o serviço de transporte.

A quadrilha, logo que chegou ao seu reduto, de regresso, anunciou que viria quebrar as fazendas Havana, do coronel José Galdino, e Lagoa da Anta, do coronel Sinfônio Ferreira, e pôs-se logo em marcha para êste fim, na direção das ditas fazendas.

O coronel José Abraão Coim procurou evitar o desastre, indo, em companhia do coronel Firmino Sampaio e outros amigos, encontrar a horda dos bandoleiros na estrada, encontro que se realizou na fazenda Tingui, do major Geraldo Sodré, e hoje de Benvenuto Barreto, com o nome atualmente de Aliança, distante três léguas da cidade.

Do encontro entre os emissários de Mundo Novo e José Volta Grande, chefe da quadrilha, resultou o regresso desta ao seu reduto, sem depredar as ditas fazendas, mas mediante o preço de 8:000$000 em dinheiro!

Depois de tôdas estas desgraças, o govêrno estadual resolveu acabar com o reduto de bandoleiros, vindo para isto uma fôrça policial de quinhentas praças, comandada pelo coronel Policarpo Ferreira Campos, comandante da Polícia Militar da Bahia naquele tempo, a qual, reunida a patriotas civis comandados pelos coronéis Clementino de Matos e José Lapa, deu cabo da terrível horda de bandoleiros, depois de encarniçada luta.

José Volta Grande fugiu para Jalapão, no Estado de Goiás, e consta que anos depois mudou-se dali para Lageado, no Estado de Mato Grosso, onde, segundo dizem, construiu uma igreja e faleceu.

Fonte: BARRETO, Adolfo Alves. História do município de Mundo Novo. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Departamento da Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, jul./set. 1951, pág. 164-166.