Enterrado vivo!Do Estado, de 11 do corrente:
"Na ultima edição d'esta folha noticiamos haver fallecido o nosso co-religionario Joaquim Chaves Cavalheiro, digno official do corpo provisorio da Brigada Militar estacionado em S. Luiz.
Pessoas procedentes d'aquella localidade informam-nos agora que o desventurado moço - é horrivel de dizer-se! - fôra enterrado vivo.
Ao montar a cavallo para effectuar uma diligencia no Passo do Quaresma - narram os nossos informantes - Joaquim Chaves Cavalheiro teve uma syncope, sendo recolhido á sua residencia.
Isto no da 3 ou 5 de junho ultimo.
Como melhorasse, tentou o official seguir viagem, quando foi outra vez accommettido de nova syncope, não dando mais signal apparente de vida.
Fizeram, então, preparar o caixão mortuario, onde collocaram o infeliz Chaves, que foi velado durante a noite.
Na tarde do dia seguinte realisaram-se as ceremoniras do enterramento.
Collocado o caixão na carneira, retiraram-se as pessoas que compunham o sequito funebre.
No cemiterio apenas ficaram dois pedreiros.
Concluiam estes a sua tarefa quando ouviram gemidos e gritos abafados que partiam da carneira.
Homens rusticos, supersticiosos, largaram os instrumentos do trabalho e fugiram aterrados.
Levada a noticia á villa, diversas pessoas, inclusive o general Salvador Pinheiro Machado, encaminharam-se incontinente para o cemiterio, um tanto distante, e, ahi chegados, procederam á exhumação.
Joaquim Chaves Cavalheiro era cadaver.
A tampa do caixão, porém, quebrada, dilacerado o panno que a revestia, contrafeita a posição do corpo, tudo, tudo denotava a tremenda lucta, a morte horrivel em que se debatera o infeliz!
Havia sido enterrado vivo!
Catalepsia?
Não nos souberam dizer.
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 16 de Julho de 1900, pág. 01, col. 06