1 - As barbas sempre foram símbolos de sabedoria, riqueza, reputação, masculinidade, coragem e honradez na maioria das culturas antigas da história da humanidade. Homens barbudos eram respeitados e barbas cheias e longas traziam um misto de intimidação e importância social. Para as antigas tribos celtas, jurar pela própria barba significava que o sujeito tinha sempre algo de muito importante e peremptório a dizer.
2 - Tanto na Europa, quanto no Oriente Médio e Ásia Central, xingar a barba de alguém era uma desonra grave. Dependendo do contexto histórico ou da região, o ofensor podia ser julgado por seus pares e sofrer punições como banimento, indenização material/financeira ou mesmo a morte. Até o século XVIII, em vários lugares, um homem poderia requerer um duelo caso sua barba tivesse sido ofendida. Em suma, xingar a barba de um homem era comparável hodiernamente a xingar a própria mãe.
3 - Barbas e bigodes em inúmeras culturas indo-europeias, semíticas e sul-asiáticas eram usadas como fiadoras de honra de um contrato, de uma celebração de paz ou de um tratado político. Em algumas situações, o sujeito podia cortar uma pequena mecha do próprio bigode ou da barba e oferecer a outrem como símbolo que executaria um compromisso pré-estabelecido. Ás vezes, uma mecha do cabelo. Entre os antigos francos e germânicos, o direito consuetudinário dava ao ato o status legal.
4 - Durante parte da história inglesa (séculos XV e XVI) houve o famigerado imposto sobre a barba. Homens adultos jovens e solteiros pagavam uma importância para que pudessem ter o direito de possuírem uma barba, principalmente em funções militares. Aliás, foi a partir dessa época que a barba começou a ser vista como incômoda para batalhas, sendo o recomendável usá-la de forma curta ou manter o rosto permanentemente barbeado. Apesar disso, o rei Henrique VIII foi um monarca inglês que fez questão de usar barba durante todo o seu reinado. A Rússia teve também um imposto sobre a barba, porém muito mais oneroso do ponto de vista monetário entre 1698 e 1772.
5 - Bigodes passaram a ser vistos como símbolo de uma virilidade mais civilizada principalmente a partir dos primeiros anos do século XIX (Guerras Napoleônicas). A maioria dos exércitos europeus passou a exigir de seus militares que se cortassem completamente as barbas, mas se mantivessem os bigodes como símbolo de distinção. Barbas hirsutas eram toleradas somente em militares mais velhos, pois representava sabedoria e experiência nos assuntos de guerra.
6 - As barbas foram completamente banidas dos exércitos europeus durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pois atrapalhavam o uso de máscaras de gás contra o ataque de armas químicas. Somente os exércitos búlgaro e otomano não seguiram muito à risca a recomendação.
7 - Tocar na barba de um homem sem autorização foi uma falta extremamente grave em diferentes sociedades ao longo da história. Era invasivo de tal maneira, que em vários tribunais do Oriente Médio e da África Islâmica, o ofendido podia exigir a morte do infrator. Curiosamente, somente uma única pessoa possuía o privilégio de tocar a barba de um homem como lhe aprouvesse: a mulher amada. Nem pai, nem mãe, nem filhos maiores tinham tal intimidade. Em vários relatos históricos, o ato da esposa ou noiva acariciar a barba de um homem lhe trazia uma distinção especial, querendo com isso transmitir que aquele homem em particular lhe pertencia.
8 - Cortar a própria barba (ou partes da própria barba) e oferecer a alguém era visto como ato de extrema humildade (ou para denotar profundo arrependimento por um ato cometido). No sul da Itália medieval, camponeses e populares podiam escapar da pena capital (enforcamento) se ofertassem o ofendido com seus pelos faciais. O insólito é que, apesar dessa possibilidade de safar-se de uma pena, vários homens preferiam enfrentar a morte a ter a sua barba cortada.
9 - Em culturas pagãs europeias do centro-leste daquele continente, é verificado o ato de sacrificar aos próprios deuses o animal mais gordo do rebanho em festivais religiosos. Se o devoto tinha um sentimento especial de gratidão a divindade cultuada, ele acrescentava na hora do sacrifício uma mecha cortada da própria barba ou cabelo.
10 - Homens casados na Hungria medieval (e boa parte da Europa Oriental) podiam oferecer mechas da própria barba às esposas como símbolo de amor conjugal, caso que tivessem se ausentar por longo tempo em razão de uma viagem ou de uma campanha militar. Da mesma forma, esposas podiam oferecer uma mecha cortada das tranças para os maridos querendo demonstrar o mesmo sentimento, quando estes se ausentavam pelos mesmos motivos.
11 - Mechas de uma barba ruiva eram ingredientes da farmacopeia bizantina e árabe na Idade Média. Os pelos eram triturados e misturados com determinadas ervas aromáticas, tendo daí uma solução indicada em tratamentos de anemia e cansaço físico. Aliás pelos ruivos, independente de serem da barba ou cabelo, eram vistos como elementos mágicos em boa parte das farmacopeias europeias e do Oriente Médio.
12 - Para os antigos israelitas, raspar a barba de um homem (caprichosamente se fosse a metade...melhor ainda!) era um forma de humilhação e subjugação. Vide o capítulo 10 do Segundo Livro de Samuel.
13 - Para os antigos egípcios ter uma barba significa em síntese ser homem. É meio redundante a afirmação, porém há o caso de mulheres egípcias que deixavam cultivar barba para serem aceitas como "homens" ou usarem uma barba postiça. Isso lhe conferia o direito de ocuparem cargos importantes, inclusive até o de faraó. Hatsheput usava uma barba falsa e governou o Egito. Faraós homens jovens utilizavam também do mesmo artifício para alçarem ao trono.
14 - Na Idade Média, como sobejamente vimos neste artigo, as barbas eram muito respeitadas. Entretanto, havia um corte de barba extremamente repudiado pela sociedade da época: as barbichas, especialmente aquelas que se assemelhassem a "barbas de bode". Teólogos ingleses, franceses e italianos recomendavam aos clérigos, nobres e povo os perigos das barbas caprinas - carregadas de um simbolismo maléfico.
15 - Nos antigos Império Prussiano e Russo, em inúmeras aldeias e cidades menores, o veto a homens não barbados de exercerem determinadas funções públicas, principalmente relacionadas à funções judiciais e administrativas, foi uma constante tradição, embora não tivesse o efeito de lei impositiva. Conta-se que um determinado homem escolhido pelo conselho local a ocupar a função de "prefeito" de uma cidadezinha local situada numa região de onde hoje é a Bielorrússia, ao se dirigir ao prédio do governo, teve sua carruagem atacada por um bando de salteadores. Sem lhe fazer nenhum atentado à vida do sujeito e sem lhe roubar absolutamente nada, o homem teve sua barba cortada, apesar de seus insistentes pedidos de misericórdia. Ao chegar à própria posse, com a face completamente desnuda e comentando o infeliz ocorrido, não teve nem tempo suficiente de exigir providências, pois fora imediatamente destituído da função. Soube-se depois que o atentado fora encomendado por um desafeto político seu. Quatro anos depois, com a barba minimamente reestabelecida e respeitável, veio à sessão do conselho local, requereu a própria posse e obteve positivamente a reivindicação, sendo finalmente instituído.