"Nos registros dos escritores do século XIX, entretanto, a participação das mulheres não aparece quando o assunto é a Revolução Farroupilha (1835-1845). Contudo, hoje se sabe que as mulheres se fizeram presentes também neste movimento político radical, que propunha a ruptura com o Império brasileiro e a proclamação da República. Algumas poetisas do Rio Grande do Sul, por exemplo, tomaram partido durante a Farroupilha. De acordo com as fontes que chegaram até nós, a maioria das escritoras declarou-se a favor da Monarquia, a começar pela poetisa Delfina Benigna da Cunha (1791-1857), que dedicou poemas elogiosos ao imperador, tendo recebido mais tarde uma pensão do governo como retribuição por seu trabalho. Maria Josefa Barreto (1780-1837), fundadora de dois jornais, manifestou-se fortemente contra o revolucionário Bento Gonçalves. Ana Eurídice Baranda (1806-1866?) publicou o panfleto Diálogos (1836) em defesa da participação política das mulheres e como causadores dos maiores males. A favor dos farroupilhas encontramos Maria Josefa da Fontoura Palmeiro, que acabou sendo desterrada por ter espalhado, em Porto Alegre, conclamas dos rebelados e por ter levado pessoalmente informações a Bento Gonçalves durante o conflito. Duas esposas de líderes farroupilhas também tiveram papel relevante no movimento: Bernardina Barcellos de Almeida, casada com Domingos José de Almeida, e Clarinda Porto de Fontoura, casada com Antônio Vicente da Fontoura. Nas cartas trocadas entre os cônjuges, fica nítido o interesse das mulheres pela conjuntura política, a troca de ideias entre elas e os maridos e as opiniões que manifestavam a pedido deles. Tais evidências contribuem para relativizar a imagem de sinhazinhas frágeis e desinteressadas das coisas públicas, marcadas pela educação tradicional e caladas por conta da repressão dos pais e maridos.
Fonte: PINSKY, Carla Bassanezi & PEDRO, Joana Maria (orgs.). Nova História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013, pág. 98.