Páginas

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

A ocupação da Faculdade de Agronomia em abril de 1964

 



Outra ação marcante da repressão à comunidade acadêmica pelotense foi o cerco ao campus da Faculdade de Agronomia, situado no Capão do Leão, durante as primeiras semanas de abril de 1964.

O campus foi invadido e ocupado pelas Forças Armadas, sendo o principal alvo o Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuária do Sul - IPEAS. Foram feitas revistas nas casas dos moradores do bairro e detidos diversos pesquisadores do instituto, alguns dos quais foram mantidos presos. As principais finalidades seriam a repressão ao PTB e a desarticulação de Grupos dos 11. Conta sobre essa ação o morador Sr. Ari Costa:

O quartel entrou lá e começou a levar o pessoal, tudo que era eles levavam e traziam pra dentro do quartel, preso. Tinham um jipão que ia lá, levaram preso o Paulo Tolosan que era diretor, botaram um interventor do quartel [...]. E aí começaram a trazer aqueles que eram, que faziam reuniões; Traziam a varrer, tudo. Desde o agrônomo até o trabalhador do campo [...], o que trouxeram de gente pra cá não foi fácil [...], foi muita gente [...]. Às vezes levavam mais de um [...], não sei se alguém denunciava, eu sei que quando eles iam, iam certinho [...], buscavam no serviço, dentro de casa, onde estivesse. E levavam preso para o quartel [...].

Havia também uma preocupação em controlar a zona rural do município. Segundo o professor aposentado da UFPel e UCPel, José Luis Marasco Cavalheiro Leite, a igreja católica no Rio Grande do Sul. sob o comando de Dom Vicente Scherer, tinha uma grande preocupação com a influência que os comunistas exerciam na zona rural. Não só comunistas, mas também alguns segmentos trabalhistas ligados a Leonel Brizola, como os que tentaram criar os chamados Grupos dos 11. Para neutralizar essa influência, foi criada a Frente Agrária Gaúcha (FAG).

Fonte: ENGELKE, Cristiano & SAINZ, Nilton (orgs.). Sombras no extremo sul: luzes sobre o passado ditatorial no sul gaúcho. Rio Grande/RS: Ed. da FURG, 2020, págs. 64-65.