ALMAS DO OUTRO MUNDO
NOVAS MANIFESTAÇÕES
NA
RUA DO BARÃO DE MESQUITA
(...)
O que vamos narrar não é producto da fantasia. É a pura verdade. Áquelles que duvidarem, aconselhamos que procurem as praças de policia que, ante-hontem rondaram a rua do Barão de Mesquita, e que lhes perguntem o que viram e o que ouviram.
Passemos ao facto, que é interessante, mysterioso, singular e extraordinario.
Ás 10 horas da noite de ante-hontem começou a patrulha a fazer a sua ronda pela citada rua.
Os soldados estavam despreoccupadamente a fazer o seu serviço, com aquelle authomatismo de quem se habitua a um certo trabalho que não demanda de nenhum esforço de intelligencia, e que o faz dia a dia com a monotona regularidade de um relogio.
Isto tudo vem para dizer que não pensavel elles em almas do outro mundo, ou cousas de igual jaez, quando ouviram as doze pancadas da meia noite.
E com as doze pancadas da meia noite ouviram tambem agudissimos assovios, que partiam das proximidades da rua de S. Francisco Xavier, esquina da do Barão de Mesquita.
Intrigados com aquillo, e suppondo que fossem signaes convencionados por gatunos, occultaram-se em um capinzal, e puzeram-se a imitar os assovios, contando que os gatunos se approximassem.
Era plano d'elles attrahir por essa fórma os que assoviavem e prendel-os.
Vendo, porém, que ninguem apparecia, e que os assovios continuavam, dirigiram-se para o ponto d'onde partiam os mysteriosos signaes.
Apenas chegaram á rua de S. Francisco Xavier notaram, com grande espanto, que já os assovios não partiam d'alli, mas do ponto em que elles, soldados, tinham estado occultos.
De novo voltou a patrulha áquelle ponto, e d'ahi ouviu logo em seguida os mesmos assovios, partindo da rua de S. Francisco Xavier.
Cada vez mais intrigados com aquelle singularissimo phenomeno, procuraram os dous soldados descobrir a causa d'aquillo, para o que não achavam explicação plausivel.
Percorreram então a rua do Barão de Mesquita, de um ponto a outro, com a maior velocidade, notando com grande estupefacção que os assovios partiam sempre do ponto opposto áquelle em que se achavam!
Um dos solados propôz que ficassem ambos á espreita, porém cada um d'elles em ponto extremo.
Executado este novo plano, ouviram então repetido trilar de apitos que partiam do centro dos terrenos do hospital militar, sem que pudessem descobrir pessoa alguma.
Acto continuo ouviram tropel de animal.
Acreditando ser o official rondante que viesse a cavallo, como é de costume, dirigiram-se os dous soldados para o vulto que viram ao longe.
Subito, porém, cessou o tropel do animal, e cavallo e cavalleiro desappareceram como por encanto!
Pouco depois tomaram os soldados um bond do Andarahy Grande que passava, e um d'elles, dirigindo-se ao conductor perguntou-lhe:
- Que diabo de lambança é esta que se está passando aqui na rua do Barão de Mesquita?
É singular o que narram alguns capineiros, a proposito das mysteriosas manifestações n'aquella rua.
Dizem elles, e affirmam com a maior convicção, já terem visto fóra de horas uma mulher extremamente alta, magra, de trunfa á cabeça e vestida de preto. Essa mulher, a quem denominam a bahiana, anda apressadamente, e ás vezes com velocidade incrivel.
Quando alguem tenta approximar-se ella desapparece, sem que se saiba como, sem que se saiba como, sem que se possa encontrar nenhum vestigio da sua passagem, nenhum logar onde pudesse occultar-se, nada, absolutamente nada.
Essa mysteriosa mulher, a bahiana, como já a tratam, apparece muitas vezes, segundo dizem os capineiros.
É provavel que amanhã possamos dar novas informações acerca d'esses singularissimos phenomenos, que se reproduzem na rua do Barão de Mesquita.
Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 04 de Outubro de 1889, pág. 01, col. 04