- Uma folha de Bagé dá minuciosos pormenores do cobarde e horroroso assassinato de 14 subditos brazileiros, assassinados no Estado Oriental por ordem de uma auctoridade militar d'aquella republica.
Diz a alludida folha:
"O coronel encarregado do recrutamento no departamento de Taquarembó, acompanhado de força armada, pois andavam n'este serviço, dirigiu-se ás Minas de Canaperú, recrutou para o serviço 14 individuos, entre estes cinco brazileiros, provavelmente alli empregados.
Sem attender a menor reclamação, poz-se em marcha o heróe, satisfeito com a colheita, indo fazer acampamento ainda cedo, como é costume, em uma casa vizinha, onde, para maior segurança, mandou encerrar em um galpão os recrutados.
Sendo avisado ou suspeitando de que os presos projectavam evadir-se, mandou carregar armas, e fez chamada nominal de cinco, os quaes, ao sahirem, receberam uma descarga, cahindo quatro atravessados pelas balas, e um, que ficou incolume, foi incontinente morto a garrote (pequeno páo) sendo o primeiro a espancal-o um joven official d'essa força de... bandidos!
Não satisfeitos com tanta cobardia e para cumulo de malvadez, entenderam que deviam exterminar os poucos infelizes que restavam, mandando o commandante, já enfurecido, invadir pela força o galpão, e matar a garrotaços os nove existentes!!!
Um menino, que tambem havia sido recrutado no trajecto das Minas á pousada, que se achava em companhia das desventuradas victimas, á voz da mata, movido pelo natural instincto de conservação, escondeu-se por entre os arreios e foi mudo espectador d'essa repugnante hecatombe, e tal foi a impressão moral que lhe produziu tão medonho quadro, tanto horror encarava elle, que o pobre menino, quando foram dar com elle, estava louco!..."
Ainda sobre este assumpto adianta o mesmo jornal:
"Informam-nos ainda o seguinte relativamente aos assassinatos de brazileiros no Estado-Oriental, de que já demos noticia.
O numeo de recrutas attingia a 60, sendo os 14 assassinados todos brazileiros!
Dizem-se tambem que o heroe commandante da força, que ordenou esses barbaros assassinatos, foi um coronel Santos, irmão do actual ministro da guerra d'aquella republica.
E até onde póde chegar a audacia e malvadez de uma auctoridade ignorante e inconsciente do lugar que occupa!"
Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 05 de Junho de 1881, pág. 02, col. 03-04