Tragedia de sangue
O Municipio, de S. Borja, no Rio Grande do Sul, refere o seguinte:
"Em S. Nicoláo chegaram á casa do capitão Andrade dous individuos e pediram pousada.
Já ao anoitecer, depois de terem sido alimentados, como tivessem declarado que partiriam muito cedo, o capitão mandou uma menina levar-lhes os preparos para tomarem mate antes de sahir, no dia seguinte.
A menina levava no collo uma creança de pouco mais de anno.
Ao entregar-lhes aquelles objectos, os assassinos desferiram golpes sobre as duas innocentes victimas, fugindo a maior gravemente ferida e levando já ao colo um cadaver com o ventre aberto e os intestinos de fóra, rastejando pelo chão.
Immediatamente os dous criminosos penetraram no centro da casa e atacaram o pobre velho, maior de 70 annos, que cahio sob os seus golpes.
A sua esposa, que fugia espavorida, ao ouvir-lhe os gritos desesperados, conseguio vencer os impulsos do instincto de conservação, e dominada pelos impulsos do coração, voltou para defendél-o e morreu ao seu lado.
Depois desta scena de sangue os bandidos passaram ao ambicionado saque, colhendo todos os objectos de valor.
O crime foi premeditado e ajustado entre quatro, na serraria de Trois e Irmão, d'onde tinham sido despedidos os dous que o executaram, e onde eram ainda empregados os outros dous. Tres chamam-se Senon, Turibio e Benjamin.
Perseguidos, os dous executores passaram para o municipio de S. Borja, e na occasião em que transpunham o Uruguay, a força destacada em Garruchos fez fogo sobre elles, matando um, que ficou sepultado sob as aguas, e conseguindo apprehender o outro. Este foi em seguida entregue ao subdelegado de S. Nicoláo, que já havia capturado os outros dous cumplices. Depois de feito o inquerito policial, foram os criminosos enviados para S. Luiz."
Diz o mesmo jornal que os presos foram em caminho tirados do poder da escolta e mortos por um grupo de mais de 300 pessoas.
Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 10 de Junho de 1888, pág. 02, col. 01-02