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quarta-feira, 12 de maio de 2021

O buraco assombrado da Cavalhada

 



"Curioso

No morro da Cavalhada - Subterraneo - Explorações.

É curioso bastante o facto que adeante passamos a relatar, da descoberta de um buraco mal assombrado (como dizem no local), no morro da Cavalhada.

Hontem, á tarde, andavam, em passeio de bicycleta, o nosso co-religionario Cecilio Monza e os srs. Alberto Dihel e João Simon, pela estrada da Cavalhada, quando tiveram conhecimento da existencia de tal buraco.

Levados por natural curiosidade, indagaram do logar em que se achava elle situado e, para alli seguindo, dentro de poucos minutos tomaram por uma picada muito estreita, quasi impossivel de ser transitada em bicycleta, de dois metros de largura, cercada de matto por todos os lados.

Depois de cerca de meia hora de marcha, foram dar os excursionistas a uma canhada, junto ao morro, onde estava reunida muita gente, entre homens e mulheres, curiosos como os cyclistas.

Estes viram então o tal buraco, que mede cerca de um metro de comprido e meio de largura, aberto junto a um valho, por onde correm as aguas quando chove.

Até o momento em que os tres cyclistas ali foram ter ninguem, dos presentes, havia tentado passar para o interior do mysterioso subterraneo.

Resolveram aquelles ahi penetrar e, como era completa a escuridão, riscaram phosphoros e proseguiram, indo até cerca de quinze metros.

Foram, porém, obrigados a retroceder, por ter faltado phosphoros.

Obtiveram depois uma vela e novamente internaram-se no escuro corredor, então já acompanhados do agente municipal n. 200, pertencente ao 4o. posto, conseguindo percorrer cerca de 25 a 30 metros.

Passado o buraco de entrada, o caminho do subterraneo era magnifico, tendo sido o corredor muito bem aberto, com dois a tres metros de altura e um e meio de largura mais ou menos, tudo rebocado devidamente com barro vermelho, onde havia signaes de mão, talvez de quem fez o serviço, e completamente limpo de vegetação.

Faltando ar e querendo apagar-se a luz, os exploradores do subterraneo viram-se obrigados a retroceder novamente.

Na segunda investida pelo subterraneo, o pharmaceutico Cecilio Monza ali encontrou um fragmento de chapa de fogão, que nos enviou e fica em nosso escriptorio, á disposição de quem o quizer ver.

Segundo informaram os moradores do local aos excursionistas-exploradores e que vivem em uma casa das proximidades, ouviram, em uma das ultimas noites, rumores extranhos, semelhantes aos produzidos pelas quédas d'agua das cascatas, e vozes abafadas...

No dia seguinte, procurando investigar o que se passara, deram com a tal abertura no morro, até então desconhecida por todos.

O corredor subterraneo, tão bem feito e limpo, parece atravessar o morro, primeiro em direcção sul, seguindo depois rumo de sul-este.

Accrescentam moradores das proximidades que, ha cerca de quinze annos, mineiros exploram o local. 

Outros dão noticias de ha annos ter vivido por aquellas bandas um individuo que morava em uma tóca..."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 13 de Abril de 1903, pág. 01, col. 05