"No Paraná, os imigrantes vinham sob a condição de colonos e tinham de formar as lavouras a partir da abertura das picadas na mata, bem como fazer suas próprias moradias. Neste Estado, o objetivo primordial era fomentar o cultivo da agricultura de subsistência, para manter abastecidos os centros urbanos que já passavam por raleamento de produtos agrícolas. Para tornar possível essa circulação das novas forças de trabalho, as estratégias estatais deveriam, em primeiro lugar, criar condições propícias a fim de que o território a ser ocupado se tornasse uma 'área de atração' aos imigrantes.
Até o começo do século XVIII, a população da região onde hoje se configura o Paraná era constituída de portugueses, vindos do Reino, castelhanos, índios, negros africanos e de nativos descendentes dessas três raças. A mão de obra constituía a maior dificuldade para o desenvolvimento do território. Nesse contexto, a imigração passou a ser vista como solução para o problema. Assim, os primeiros imigrantes foram trazidos, justamente, para povoar e defender um dos pontos de 'pouso' das tropas que demandavam do Rio Grande do Sul para São Paulo.
Algumas medidas tomadas no ano de 1808, pela presença da corte portuguesa no Brasil, foram essenciais para o desenvolvimento da imigração e colonização do país, como a abertura dos portos e a segurança ao estrangeiro em relação à propriedade territorial. Se, inicialmente, a imigração foi considerada fórmula ideal para a substituição da mão de obra escrava, posteriormente, passou a ser considerada importante para a ocupação de vazios demográficos, ocupação do solo e empreendimentos agrícolas. Dessa maneira, conforme afirmação de Balhana, Machado e Westphalen, inaugura-se, na América, a tradição da 'porta aberta' para os imigrantes de todas as procedências e culturas.
O início da imigração para os Estados do Sul do Brasil data da década de 1820, quando foram fundadas, por grupos de alemães, as primeiras colônias nas atuais cidades de Itajaí (Santa Catarina), Rio Negro (divisa entre os Estados de Santa Catarina e Paraná) e de São Leopoldo (Rio Grande do Sul).
O Ato Adicional de 1834, porém, deu novo estímulo ao programa imigratório, já que o Governo Imperial delegou aos governos provinciais competência para 'promover e estimular, em colaboração com o poder central, o estabelecimento de colônias'.
Em 1847 o médico francês, Jean Maurice Faivre, fundou, nas proximidades do rio Ivaí, a colônia Tereza Cristina. Com 87 imigrantes franceses, essa colônia tinha princípios do socialismo utópico (buscava viver sem promover lucros), mas acabou fracassando.
Com o fim do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queirós, 1850), com a lenta diminuição dos escravos e com a elevação do preço do café e sua expansão no Estado de São Paulo, parte considerável da população escrava paranaense foi vendida para cafeicultores paulistas, provocando uma relativa crise no abastecimento agrícola, uma vez que eles se constituíam na principal fonte de mão de obra rural.
Os documentos oficiais da época enfatizam a necessidade de se estimular a imigração no território paranaense. No Relatório do Presidente da Província, do ano de 1854, o Presidente Góes e Vasconcellos afirmou ser essencial 'encher de população ativa o vasto território [...] onde o europeu se depara com um clima análogo ao do país natal'. No Relatório de 1855 fica clara a ideia de se 'promover a imigração de colonos morigerados e laboriosos', ou seja, de colonos considerados de bons costumes e trabalhadores. O Relatório apresentado pelo Vice-presidente da Província, em 1857, esclarece que, se o governo desejasse promover a 'colonização', deveria proceder 'por meio da venda de terras devolutas'.
Em 1860, foi fundada, pelo governo da província, com o apoio do governo imperial, a Colônia Assungui, atual município de Cerro Azul, região de Curitiba. Porém, a falta de infraestrutura deixava-a em condições de isolamento, fazendo com que muitos imigrantes a abandonassem.
Nos anos de 1875-1877, o Presidente da Província do Paraná, Adolpho Lamenha Lins, permitiu a formação de várias colônias. Sua intenção era que os imigrantes pudessem adquirir em condições facilitadas bons lotes de terras; para isso induziu a construção de meios físicos, como estradas e pontes, para permitir o melhor escoamento da produção, evitando o isolamento socioeconômico do imigrante.
As colônias Orleans, Tomás Coelho, Santo Inácio, Rivière, D. Pedro, Dom Augusto, Lamenha e Santa Cândida, localizadas, na sua maioria, a Oeste de Curitiba, resultaram dessas iniciativas de Lamenha Lins. Não é sem sentido, também, que essa política de implantação de colônias para estrangeiros recebeu diversas críticas, sobretudo daqueles que defendiam que as colônias deveriam ser organizadas para colonos pobres nacionais.
O processo imigratório no Paraná apresenta algumas particularidades que o tornam diferente, em parte, dos processos ocorridos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Como relata Maria Tereza Petrone, poucos foram os núcleos de colonização compacta, com uma só etnia. Em geral, os núcleos acabavam sendo formados por duas ou mais etnias. Essa heterogeneidade de nacionalidades impediu uma colonização mais homogênea, apesar de os grupos tentarem, constantemente, preservar sua identidade cultural única.
A entrada de imigrantes acabou auxiliando, posteriormente, a expansão industrial, mas contribuiu, também, para mudanças nas relações de trabalho, mesmo quando a escravidão ainda era vigente. Foi sendo construída, principalmente nos núcleos urbanos, uma cultura de trabalho assalariado, mesmo que em pequenas empresas.
Aliás, um dos aspectos que é importante salientar é essa gradativa transferência de descendentes de imigrantes para os centros urbanos. Muitos fatores colaboraram para isso, como a proximidade das colônias com as cidades, a religião, pois muitos imigrantes começaram a fazer parte das cerimônias, sacramentos e corais, e as dificuldades e falta de condições estruturais para o trabalho no campo.
O contraste entre as propagandas realizadas na Europa e as dificuldades encontradas pelos imigrantes em terras paranaenses levavam muitos colonos a abandonarem a província. Conforme Machado, a falta de apoio aos colonos, a existência de terras inférteis e ausência de infraestrutura básica causaram um impacto negativo na imigração paranaense. Tanto que houve uma crise de imigração no final da década de 1870 e início da de 1880. O processo foi retomado com mais ênfase a partir de 1885, quando o então Presidente da província, Alfredo d'Escragnolle Taunay, recuperando a política imigratória do Presidente Lamenha Lins, incentivou e subsidiou a vinda de colonos estrangeiros.
Apesar das dificuldades, o Paraná recebeu milhares de imigrantes. No ano de 1934 haviam adentrado no Paraná cerca de 47.731 poloneses, 19.272 ucranianos, 13.319 alemães, 8.798 italianos e 9.826 grupos de outras nacionalidades, compondo um número total de 101.331 imigrantes.
Os alemães foram os primeiros imigrantes a chegar ao Paraná, no ano de 1829, fixando-se em Rio Negro. Essa iniciativa coube ao fazendeiro, comerciante e tropeiro João da Silva Machado, que depois se tornou o Barão de Antonina. Os alemães tiveram longa história de imigração no Paraná, que se estendeu desde as primeiras décadas do século XIX, até meados do século XX. Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial parcelas significativas se radicaram no Paraná. Os alemães trouxeram consigo suas atividades tradicionais (agricultura, olaria, marcenaria e carpintaria) e com isso ajudaram no desenvolvimento das cidades, sobretudo no comércio e indústria. As maiores concentrações alemães do Estado encontram-se em Rolândia, Cambé, Rio Negro e, principalmente, Marechal Cândido Rondon.
Os imigrantes espanhóis formaram suas colônias em Jacarezinho, Wenceslau Braz e Santo Antônio da Platina. O movimento imigratório para o Paraná tornou-se mais intenso no período compreendido entre os anos de 1942 e 1952, possibilitando uma fixação também na cidade de Londrina. Suas principais atividades estão ligadas ao comércio e à indústria moveleira.
Os holandeses vieram para o Estado por volta de 1909 e se fixaram nas proximidades de Irati. Algumas famílias, não se adaptando à região, acabaram voltando para a Holanda, enquanto que aquelas persistiram dirigiram-se para a região dos Campos Gerais (Carambeí), fundando uma Cooperativa Holandesa de Laticínios em 1925, a qual é destaque até os dias atuais.
Os italianos contribuíram muito para o trabalho nas lavouras de café e, posteriormente, em outras culturas. A maior concentração italiana do Estado está em Curitiba, na Lapa, no Litoral, em Palmeira e, também, em Morretes. No Norte do Paraná, praticamente não há cidade sem a presença dos italianos, que primeiramente se radicaram no Estado de São Paulo e, depois, se transferiam para o Paraná, acompanhando as frentes de ocupação e a cultura do café.
Os poloneses chegaram ao Paraná por volta de 1871, transmigrados de Brusque, Santa Catarina. Fixaram-se, principalmente, nas áreas de Mallet, Cruz Machado, Ivaí, Reserva, São Mateus do Sul, Rio Claro e em Curitiba, onde residem, em maioria, nos bairros de Santa Cândida e Abranches.
Os ucranianos vieram para o Paraná entre os anos 1895 e 1897, formando suas colônias entre Mallet e Prudentópolis. Além destas cidades, estão também espalhados por Pato Branco, Roncador e União da Vitória.
Os árabes instalaram-se primeiramente em Paranaguá, ocupando depois, as cidades de Londrina, Maringá, Curitiba, Araucária, Lapa, Ponta Grossa, Guarapuava, Serro Azul e Foz do Iguaçu, que, hoje, abriga a maior colônia desses imigrantes. Além da forte influência gastronômica, os árabes, no Paraná, se ligaram à arquitetura, à música e à dança.
A imigração portuguesa também representa seus traços fortes no Estado. A presença dos lusos no país sempre foi marcante e intensa por toda a conjuntura da história do Brasil ligada a Portugal. No Paraná, a cidade de Paranaguá, a qual servia de porta de entrada, possui a maior concentração de imigrantes portugueses. Também houve interesse dos lusos pelas regiões de Maringá, Londrina, Campo Mourão e Umuarama, durante o auge do ciclo do café. No Norte do Paraná, ainda hoje os portugueses se destacam, por suas atividades comerciais.
Por fim, entre os grupos que merecem destaque estão também os japoneses. Maringá, Londrina, Uraí e Assaí são os grandes núcleos de presença japonesa, e as duas últimas cidades originaram-se como colônias fundadas por japoneses. Em 2008 tivemos as comemorações do centenário da imigração japonesa para o Brasil. Nesse longo século, os imigrantes que chegavam dirigiam-se, principalmente, às lavouras cafeeiras do Estado de São Paulo e Paraná. Além da cultura tropical, os japoneses se empenharam na piscicultura, cultivo de hortaliças, fruticultura e na introdução da criação do bicho-da-seda no Estado."
Fonte: AMÂNCIO, Silvia Maria; IPÓLITO, Veronica Karina; POMARI, Luciana Regina; PRIORI, Angelo. História do Paraná: séculos XIX e XX [livro eletrônico]. Maringá: Eduem, 2012.