"Cerco a um quilombo
O sr. Geminiano de Mello, delegado da 10a. circumscripção da capital federal, procurando limpal-a dos vagabundos, desordeiros e malfeitores que a infestam, acoutados principalmente no morro da Providencia, fez uma importante diligencia que foi corôada do melhor exito.
Sabendo que alli está assentado o quartel-general dessa ralé social, não quiz ouvir os conselhos da timidez e affrontou o perigo, certo de que com um pouco de decisão e coragem conseguiria excellente resultado.
Depois de haver feito no principio da noite uma caçada no largo da Providencia, o delegado mandou a força repousar um pouco.
Ás 10 horas da noite, fazendo-se acompanhar pelo coronel Pinto, escrivão da delegacia, inspector Silva e 40 praças de policia, dirigiu-se para o morro da Providencia, subiu-o com as devidas cautelas, varejou-o até o alto e conseguiu capturar um verdadeiro batalhão de desertores, desoccupados e malfeitores.
Essa gente não reside ali propriamente em casas; dormem n'umas tendas de quatro palmos de altura, cobertas por folhas de lata de kerosene, sem colchões nem conforto de ordem alguma.
Assim os sorprehendeu o delegado.
A caçada produziu a captura de 63 desses sujeitos, que contra toda a expectativa nem siquer resistiram á prisão, talvez por verem a inutilidade de tal resistencia.
Um d'elles, um rapazote por nome Sant'Anna, criminoso conhecido, que lá estava tambem, - esse logrou escapulir logo que presentiu a approximação da auctoridade. E não houve meio de perseguíl-o porque mal se póde imaginar o que são aquelles sitios á noite: um meandro de atalhos por todos os lados, furnas e mattos, e a cada passo um precipicio.
A diligencia completou-se ás 4 1/2 horas da madrugada seguinte. A essa hora vieram os presos para a delegacia, onde a auctoridade os interrogou, vindo ao conhecimento de quaes eram os desertores, quaes os malfeitores. Uns seguiram para a detenção, outros ficaram detidos no xadrez, e alguns, convencidos de que não podiam continuar com semelhante genero de existencia, resolveram-se sentar praça.
No mesmo dia o sr. capitão Geminiano officiou ao chefe do estado-maior do exercito, pedindo-lhe para mandar verificar por pessoa idonea a identidade dos desertores."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 01 de Agosto de 1899, pág. 01, col. 04
