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sábado, 30 de maio de 2020

O Tarzan capixaba


"Aparece no Espírito Santo um 'Tarzan' autêntico

Rio, 21. (Meridional Brasileira). - Informa-se de Espírito Santo que, na Barra da Conceição, acaba de ser preso, nas matas de Mucurí, um indivíduo, que há longo tempo está segregado da sociedade, vivendo completamente nú, servindo-lhe de vestes a barba e os cabelos, que atingiram o máximo desenvolvimento. Êsse indivíduo não usa armas de especie alguma. Acredita-se que não saiba falar, pois apenas solta grunhidos e recusa os alimentos que lhe são oferecidos. Consta haver o moderno troglodita assassinado uma velha, que acreditam ser sua mãe. Confirma-se, assim, aquilo que acreditavam ser uma lenda."

Fonte: O ESTADO DE FLORIANÓPOLIS (Florianópolis/SC), 22 de Janeiro de 1940, pág. 01

Sobrenome Pacheco


"PACHECO - Sobrenome português e espanhol, provavelmente de origem toponímica. Os Pachecos procede de Fernão Jeremias, fidalgo principal do tempo do Conde Dom Henrique. O primeiro que assim se chamou foi Fernão Rodrigues Pacheco, que defendeu o Castelo de Celórico ao Conde de Bolonha, a serviço do rei Dom Sancho II. Não se tem concordância sobre a origem deste sobrenome."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 15 de Outubro de 1993, pág. 02

O Curupira - um estudo de 1887 - Parte 03


"Na Bahia, transforma-se completamente e não só muda de nome como de sexo.

A Kaiçara, é uma pequena cabocla quasi negra, que não dispensa o porco para sua cavalgadura. É tambem a protectora do caçador, quando este lhe mostra fumo e torna-se o seu cabrion quando não lhe dá. Não só os cães, como o proprio caçador, quasi sempre são attrahidos para o centro das mattas, onde, são surrados com cipó de yapekanga, cujos espinhos dilaceram as carnes das victimas.

Posto que actualmente desapparecesse o nome de Korupira, e fosse substituido pelo de Kaiçara, comtudo elle ahi existio, como nos prova o veneravel Padre Anchieta, quando nos diz em Maio de 1550, que 'chamam Corupira, que attaca muitas vezes os indios no matto, batem-lhes com açoutes, machucam-n'os e matam-n'os. Por isso os indios costumam deixar em um determinado caminho, que vae ter ao mediterraneo por asperas brenhas, em todo o vertice de montanha elevada, quando por ahi passam pennas de passaros, abanadores, flores e cousas semelhantes, como uma especie de oblação, pedindo com instancias aos Corupiras que não lhes façam mal'.

Cortando a locomotiva das vias ferreas, os centros do Rio de Janeiro e Minas Geraes, e levando nos seus silvos o progresso e a civilisação, afugentou o Kaapora, que outr'ora habitava as suas florestas e fez com que elle se refugiasse nas furnas das mattas das montanhas do norte d'esta ultima provincia, nos sertões ainda incautos onde as vezes apparece ainda com o nome de Korupira.

Talvez que pela geada que cahe nas serras d'essa provincia, lhe crescessem novamente os pellos de que se cobre o corpo, para resguardal-o do frio quando no queixada (Dicotyles labiatus) atravessa os campos, em procura do fumo dos caçadores, ou os enganando e os fazendo correr atraz de veados imaginarios.

Sendo pregando peças aos caçadores, matando-lhes os cães, atravessa as provincias centraes, para chegar aos campos do Rio Grande do Sul, onde abandona a cavalgadura para andar só a pé, mas então com duplos pés para não se poder saber quando caminha para frente ou para traz.

Sempre é o fumo para o cachimbo que lhe adoça as iras, e com elle se compra a felicidade na caça ou a licença para poder correr as florestas que tem sempre o Korupira por protector.

No Paraguay o Kaapora tambem impera sob a forma de um tapuyo velho, e vae mesmo á Bolivia, estender seu dominio sobre as mattas e seus habitantes. Por toda parte leva a mulher Tatácy (Amazonas), Tatámanha (Pará), ou Kaapora, e seus filhos, mas raras vezes se apresentam juntos. Quazi sempre a mulher fica em casa, o que não acontece ao filho predilecto que exerce seu dominio pelas estradas, pelos caminhos, pelas ruas e pelas roças.

Como criança não mata, mas as suas judiarias são as vezes maleficas, e annunciam sempre infelicidades e desventuras. Como o pae, tambem muda de nome: no Sul é Çacy tapereré, no centro Kaipora, e no Norte Maty-taperé.

O civilisado, que muitas vezes não entende a pronuncia do sertanejo, que é o mais perseguido por elle nas suas viagens, tem lhe alterado o nome; já o fez Çacy-pererê, Saperê, Sererê, Sareré, Siriri, Matim-taperê e até já lhe deu um nome portuguez, o de Matinta-Pereira, que mais tarde, talvez, terá o sobrenome da Silva ou da Motta.

Para melhor conseguir seus fins, e fazer suas proezas, sem ser visto, quasi sempre vive o Çacy ou Maty methamorphoseado em passaro, que se denuncia pelo canto, cujas notas melancolicas, ora graves ora agudas, illudem o caminhante que não póde assim descobrir-lhe o pouso, porque, quando procura vel-o pelas notas graves, que parecem indicar-lhe estar o çacy perto, ouve as agudas, que o fazem já longe. E assim illudido pelo canto se perde, leva descaminho nunca vendo o animal.

Quando no Norte, os tapuyos, ouvem o canto do Maty-taperê, e no Sul, os roceiros ou o Kaipiras, o do Kaapora ou do Çacy-taperê; que o civilisado toma por alma de caboclo, os velhos o esconjuram; as crianças unidas conchegam-se ao collo das mães; estas arrepiadas, olham para os paes, que tremem, mas não negam o fumo, que espalham pelas cercas dos quintaes e pelas portas para que o Çacy se cale, e se retire, levando com que matar o vicio de cachimbar.

Quando se não apresenta aos viandantes, sob a forma de passaro, reveste-se da forma humana, e só (no sul) ou acompanhado de sua mãe, (Pará e Maranhão) percorre as ruas, entra pelos roçados, vae ás casas de farinha; penetra nas senzalas; aterrorisa os passageiros; rouba a mandioca; furta farinha e quebra os beijús no forno, proezas em que é destro no Rio de Janeiro.

No Amazonas e Pará é um karumi de uma perna só, de cabellos vermelhos, os quaes a civilisação transformou em barrete vermelho (Pará) sempre acompanhado de uma velha tapuya ou preta vestida de andrajos (tatámanha) que pela calada da noute, e, mesmo de dia assovia dizendo: Maty-taperê!

É um tapuyosinho triste, como o são todos e que não evacua nem urina.

Vulgarmente só se apresenta sobre a forma de um passaro, que se não vê, mas cujo canto só ouve e o seu esvoaçar se sente. Toma esta forma quando quer se ver livre dos rigores da mãe Tatámanha.

Querem alguns que o Maty-taperê, seja a velha e não o pequeno, porém o que é mais correcto no valle Amazonico é que esse passaro phantastico seja a methamorphose do filho do Korupira.

O sr. José Virissimo, do Pará, tratando ligeiramente do Maty-taperê, cita como o canto do passaro o seguinte, que diz ser resto de algum mytho:

Matinta Pereira
Papa terra já morreu
Quem te governa sou eu.

Observo aqui que Papa terra, é no Pará um passarosinho preto de crista comprida, do qual não ouvi lenda alguma.

No Maranhão, o Maty-taperê anda tambem acompanhado pela velha, a que dão o nome de Kaapora.

Ahi a Kaapora dos sertões tem azas e vive pelos roçados, e pelas estradas e caminhos.

O povo das cidades, já a toma para motivos de seus folguedos. Nas festas populares de S. João apparece sempre a Kaapora com o Bumba meu boi, attrahindo o povo que gosta e ri-se dos seus esgares e seus momices. N'essa festa se vê fundido o elemento portuguez com o indigena e africano.

Figuram a Kaapora com uma armação de páo, vestida, representando uma mulher de braços abertos, de azas, e coberta com um lençol e andrajos, sob o qual se esconde um homem, que lhe dá os movimentos e imita os tregeitos e o costume da verdadeira Kaapora.

O povo gosta d'essa figura, segue-a, procura chegar-se a ella; de repente foge, approxima-se outra vez, recúa, sempre rindo-se das duas pantominas e gritando em côro:

'Assim Ceriema.
Bate as azas, vae-te embora'.

Ou então:

'Assim, Kaapora.
Larga a perna, vae-te embora'.

Em Sergipe é um moleque muito preto, com carapuça de latão, que tambem para obter fumo para seu cachimbo faz as maiores tripolias. Já esse mytho ahi está fundido com os contos portuguezes do cyclo de Gargantua, e apparece no conto do Manoel da Bengala referido em Coimbra sob o titulo A Bengala de quatro quintaes.

No Ceará a Kaapora, dá motivos tambem a uma festa quasi igual á do Maranhão, que se effectua tres dias antes e tres dias depois do dia de Reis. É a festa mais concorrida do sertão. A Kaapora faz parte do prestito do Bumba meu boi; é companheira do Privilegio ou José do Abysmo, da Burra, da Ema e dos Vaqueiros que fazem pelas estradas os maiores tregeitos, folgando e dançando, sempre dirigidos pelo homem da burra e tocados pelas vaias e pelas gargalhadas dos patuscos que os seguem; es gritos de:

'Chô, Ema! Sacode as pennas!'

ouvem-se por toda a parte, no meio dos assovios e das rizadas, quando ella experta os vaqueiros, sacudindo as palhas de carnauba com que cobre.

A Kaapora já ahi, em alguns lugares, não representa a mãe e sim o proprio Çacy como em Sergipe. É um menino com uma urupema na cabeça coberto por uma saia ou lençol, de sob o qual sahem duas varas formando braços.

Em Ilhéos (Bahia), o Maty ou Çacy, tem o nome de Kaapora, e diz que onde se apresenta é sob a forma de uma cabocla moça, clara e bonita.

Não sei porque em Ilhéos, toma o Çacy essa fórma. Não será a mãe Kaapora, porque em todo o sertão da Bahia, o Kaapora é representado como bem a descreve nos Cantos do Equador o distincto amigo e poeta Mello Moraes Filho?

Aqui reproduzo a sua lenda:

O CAIPORA

É caboclinho feio
Alta noite na matta a assoviar
Quando alguem o encontra nas estradas
Saltando encruzilhadas
Se põe a esconjurar!

É alma de um tapuyo
Fazendo diabruras no sertão...
Cavalgando o queixada mais bravio,
Transpõe valles e rios
Com um cachimbo na mão!

Assombro das manadas,
Enreda a onça em mattos de cipó;
De montanha em montanha vae pulando,
Vae quasi que voando,
Suspenso n'um pé, só!

Ao pobre viandante
Assombra e ataca em meio do caminho;
E pede fumo e fogo, e sem demora
Lhe mostra o Caipora
Seu negro cachimbinho.

Servido no que pede,
A contas justas, safa-se a correr...
Do contrario, se fica descontente,
De cocegas a gente
Faz rir até morrer!

É caboclinho feio.
Alta noite na matta a assoviar
No Norte, diz o povo convencido:
- Não indo prevenido
Não é bom viajar!

A Kaapora, mãe do Çacy, como no Maranhão, entra como episodio nas poesias populares da Bahia. No dia de Reis, sahe á rua, acompanhada pela molecagem, que a acompanha a gritar, cantando:

'Assim, Kaipora,
Feliz dô-dô!'

É a mesma do Maranhão, porém, sem azas, e coberta de esteiras e lençóes. A musica que acompanha sempre essas festas é composta de maracás, tambores e canzás ou caracachás.

No Rio de Janeiro, onde a onda negra mais estragos fez, onde pelos rincões o cancro da escravidão mais tem corroido, o Çacy-tapererê, que por uma syncope passou a ser saperê e que os negros fizeram sererê e siriri tomou a côr negra e usou o barrete vermelho, que os africanos recebiam nos armazens do Vallongo, do Cajú e nos das costas da Marambaia. Assim o Çacy passou a ser molequinho cóxo, ferido nos joelhos, porém mais vivo e activo do que o caboclo.

Verdadeiramente moleque ou garoto, como é em geral o crioulo.

Na estrada real de S. Cruz, na fazenda do Capão do Bispo, morgado dos Furtados de Mendonça, muitas vezes ahi ouvi dizer-se que o Caapira, ainda reminiscencia corrupta do Korupira, tinha por companheiro o Çacy-pererê, passaro de um pé só, que alta noite vagabundêa pelas estradas, cantando:

'Çacy-pererê minha perna me dóe.'

O Sr. Felix Ferreira, disse e Eduardo Perié repetiu no seu livro e A litteratura brazileira nos tempos coloniaes, que na fazenda de Sta. Cruz, é crença geral que o Kaapora tem por companheiro o Çacy, que canta 

'Sacy Pereira minha perna me dóe.'

O Çacy quando ahi sahe do matto, não é para fazer propriamente malificios, e se algum acontece, é resultado das suas molecagens. Só quando toma a fórma de passaro, torna-se agoureiro ou faz infeliz aquelle que persegue, porque então, querem que seja a alma de um caboclo transformada em passaro; por isso o chamam tambem, como já vimos, alma de caboclo.

Como passaro, canta do mesmo modo que o Maty, e tem todos os seus costumes.

Assim quando pelas fazendas e sitios nos serões, se faz farinha, o Çacy apenas vê a forneira só, vem lhe pedir farinha ou joga-lhe cinzas nos olhos para furtar-lhe a crueira, pelas estradas procura as encruzilhadas e trepa nas porteiras e nos copins para transviar os viajantes, e espantar as tropas.

Quando passam as porcadas, monta n'um para estramalhal-as, desesperando assim os tropeiros, que tem de campear os lotes, arrecadar as cargas jogadas pelo campo e arreiar de novo as bestas.

No centro e no norte de Minas Geraes onde o elemento indigena não se deixou assoberbar pelo africano, o Çacy apparece outra vez como um caboclinho de pés bifurcados fazendo as diabruras que faz o molequinho na mata do Rio, sempre de cachimbo no canto da bocca, pitando o fumo filado aos pobres viajantes, e furtando a comida dos escravos pelas senzalas.

Nos terrenos auriferos mora em geral nas betas e nas catas abandonadas, ou nas grunhas das montanhas, longe dos ribeirões, que não atravessa, por não gostar d'agua corrente; sahe para correr os pastos e ahi cavalgar os animaes, levando em correrias toda a noute fazendo com que os pobres tropeiros de manhã os encontre desbarrigados.

Nas noutes brumosas, quando os valles e os gupiaras se cobrem com aquella nevoa branca e floculosa, que, vista das serras, parece um mar de algodão batido, é quando elle gosta de perseguir os animaes trançando-lhe as crinas e os escondendo para que os campeiros não os encontrem e curtam o frio da gelada madrugada campeando em vão a madrinha de sua tropa.

Que se transforma em homem, e veste-se de rodaque para andar pelas casas de jogo, ou seduzir o sexo fraco, o affirmam muitos.

Que tem medo de esconjuros, de rozarios e orações, sempre as velhas me disseram, e quando ellas avistam alguma moça magra, pallida e triste logo dizem: 'é obra do Çacy', porque affirmam, que as moças se apaixonam por elle, com elle se amancebam, sendo a morte sempre a consequencia d'esse amor criminoso; d'ahi vem a chula que ao som da azinhavrada viola, enfeitada de fitas, canta o Kaipira nos requebros do katereté:

Menina, minha menina,
Quem te fez tão triste assim,
De certo foi o Çacy
Que flor te fez do seu jardim.

Os amores do Çacy
Trazem a morte a seu bem;
Reza á Nossa Senhora
Que te livre do mal; amen.

Outr'ora pelas festas de Reis, houve tambem no Rio de Janeiro o Bumba meu boi, mas nunca vi nelle tomar parte o Çacy."


Fonte: MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS. Vellosia, 1887, volume 1Manaus/AM: Typographia do Jornal do Amazonas, 1888, pág. 94-99.

Sobrenome Castilho


"CASTILHO - Sobrenome toponímico de origem espanhola. Significa castelo. Foi uma denominação comum de famosos arquitetos espanhóis que no século XVI se transferiram a Portugal.

As duas primitivas linhagens espanholas dos Castilhos procedem de uns navegantes naturais de Begoña, no País Basco. O primeiro que se conhece foi Juan Sanchez del Castillo. É seu solar o Castillo Pedroso, nas Astúrias. João de Castilho e Diogo de Castilho foram os primeiros que passaram ao reino de Portugal no tempo do rei Dom João III.

Muitas ilhas e portos tem o nome de 'Castilho' ou 'Castillo' (no caso espanhol).

Personalidades: Adriano Ernesto de Castilho, jurisconsulto português (1800-1857); Alexandre Magno de Castilho, escritor e jornalista português (1830-1860); Augusto de Castilho, oficial da marinha portuguesa (1841-1912); José Feliciano de Castilho, jornalista e escritor português (1810-1879); José Feliciano de Castilho, médico e escritor português (1769-1826); Julio de Castilho, escritor e erudito português (1840-1919); Júlio Prates de Castilhos, político brasileiro (1860-1903).

Formas portuguesas: Castilho, Castilhos. Formas espanholas: Castillo, Castillos, Del Castillo."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 07 de Junho de 1991, pág. 03

Manoela da Silva Panichi


"Registro mortuario

(...)

No dia 16, ás 7 horas da manhã, falleceu, em S. Amaro, d. Manoela da Silva Panichi, presada esposa do nosso co-religionario Nicoláo Panichi.

D. Manoela exercia ali o magisterio ha cerca de 30 annos, tendo sempre merecido de todos a maior estima e consideração pelas suas virtudes.

Ao desolado esposo as nossas condolencias."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Agosto de 1891, pág. 01, col. 02