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sexta-feira, 29 de maio de 2020

A Lenda da Lagoa Vermelha


"A Lenda da Lagoa Vermelha

Por LENY DAL MOLIN
do 'Eco Lagoense'

Nos tempos em que Lagoa Vermelha não passava de uma linda colina; colina essa parecendo mais revestida de um tapete verde, no qual o 'Supremo Artista', com seu divino pincel traçou maravilhosas paisagens, pouco além dessa colina, num núcleo de casinhas surgidas pelo labutar contínuo de homens esforçados, está uma magestosa lagoa, que reflete em suas límpidas águas e abóboda celeste em todo seu esplendor e serve como abastecimento aos moradores.

Essa lagoa que sempre tivera suas águas límpidas, é hoje encontrada com águas turvas. E por que? Eis a nossa lenda.

Lenda essa que, tem início na época em que os Jesuítas como bandeirantes transpunham vales, escarpavam montanhas, enfrentavam toda a sorte de intempéries com a finalidade única de conquistar almas para o reinado de Cristo.

Como sempre se tem visto nas narrações, é de lamentar que, desde aquela época, nem todos recebiam esses que chamavam de estrangeiros os quais nada queriam para si e sim, junto com a paz de espírito, levar um pouco de conforto material aos habitantes que viviam em grupos isolados.

Esses pioneiros incompreendidos foram perseguidos e tiveram que viver quais cães pelos pampas descampados durante longo tempo. Certa noite brumosa de inverno, com uma neblina que parecia penetrar no âmago dos ossos, os Jesuítas foram descobertos e tiveram que abandonar rapidamente seu refúgio. Apressadamente apanharam alguns víveres, seus objetos mais caros e ouro colocando-os sôbre seus burrinhos e iniciaram a fuga desorientados por caminhos desconhecidos.

Devido á escuridão da noite e á umidade não divisavam os lugares por onde passavam e dessa forma penetraram na lagoa. Sem tempo para refletir e com seus perseguidores perto, foram entrando sempre mais, mais; com a esperança que estivessem atravessando um córrego e que logo se livrariam dos que estavam em seu alcance.

Sem saber onde se encontravam, aflitos e cansados fustigavam cada vez mais seus burrinhos; eis que de repente sentiram que seus perseguidores paravam e um silêncio prolongado seguiu uma algazarra. Os Jesuítas pensando estarem a salvo mais entraram na lagoa e eis, que dos companheiros solta um prolongado gemido e desaparece; quando atinaram já era tarde, pois foram todos tragados pelas límpidas águas da lagoa que desde então, tornaram-se avermelhados como num protesto à injusta perseguição aos abnegados Jesuítas. Desde lá todos os esforços para secá-la tem sido baldados, pois no seu seio repousam os restos mortais dos amigos, Jesuítas."

Fonte: O PIONEIRO (Caxias do Sul/RS), 13 de Setembro de 1952, pág. 06

Sobrenome Ourém


"OURÉM - Sobrenome português toponímico. É uma espécie de uva. É também vila do Concelho de Vila Nova de Ourém, em Portugal, famosa por seus monumentos."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 15 de Outubro de 1993, pág. 02

O Curupira - um estudo de 1887 - Parte 02


"O mesmo tambem o denomina Caapora e aceita a opinião de Vasconcellos, fazendo-o genio dos pensamentos.

Nenhuma lenda confirma essa opinião.

O cantor dos Timbiras assim descreve o Kaapora:

'O Caapora (vulgarmente caipora) veste as feições de um indio, anão de estatura, com armas proporcionadas ao seu tamanho, habita o tronco das arvores carcominadas para attrahir os meninos que apanha desgarrados nas florestas. Outras vezes divaga sobre um tapyr, ou governa uma vara de infinitos kaititus cavalgando o maior delles.

Os vagalumes são os seus batedores, e tão forte é o seu condão, que o indio que por desgraça o avistasse, era mal sucedido em todos os seus passos.' Magalhães seguio tambem a mesma opinião de Simão de Vasconcellos tanto que Aimbire quando dirige-se ao pagé que o aconselha:

'Procurar outra terra mais remota'

Brada:

'Tudo deixar?... Fugir? Mas tu deliras!...
Fugir?... Que Curupira malfasejo.
Inspirou-te tão baixos pensamentos?...'

O autor do Diccionario Braziliano, o sabio Frei Velloso, a quem a botanica brazileira tanto deve, admitte não sem razão, que Korupira é o demonio do matto, como se vê no dito diccionario publicado em 1795.

Dizem que quando o individuo vê-se perdido no matto, encantado pelo Korupira, para quebrar o encanto que faz esquecer completamente o caminho, deve fazer tres pequenas cruzes de páo e collocal-as no chão triangularmente, (Rio Negro); ou fazer outras tantas rodinhas de cipó que collocará tambem no chão (Rio Yuruá e Solimões) e que o Korupira dá-se ao trabalho de desfazer ou então fazer ainda pequenas cruzes de kauré que atira pelas costas (Rio Tapajóz). O Korupira tambem persegue os caçadores em casa com os seus assovios (Rio Negro) e para o fazer calar-se basta bater-se em um pilão.

Quando o Korupira atravessa o Gurupy e entra no Maranhão, não muda de nome, mais ahi, de preferencia mora no grelo dos Tucunzeiros e procura as margens do rio para pedir fumo aos canoeiros, e virar-lhes as canoas quando não se lhes dá, fazendo as mesmas correrias pelos mattos, onde têm as mesmas formas com que se apresenta no Amazonas.

Atravessando pelo Rio-Grande do Norte e pela Parahyba, toma então o nome de Kaapora; torna-se inimigo dos cães de caça e affecta a forma de qualquer animal afim de attrahil-os para o centro dos mattos, onde ou os açoita com cipós ou os mata. Outras vezes obriga os cães a correr atraz delles, para fazer com que os caçadores os sigam; desapparecendo de repente, deixa os cães tontos e os caçadores perdidos. N'estas provincias quase sempre anda a cavallo n'um veado, ou num coelho. Indo o caçador munido de fumo e encontrando o Kaapora, se este pedir-lhe e for satisfeito pode contar que será d'ahi em diante feliz na caça.

No Ceará conserva o nome de Kaapora porem ahi muda de aspecto, perde o pello do corpo que transforma-se em cabelleira, de cabelos hirtos; apresenta dentes afiados como os de guaribas e olhos como brasas; sempre que sahe das mattas da serra monta n'um taititú, com uma chibata de yapekanga (Smilax Brasiliensis Spreng) na mão.

Avistando o caminhante começa logo a cantar:

Currupá papaco!
Currupá papaco!

Creio que essa cantiga é de importação portugueza, porque os degredados que depois de 1564 começaram a vir para o Brazil principalmente Açorianos, que ainda no começo deste seculo vieram para o Amazonas, cantavam:

Algum dia ja cantei
Hoje em dia não canto mais.

Pacos pacos papacos
Rupa pacos
Pacos pacos papacos
Rupa pacos

Cantiga que os sertanejos ensinam ás kurikas e papagaios e que estes levaram para o Sul onde quase todos os papagaios isso cantam. Em Inhamuns, sertão do Ceará e outros lugares, da mesma provincia as sertanejas terminam a cantiga ensinando os papagaios a dizer:

Curupá papaco,
Curupá papaco,
Não me pegue no tabaco!...

Isso se refere ao fumo que no Norte só se conhece por tabaco, que o Kaapora pede, porém os maliciosos, levam o significado da palavra para outro lado.

N'essa provincia não perdôa ao caçador, que, sem o seu consentimento invade-lhe os dominios, licença essa que é facil de se obter mediante um pouco de fumo. Favorece-lhe a caça, mas recommenda que não a fira e sim a mate, para não lhe dar o trabalho de andar procurando plantas medicinaes com que cure os ferimentos.

Na provincia de Pernambuco reapparece o Korupira, como synonimo de Kaapora, e em alguns lugares tem um só pé, esse mesmo redondo. Anda a cavallo n'um veado e por chicote traz um galho de yapekanga. Tem comsigo sempre um cão chamado Papa-mel. É então um caboclo pequeno coberto de cabellos, que dizem ser a personificação da alma de caboclo pagão.

Como em toda a parte é o protetor da caça, cuja destruição evita, mas n'essa provincia nem sempre torna infeliz aquelles que o encontram. Para captar-lhe a sympathia basta um presente de fumo.

Com isso tem por protector o mesmo Korupira, que surra os cães dos caçadores sovinos e os deixa depois amarrados para morrerem á fome.

Entre muitos factos passados n'essa provincia com caçadores protegidos pelo Korupira, citarei este: um homem costumava levar mingáo todas as noutes a um Korupira, porém este, encontrando uma vez o mingáo com pimentas, que a mulher do caçador tinha posto, deu uma surra no homem e nunca mais o protegeo.

Em outros lugares, tambem de Pernambuco, o Korupira por uma excepção, é representado por um pequeno gentio de cocar e fraldão de pennas, armado sempre de arco e flechas.

Como melhor não descreveria o que é esse mytho em Pernambuco, e quaes os seus costumes e a sua indole aqui reproduzo uma poezia popular, com que, do Recife, me obsequiou o meu amigo Dr. Regueira da Costa:

O KORUPIRA

De dia não busca a estrada
O guerreiro Korupira,
Porque dorme o somno solto
Á sombra da sukupira.

Mas de noite, quando a lua
Prateia as aguas da fonte,
E a fresca brisa sussura,
Eil-o que surge do monte.

Montado n'uma queixada,
Rompe do bosque a espessura;
Da onça não teme as garras,
Tendo trez palmos de altura!

Da yaindaya a verde pluma
Na fronte relúz, ondeia;
O arco, as pequenas flexas,
Garboso nas mãos meneia.

Assim anda, pula e corre
De noite pelas estradas:
E após si em tropel marcha
Uma vara de queixadas.

O grunhido, o som dos passos
O estalar dos rijos dentes,
Quebranta a mudez da selva,
Acorda os pobres viventes.

Pula aterrado o macaco.
Verga a folha das palmeiras;
Sai a cotia da toca,
Foge do matto às carreiras.

Quando encontra o Korupira
No caminho um viajante, 
Pára de pressa, e atrevido
Oppõe-se a que marche avante.

Irado, salta do peito
Agudo silvo estridente:
E logo em volta se ajunta
A sua guerreira gente.

Os olhos tornão-se brazas:
Põem-se em ordem de batalha;
O queixada amola os dentes
Que cortam como navalha.

Ai! do pobre caminhante,
Se o temor o tem tomado:
Perde a falla, fica escravo,
Sendo em porco transformado!

Mas, se investe os inimigos,
E de nada se apavora,
De repente o Korupira
Pelo valor se enamora!

Da peleja cede o campo,
E reparte o seo thesouro:
Ricas pedras de brilhantes,
Rubins, esmeralda e ouro.

Em Sergipe, o Kaapora anda sempre pelas estradas pedindo fumo aos viajantes para o seu cachimbo, e quando se lhe não dá mata-os a poder de cocegas. Em ar de brincadeira, faz rir o viajante até cahir morto."


Fonte: MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS. Vellosia, 1887, volume 1Manaus/AM: Typographia do Jornal do Amazonas, 1888, pág. 94-99.



Sobrenome Cansanção


"CANSANÇÃO - Sobrenome brasileiro. De uma planta da família das Urticáceas, nativa do Brasil, desde a Amazônia até São Paulo e Minas Gerais. Na Bahia, é água viva urticante. Variante: CANSANSÃO, por influência de Sansão.

Personalidade: João Lins Vieira Cansansão, Visconde de Sinimbu, foi presidente das províncias da Bahia e do Rio Grande de São Pedro."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 03 de Dezembro de 1990, pág. 02

Prédios da cidade de Pelotas em 1887


"Em um dos diarios pelotenses, o Correio Mercantil, lemos esta estatistica:

Até o mez de setembro do anno findo, existiam em Pelotas 3,946 edificios, havendo mais 76 em construcção.

Por esta estatistica official, conta hoje a cidade 4,022 predios ou 6,000 fogos, o que comporta, á razão de 5 pessoas por um, população superior a 30,000 habitantes.

Em 1870 havia apenas 2,000 predios e 12,000 habitantes.

A mesa provincial arrecada annualmente 65:019$400 de imposto de decimas urbanas."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 04 de Janeiro de 1888, pág. 01, col. 04