Conta o Diario Popular de Pelotas:
'As grandes chuvas que cairam ininterrompidamente n'esta cidade durante os ultimos dias occasionaram o transbordamento dos rios e arroios que cortam os terrenos d'esta cidade e immediações.
As enxurradas de agua innundaram Pelotas em muitos pontos, accarretando estragos de alguma importancia.
Desabou o boeiro existente á rua Felix da Cunha, esquina General Argollo, entrando a agua em muitas casas d'essas ruas e outras proximas.
A agua filtrava-se pelas paredes lateraes de muitos edificios e alagava os domicilios.
O nivel do S. Gonçalo attingiu a uma altura extraordinaria e invadiu todas as casas das duas margens d'esse rio.
As aguas do arroio Pelotas invadiram tambem diversas xarqueadas.
Desabaram muitos muros e arvores devido não só a faiscas electricas como á intensidade das chuvas.
Na praça da Constituição houve moradores que, para retirarem as aves de seus quintaes, tiveram que caminhar n'elles com agua pela cintura.
O arroio Santa Barbara corria impetuosamente e as aguas passaram por cima da ponte de madeira da rua 7 de Abril.
- Sabemos que o rio Jaguarão cresceu tambem muito, inundando a cidade d'esse nome e a villa oriental de Artigas, cujos habitantes estão sendo soccorridos pelo vapor Mirim.
- A alvenaria em que estava assente a extremidade da ponte da estrada de ferro sobre o rio Piratiny, na margem esquerda, veiu abaixo horas depois da passagem do trem que sexta-feira vinha de Bagé, interrompendo o transito, que só poderá estar restabelecido depois do dia 16.
- As margens do arroio de Pelotas, no Retiro, ficaram alagadas completamente, estando a ponte quasi submersa.
N'esse lugar está tambem interrompido o transito, o que impede a vinda de colonos á cidade, razão por que já se sente falta de muitos generos coloniaes taes como ovos, manteiga, etc., que não se encontram á venda."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 27 de Maio de 1891, pág. 01, col. 05