De Pedras Brancas a Pelotas
Conforme havia noticiado o nosso serviço telegraphico, partiram ante-hontem, dia 9, de Pedras Brancas, dois possantes automoveis de passageiros, em direcção a esta cidade.
A partida foi ás 9 horas da manhã de ante-hontem e a chegada a Pelotas ás 7 e 15 minutos, da tarde de hontem.
Portanto o percurso todo foi de 34 horas, inclusive as perdas de tempo em diversos logares como no pouso, em Camaquam, que foi de 7 horas e meia.
Ainda deram-se alguns accidentes na viagem, tendo os automoveis de parar cerca de 9 horas, devido a areias, banhados e caminhos barrentos.
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Os automoveis são da fabrica allemã Humber.
Um pertence ao sr. Hemeterio Mostardeiro e n'elle vieram os srs. Raul Amorim, nosso collega dr. Maciel Junior e o chaffeur José Alves, mechanico da casa Bromberg & C., da capital.
No outro, de propriedade do sr. Hugo Gertum, vieram este, seu irmão Emilio Gertum, o sr. Manoel Ignacio Evangelista e, servindo como chaffeur, o sr. Vasco Azambuja, negociante em Porto Alegre.
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De Porto Alegre a Pedras Brancas a viagem foi feita n'um rebocador.
A excursão foi feita com todas as precauções, como n'uma verdadeira expedição.
Os serviços de viagem vieram distribuidos assim: chefes da excursão - Hemeterio Mostardeiro e Hugo Gertum; os srs. Vasco Azambuja e José Alves chaffeurs; o sr. Raul Amorim, encarregado das provisões; o dr. Maciel Junior, observações, notas de viagem, etc.; o sr. Manoel Ignacio Evangelista, vaqueano; o sr. Emilio Gertum, photographo.
Em S. João do Camaquam, embarcou o coronel Zeca Netto, que ficou em S. Lourenço.
O Camaquam foi vadeado numa barca, estando os excursionistas muito gratos ao abastado estancieiro sr. Francisco Crespo, que tudo lhes facilitou para essa passagem.
O sr. Crespo esperara, amanhã, os viajantes com um churrasco, á beira do rio.
Em São João do Camaquam, o povo esperou os viajantes com salvas de bombas, vivas e um banquete, que elles não puderam acceitar, por terem só chegado ás 11 1/2 da noite.
Foram tiradas várias photographias, em Pedras Brancas, S. João do Camaquam, margem do Camaquam e hoje, nesta cidade, todas em bellos grupos.
A velocidade na viagem, embora sejam especiaes as machinas, nunca pôde ser grande, pela desvantajosa topographia dos caminhos.
A região mais rica, em panorama, segundo os excursionistas, em toda a travessia, é a que fica entre S. João de Camaquam e S. Lourenço, que é de real belleza.
O sr. Hemeterio Mostardeiro é o presidente da Praça de Commercio de Porto-Alegre.
O dr. Maciel Junior traz cuidadosamente annotadas todas as distancias, velocidades, accidentes, etc.
Disse nos s.s. que, si não fôra o atrazo inesperado de 6 horas, perdidas nos banhados aquem do arroio Velhaco, antes de S. João de Camaquam, a chegada a Pelotas era certa hontem, ás 2 da tarde, como projectavam os excursionistas.
O regresso hoje será feito com mais vagar, devido ao muito que já trabalharam os automoveis, cujos pneumaticos accusam pequenos defeitos oriundos das irregularidades da estrada.
De todos os pontos, os viajantes telegrapharam para Porto Alegre, a Reforma e a varios amigos.
Hontem, ao chegarem, o dr. Maciel telegraphou tambem ao Correio do Povo.
A distancia percorrida foi de 46 leguas.
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Hoje, deu-se o regresso dos dignos viajantes, que sahiram do Hotel Alliança, á 1 hora da tarde.
Os srs. tenente-coronel Manoel Simões Lopes e Martim Echenique acompanharam os excursionistas até o ground do Sport Club Pelotas.
Alli foram elles photographados pelo habil artista sr. Jorge Wetzel.
Em seguida trocaram-se as despedidas, partindo os distinctos cavalheiros, em regresso para Pedras Brancas."
Fonte: A OPINIÃO PÚBLICA (RS), 11 de Março de 1911, pág. 02, col. 02-03