"A <<Balança>>, a fortaleza feminina da Quarta Parada
Uma quadrilha de ladras com acampamento montado nesta capital - O rocambolesco bando existia ha dois annos - A prisão de seis ladras
Causará surpresa ha muita gente a noticia da existencia nesta capital de uma verdadeira quadrilha de mulheres ladras.
Entretanto, o facto é inteiramente authentico. Uma quadrilha, com o seu acampamento montado, com chefe para dirigir o 'serviço' e vinte componentes foi hontem descoberta pelos inspectores da delegacia de Roubos.
Infelizmente os 'argutos' dectetives do dr. Climaco Pereira não merecem de todo os nossos parabens porque a descoberta foi muito tardia.
Ha dois annos que a 'Balança' assim se denominava o acampamento, se encontrava montada na Quarta Parada.
Os furtos, os roubos, principalmente pelas vizinhanças se succediam sem que a policia conseguisse descobrir os autores.
Algumas das ladras, hontem capturadas, já contavam passagens pelo Gabinete de Investigações por latrocinio, mas isso em época remota, e não como componentes da quadrilha feminina, que conseguiu durante muito tempo zombar da policia.
O mais interessante da historia, porém, é que os inspectores que se atreveram a passar 'a muralha da fortaleza' se encontraram em face de uma reacção pela qual não esperavam.
As ladras, todas mulheres pretas, se atiraram de unhas e dentes aos tres inspectores, que tiveram que empregar o maximo das forças, mas assim mesmo ainda sahiram com alguns arranhões.
No calor da luta as mais espertas conseguiram fugir, sendo capturadas sómente seis das camponentes do criminoso bando.
A DESCOBERTA DA 'BALANÇA'
Foi quasi fortuita a descoberta do acampamento das ladras installado na Quarta Parada.
Alguns inspectores da delegacia de Roubos, que estavam encarregados da perseguição de um perigoso ladrão, foram ter, seguindo uma pista, á Quarta Parada.
O perigoso larapio, que ao que parece, era conhecedor da existencia da fortaleza, conseguiu evadir-se, mas ao mesmo tempo fez um signal, por meio de um assobio, ao pessoal da 'Balança', avisando de que havia 'mouros na costa'.
O estranho aviso, surpreendido pelos inspectores, chamou-lhes a attenção e elles deram uma immediata 'batida', encontrando fortes reacção.
Vencida afinal a resistencia e já avisada a delegacia de Roubos foram transportadas as seis ladras para o Gabinete da rua dos Gusmões.
AS MULHERES CAPTURADAS
Maria Francisca Justina, Beatriz David Oliveira, Felisbina Maria Conceição, Jandyra Marcondes Oliveira, Geralda Augusta de Souza e Tercilia Maria de Jesus foram então interrogadas pelo dr. João Climaco Pereira, delegado de Roubos.
No depoimento que prestaram contaram scenas interessantes da existencia da quadrilha e confessaram varios furtos e roubos comettidos.
A HISTÓRIA DA QUADRILHA
Algumas ladras profissionaes idealizaram a fundação da 'Balança' e montaram o acampamento num terreno adrede escolhido.
Armaram ali as suas tendas e começaram a viver da rapinagem.
Aos poucos outras foram apparecendo. Eram pretinhas de 14 ou 15 annos levadas pelas companheiras e que facilmente se acostumaram áquelle meio de vida.
Dormian em 'ninhos', sordidos molambos, e além do roubo se entregavam aos mais baixos vicios.
Obedeciam todas a uma chefe, e a sua autoridade era cegamente respeitada.
As menores eram encarregadas de furtos na cidade, praticados durante o dia, e as mais habeis de assaltos, perpretados durante a noite.
O produto do roubo era repartido por todos os membros da quadrilha, attendendo sempre o que era resolvido pela chefe.
PROSEGUEM AS DILIGENCIAS
A delegacia de Roubos, bem succedida na diligencia de hontem, proseguirá em suas investigações, afim de capturar o restante do bando.
As de maior idade serão devidamente, processadas e as outras entregues ao Juiz de Menores."
Fonte: DIARIO NACIONAL (SP), 12 de Dezembro de 1929, pág. 01, col. 01-02