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domingo, 16 de dezembro de 2018

A Picada Colonial


"No que tange à origem dos núcleos coloniais de Puerto Rico e São Leopoldo, encontrou-se, entre os imigrantes pioneiros de ambos os espaços, uma semelhança referente à sua organização social denominada de Picada. Uma possível definição para Picada pode ser encontrada em Martin Dreher. Para o autor,

a picada é a forma básica de penetração na floresta subtropical, na qual se busca abriu com os instrumentos disponíveis vias, ao longo das quais vão sendo instalados imigrantes, em lotes que lhes são designados. Na demarcação dos lotes, obedeciam-se critérios de natureza topográfica. Numa das extremidades, o rio ou seu afluente servia de limite. O lote estendia-se encosta acima até encontrar-se com outro que subia de outro vale. Nos topos dos morros ficava localizada a linha, picada ou travessia. A geografia determinava, assim, o tamanho de cada uma das comunidades humanas que se estabeleciam.

Esta forma de organização fora muito utilizada pelos imigrantes em função do difícil manejo da floresta. Os lotes que lhes eram destinados normalmente estavam rodeados pela mata nativa, a qual se constituía em um empecilho para a rápida e urgente fixação das famílias imigrantes. A Picada, caracterizada por uma via (estrada) única central onde às suas margens se localizavam os lotes coloniais, permitiu a derrubada da floresta e o fortalecimento dos laços entre os novos moradores. Junto à Picada, desenvolveu-se a comunidade local, onde a troca de conhecimentos foi vital para a sua sobrevivência. Ali, teve início um pequeno comércio (vendas), possibilitado pelo excedente agrícola, o que passou a ser o início de um ciclo comercial tanto para Puerto Rico quanto para São Leopoldo. Em relação aos pioneiros, primeiros ocupantes das Picadas, Eduardo Relly entende que eles 'trouxeram ao Brasil a dimensão da experiência social europeia baseada na longa cultura de gestão dos commons, amplamente solidificada em torno do capital social, autonomia política e institucional, e sentido comunitário'. "

Fonte: WITT, Marcos Antônio & BLUME, Wellington Augusto. Organização social e mobilidade espacial: estudo sobre imigrantes alemães e descendentes no Brasil e Argentina. In: Ágora, Santa Cruz do Sul/RS, v.16, n.01, jul./dez.2014, pág. 101-102.