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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Roubo ao Teatro Sete de Abril


"- Em Pelotas havião sido presos, á ordem do Dr. Maia, delegado de policia daquelle termo, tres subditos italianos sobre quem recahiram suspeitas de terem sido os autores de um roubo praticado no theatro Sete de Abril.

Havia já quinze dias que eram espionados por dous empregados da policia, attrahindo-lhes a attenção o mysterio de que se rodeavam.

No dia 4 foram elles novamente interrogados pelo delegado, sendo um delles nessa occasião reconhecido pelo Sr. Manuel Raphael como autor de uma tentativa de furto de que á sahida do theatro ia sendo victima.

<<Declararam, diz o jornal de que extractamos estas noticias, chamarem-se Francisco Gallo, Carlos Ghizolfo e Alberto Jacintho, e moraram o primeiro no hotel Alliança e os dous ultimos no dos Operarios, sito á rua de S. Jeronymo; accrescentáram mais, que um delles Gallo, viera de Santa Victoria onde tinha ido a negocio, e os outros dous de Santos a bordo dos paquetes Calderon e Rio de Janeiro.

<<Sendo-lhes pedido o passaporte, Carlos declarou que tinha deixado o seu, no cartorio da policia de Rio Grande, e que era manifestamente falso, como se verificou por um telegramma do delegado de policia daquella cidade. Outro desculpou-se dizendo têl-o perdido e só o terceiro é que apresentou o seu documento, accrescentando que não sabia ler nem escrever, o que era tambem falso porquanto achava-se firmada a sua assignatura no passaporte.

<<Todos estes factos levaram a autoridade a mandar dar busca nos seus domicilios, dando em resultado encontrar-se no hotel Alliança, debaixo da cama de Gallo, um grande formão de cerca de 4 palmos de comprimento, e no hotel dos Operarios, debaixo do travesseiro da cama de um delles, uma chave toscamente feita, e que verificou-se depois que abria e fechava perfeitamente a fechadura da porta da praça de commercio; encontrou-se ainda grande quantidade de chaves de todos os tamanhos e um bilhete de loteria que foi ha tempos roubado no Circo Inglez, ao Sr. Sotero Faria dos Santos, faltando apenas a carteira e 60$ que o mesmo senhor trazia na algibeira naquela occasião.

<<Debaixo da travessa da cama do terceiro, foi encontrada grande porção de cêra da terra o que fez suppôr terem sido elles o autores do roubo praticado havia dias no theatro, porquanto reconheceu-se que a fechadura tinha sido moldado em cêra.

<<Passando-se-lhes revista encontrou-se-lhes nos bolsos varias quantias, tendo Alberto cerca e 300$, apezar de allegar ser extremamente pobre e dizer que aceitava até logar de peão em qualquer xarqueada ou estancia.

<<Gallo, que ao principio declarára não ter profissão, que era rico e que alli fôra ver se conseguia saber do destino que levára um seu irmão, apenas trazia comsigo poucas balastraças.

<<Sendo-lhes novamente perguntado em que se occupavam, disseram que vendiam lenços, o que si verificou ser verdade, reconhecendo-se, porém, que os lenços eram já usados, o que leva suppôr que tenham sido furtados.

<<A autoridade mandou pôl-os incommunicaveis.

<<Ha todas as probabilidades de terem sido elles os autores do furto de 900$ que soffreu o Sr. Manuel Faustino Corrêa no theatro, quantia que suppôz ter perdido.

<<Um escravo do Dr. Campello declarou que, ha noites passadas, cerca de meia noite, encontrára estes tres meliantes na sala de jantar daquelle senhor, fugindo logo que si viram descobertos.>>"

Fonte: O MONITOR (BA), 21 de Abril de 1878, pág. 02, col. 04