"Rio Grande do Sul - Datas até 16 do corrente.
(...)
- Diz o Correio Mercantil de Pelotas:
<<A existencia de uma quadrilha de salteadores, neste municipio, continua a attrahir a attenção dos habitantes desta cidade e dar logar aos mais serios commentarios.
<<Hontem, por exemplo, chegou-se a dizer em diversos circulos, não sabemos com que fundamento, que a reunião dessa quadrilha não tinha por fim unico assaltar o viajante na estrada ou o estancieiro em sua propriedade; visava mais longe: - preparara-se devidamente para vir a esta cidade praticar attentados de toda a ordem: - o assassinato, o roubo e a violencia.
<<Outros, porém, tambem não sabemos com que razão, pretendem que aquella agglomeração de gente desconhecida representa o principio de um movimento revolucionario, cujo alcance a ninguem é dado antever.
<<Qualquer que seja a procedencia desses boatos, e sem que tenhamos em mente espalhar noticias aterradoras, cumprimos um dever de nossa missão, levando-os ao conhecimento do muito digno e honrado Sr. presidente da provincia, de cujo reconhecido patriotismo e nobre dedicação ao bem publico esperamos as providencias precisas para a extincção daquella agglomeração de gente armada e desordeira.>>
- Posteriormente escreveu a mesma folha:
<<Está avidamente verificado que existe nas proximidades deste municipio uma grande quadrilha de ladrões e assassinos. Os factos veem a confirmar os boatos que ha tempo se espalharam a semelhante respeito.
<<No dia 4 do corrente, foi perseguido por quatro individuos, todos verdadeiramente salteadores, o Sr. Thomaz Arias, empregado n'uma casa de commercio desta cidade, que a negocios tinha ido ao Herval.
<<Vinha daquella localidade, acompanhado por um pardinho, quando foi violentamente atacado por esses individuos, nas alturas da antiga casa de Manuel Detrôyat. Sahiram-lhe dois na estrada e dois do mato. Bem montado como estava, o sr. Arias conseguiu fugir, sendo, porém, perseguido durante quasi uma legua, recebendo na corrida um tiro de bolas e outro de pistola.
<<Felizmente conseguiu chegar incolume á casa de D. Francisca Chaves, onde encontrou protecção e si achou livre dos bandidos.
<<D'alli o mandaram acompanhar até a casa de João Basilio, desta á de Julio de Souza até o passo de Maria Gomes.
<<Na manhã de 5, encontrou o Sr. Arias dois individuos que lhe pareceram ser dos mesmos da vespera, que o seguiram até a casa de Belchior, nos Lagoões, 3o. districto deste termo, porto da estancia do Sr. Commendador Mancio Ribeiro.
<<Alli, novamente lhe deram a entender os malevolos pensamentos de que se achavam dominados, chegando até a dizer-lhes que bem merecia a gravata encarnada só pelo cavallo que montava.
<<Ainda nesse logar, devido ao agasalho que lhe prestou a familia do Sr. Belchior, escapou providencialmente á sanha dos assassinos, que envidaram todos os esforços para que dormissem no quarto onde estavam e com elles comessem.
<<Nessa noite, 5, os bandidos sahiram daquella casa ás 2 horas da madrugada, em direcção á capella da Boena.
<<N'aquellas circumferencias assevera-se positivamente que uma quadrilha de 50 salteadores percorre os municipios de Herval, Pelotas, Cangussú e Piratiny, parando mais no Rincão da Perdiz e na Fachina, campos de João Basilio.
<<Trajam ponche e bombachas pretas, andam em mangas de camisa e trazem um jogo de pistolas e um facão á cintura.
<<Os habitantes das estradas e das estancias, já não abrem as portas de suas casas nem de dia nem de noite. - Acham-se todos prevenidos com gente armada e só a muito custo e depois de severos reconhecimentos recebem ou dão agasalho ao viajante que chega."
Fonte: O MONITOR (BA), 29 de Março de 1879, pág. 01, col. 08, e pág. 02, col. 01.