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domingo, 19 de agosto de 2018

O caso do guarda-livros Brites


"- Communicam-nos de Pelotas o seguinte caso: - No dia 27 ou 28 do mez proximo passado na cidade de Pelotas, perpetrou-se um crime horroroso. Um jovem de nome Brites, guarda livros do sr. Braga (boticario), tinha por costume, todas as tardes, dar seu passeio pelos suburbios da cidade e descançava na casa de um lombilheiro Leite, que tem uma filha, a quem o jovem dedicava seus affectos. Uma occasião achando-se com um genro de Leite de visita em uma casa, as senhoras lhe perguntaram quando casava-se com a filha do referido Leite, e este contestou que nada havia, pois que visitava aquella familia por passar o tempo, e tomar uma chicara de café; prevalece-se o genro de Leite desta resposta e fez ver ao sogro que sua filha estava difamada por Brites, aquelle não trepidou armar-lhe uma cilada, na qual o inesperto foi victima: mandáram chamal-o em nome da filha, (infamia requintada) e quando o apanhou em casa, reunido com outros, o encerraram em um quarto dando-lhe a escolha de apanhar bolos ou ser victima de um punhal com que estavam armados; escarrando-lhe nas faces e fazendo-lhe outras injurias. O jovem vendo o furor de seus assassinos, proferio apanhar os bolos. Os malvados depois de deixar em deploravel estado as mãos da victima o retiráram de casa, sem duvida para levar mais longe seu crime, e na sahida encontram-se com um vulto, e o infeliz Brites pôde gritar espavorido e pedir soccorro; os malvados receiosos retiram-se, e assim pôde lograra salvar-se.

No dia seguinte apresentou-se Brites á justiça; procedeu-se a corpo de delicto, e segue o summario crime contra Leite e seus cumplices; que tendo esgotado toda a especie de ardil e empenhos, afinal offereceu ao infeliz Brites cinco contos de réis para desistir, este não aceitou, como era de esperar de um jovem honesto: o perverso vendo que nada podia conseguir consta que evadira-se."

Fonte: A PATRIA (RJ), 27 de Outubro de 1858, pág. 01, col. 01