"Com o florescimento das colônias, já no início do século XX, casas em pedra, com ou sem reboco, começaram a ser construídas: marcadas ainda estavam as características arquitetônicas das regiões de procedência. A tradicional casa colonial vêneta de dois ou três pisos pode ser vista nas mais diversas localidades de colonização italiana na serra gaúcha. Construída em três andares, a habitação era constituída de uma cantina no andar inferior, de uma zona diurna no nível intermediário e de uma zona noturna no último piso.
O andar mais baixo da moradia, muitas vezes abaixo do nível do terreno, servia para a conservação dos gêneros alimentícios, tais como queijos e salames, bem como para a produção do vinho. Imediatamente acima, tinha-se o espaço da vida social familiar e comunitária - era o lugar da cozinha e da 'sala de estar', onde a família se encontrava durante o dia e onde se recebiam os visitantes, especialmente nas noites de filò. O terceiro piso era onde se encontravam os quartos, era uma zona mais reservada e íntima da casa.
Algumas moradias, especialmente aquelas feitas em madeira, tinham a cozinha em um espaço fora da casa, construído a uma certa distância. Isso se devia grandemente ao perigo de incêndio que a precariedade dos antigos focolare trazia. Assim, a distância entre a cozinha e a habitação permitia uma segurança maior à família quando da utilização do fogo.
O espaço doméstico, além de ser o lugar da vida familiar do imigrantes, também é, por excelência, o locus da rememoração das experiências da trajetória da família e do grupo étnico. No interior da residência, as histórias coletivas são reinventadas e o mito civilizador da imigração italiana é edificado. Dessa forma, os preceitos religiosos são mantidos e enriquecidos pelos rituais quotidianos de orações, invocações, súplicas e ladainhas e a trajetória da imigração vai sendo revisitada, especialmente a partir das aventuras de Nanetto Pipetta."
Fonte: BENEDUZI, Luís Fernando. Conquista da terra e civilização do gentio: o fenômeno imigratório italiano no Rio Grande do Sul. In: Anos 90, Porto Alegre, v. 12, n. 21/22, ja./dez. 2005, p. 279-280.