"Os Doces Tradicionais de Pelotas começaram a ser produzidos durante o ciclo do charque, devido à concentração de renda propiciada por esta atividade e ao fato de a safra ter curta duração - de novembro a abril - , possibilitando o desenvolvimento de outras atividades e o surgimento de uma cultura local.
Grande parte do charque produzido nas charqueadas era levada para o nordeste para servir de alimento aos escravos da região, e os navios que transportavam o charque retornavam com açúcar, produzido lá, o qual era usado para fazer os doces.
Em seu livro Doces de Pelotas: Tradição e História, de Mário Osório Magalhães (2001) afirma que a sociedade pelotense procurou abrandar sua imagem rústica saladeiril através da adoção de requintados costumes, constantes atividades intelectuais e imponentes construções. Neste contexto é que o doce se insere.
O fim da escravidão foi um dos fatores que contribuiu para a decadência das charqueadas em Pelotas, assim como a produção de charque em outros municípios do Rio Grande do Sul. O surgimento dos frigoríficos, que dispensavam o processo de salga da carne, selou o fim do ciclo do charque, o período de opulência da cidade.
No início do século XX, a tradição doceira de Pelotas, até então restrita aos costumes familiares da elite da cidade, passou a ser divulgada comercialmente em todo o país. No mesmo período, os imigrantes alemães, pomeranos e franceses que viviam em Pelotas passaram a cultivar frutas de clima temperado - principalmente o pêssego - na região colonial. Essas frutas eram comercializadas ao natural e na forma de doces, geleias, conservas e pastas, ampliando e diversificando as formas de produção de doces.
No artigo 'Vinhos e Doces ao som da Marselhesa: um estudo sobre os 120 anos da tradição francesa na colônia Santo Antonio de Pelotas-RS', Leandro Betemps (2001) afirma que as primeiras indústrias de compota surgiram entre os franceses e este foram um dos maiores legados desse grupo étnico para Pelotas e a região.
Muitas receitas portuguesas trazidas pelos colonizadores e pelos navios transportadores de charque ainda são utilizadas pelas doceiras pelotenses. As transformações e criações ocorridas ao longo do tempo agregaram ainda mais qualidade e valor aos nossos doces. O sal e o açúcar são elementos constitutivos do progresso socioeconômico de Pelotas e permeiam a formação da identidade histórica da cidade, que continua sendo estimulada em grande escala, a exemplo da FENADOCE - Feira Nacional do Doce -, um dos principais eventos municipais, que ocorre anualmente."
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Pelotas: uma história cultural. Pelotas/RS: Prefeitura Municipal/Secretaria de Cultura, 2009, p. 119-121.