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domingo, 8 de abril de 2018

A Batalha do Rio da Prata

"Em 1939, no meio da via fluvial mais larga do mundo, o rio da Prata, uma massa de aço de 186 metros de comprimento, pesando quase 16 mil toneladas, afundou depois de duas fortes explosões. No lamacento fundo do rio que separa o Uruguai da Argentina, ficou imobilizado para sempre o poderoso encouraçado 'de bolso' da Kriegsmarine - a Marinha de Guerra alemã -, o Admiral Graf Spee.

Depois de ter protagonizado uma das últimas batalhas navais clássicas da história (sem a presença de aviões ou porta-aviões), o Graf Spee foi afundado por Hans Langdorff, seu próprio capitão. O motivo: evitar que a tecnologia naval alemã - na época, uma das mais avançadas do mundo - caísse nas mãos da inimiga marinha britânica, que a esperava na foz do rio da Prata.

O Graf Spee era um dos orgulhos da frota do Terceiro Reich. No dia 3 de setembro de 1939, dois dias após o início da Segunda Guerra, começou sua tarefa: afundar navios mercantes possíveis no Atlântico Sul, como forma de estrangular a economia e o abastecimento dos Aliados.

Em cem dias de atividade frenética, comandado pelo astuto capitão Langsdorff, o Graf Spee colocou a pique nova mercantes (sem causar a morte de nenhum dos tripulantes das embarcações inimigas) e distraiu a atenção de dezenas de navios de guerra ingleses e franceses do principal cenário de guerra, o Atlântico Norte.

Quando navegava perto da costa uruguaia, entrou em combate com três navios britânicos, ação que entrou para a História com o nome de Batalha do Rio da Prata. Langsdorff conseguiu atingi-los duramente. No entanto, teve que se retirar para consertar os danos sofridos pelo Graf Spee, e seguiu para o porto neutro de Montevidéu (que, embora neutro, não era amigável com os alemães, mas sim com os ingleses).

O embate levou dezenas de milhares de pessoas em Montevidéu e em Buenos aires às respectivas avenidas beira-rio, para aguardar a aproximação dos navios com a esperança de assistir de 'camarote' ao duelo entre as mais poderosas marinhas de guerra do mundo. Durante dias, a Segunda Guerra Mundial esteve presente neste recanto longíquo da América.

Finalmente, depois de ouvir os rumores de que mais navios britânicos se aproximavam do rio da Prata, Langsdorff percebeu que o lugar era um beco sem saída. E desistiu.

Após enterrar 36 marinheiros no cemitério da capital uruguaia, zarpou do porto. A sete quilômetros de distância da costa, ordenou que os marinheiros abandonassem o navio. Cargas explosivas detonaram no fundo do encouraçado, que afundou.

A tripulação alemã refugiou-se em Buenos Aires, porto neutro (mas amigável com o Reich). Posteriormente, grande parte dos marinheiros foram para província de Córdoba. Outra parte retornou à Alemanha para continuar a guerra.

No entanto, Langsdorff não retornou à Alemanha. Em seu quarto do City Hotel, ao lado da Praça de Maio, o capitão deitou na cama. Enrolado na bandeira alemã - não a nazista com a suástica, mas sim a velha insígnia imperial, já que ele próprio não se considerava um nazista -, suicidou-se com um tiro.

Nos anos seguintes, os capitães aliados - seus inimigos - foram unânimes em defini-lo como 'um cavalheiro'.

Langsdorff foi enterrado no setor alemão do cemitério de La Chacarita, em Buenos Aires."

Fonte: PALACIOS, Ariel. Os argentinos. São Paulo: Contexto, 2013, p. 114-115.