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domingo, 31 de dezembro de 2017

Feliz Ano Novo 2018!


No ano passado...

Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.

Visconde da Graça


Por Fernando Osório

"João Simões Lopes Filho, Visconde da Graça, era pelotense, nascido em 1. de agôsto de 1817 e falecido em 25 de outubro de 1893. Descendia do casal Comendador João Simões Lopes e D. Izabel Dorothéa da Fontoura, aquêle natural da Freguesia do Paraíso, na cidade de Lisboa e esta da Freguesia de N.S. dos Anjos de Viamão, consorciados em Pelotas, no dia 16 de julho de 1815.

Cursou humanidades no seminário de S. José, na cidade do Rio de Janeiro, no intuito de ordenar-se, o que não levou a efeito. Do Seminário S. José seguiu para a Bahia, empregando-se no comércio. De regresso a Pelotas, foi para companhia de seu pai, na Charqueada da Graça. Militou nas fileiras farroupilhas em 1835, tendo sido prêso e deportado em Presiganga para Pernambuco. 

Casou-se, nesta cidade, em 1. de junho de 1836 com D. Eufrazia Gonçalves Lopes, de cujo matrimônio nasceram 12 filhos, de nomes: João Paulino, Catão Bonifácio, Izabel, Maria Joaquina, Eulalia, Francisco de Salles, Evaristo, Vicente, José, Francisca, Ildefonso e Eufrazia. Dedicando-se sempre ao ao comércio e tendo falecido seu pai, desenvolveu tôda a sua atividade na indústria de charqueada, na Graça, onde formou os alicerces de sua fortuna. Em 21 de dezembro de 1855 perdeu sua espôsa D. Eufrazia Gonçalves Lopes, vitimada pelo terrível cólera-morbo que, de 15 de dezembro a 21 dêsse mês, fulminou, na Charqueada da Graça, residência e propriedade do Visconde, 62 pessoas! A tôdas essas vítimas, na maioria seus escravos, o abnegado e nobre varão prestou a mais desvelada assistência. 

Casou-se em segundas núpcias com D. Zeferina Antonia da Luz, Viscondessa da Graça, na Estância da Graça, em 1. de julho de 1857. Dêsse casal nasceram 10 filhos, de nomes: Arminda, Antonio, Ismael, Collecta, Justiniano, Regina, Ildefonso, Manoel, João e Augusto. Em 27 de abril de 1846 foi nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo por mercê da Majestade Imperial, o Imperador D. Pedro, em cumprimento do Decreto de 10 de fevereiro de 1846. Em carta patente de 23 de dezembro de 1868 foi nomeado coronel comandante Superior da G. Nacional do município de Pelotas, Província do Rio Grande do Sul.

Foi eleito em 1870 membro da Assembléia Legislativa Provincial. Em 15 de abril de 1871 nomeado primeiro Vice-Presidente da Assembléia Legislativa Provincial, exercendo a presidência de 24 de maio a 12 de setembro dêsse ano, no impedimento do Conselheiro Francisco Xavier Pinto Lima. Foi exonerado dêsse cargo, a seu pedido, em 13 de março de 1877. Distinguido e honrado com o título de Barão da Graça, com a Carta de Fidalguia e Nobreza, em 27 de novembro de 1872. Foi convidado pelo Visconde de Rio Branco em carta de 30 de outubro de 1874 para Presidente da Província. 'É nosso desejo que V.Excia. aceite a administração efetiva da Província que tanto lhe merece, que V.Excia. tanto conhece, onde é respeitado por gregos e troianos'. Não aceitou. Em 12 de janeiro de 1876 emprestou, sem juros, à Província, que atravessava crise aguda, a quantia de cem contos de réis.

Elevado a visconde, em 16 de fevereiro de 1876, pelos relevantes serviços prestados ao Estado, na Província do Rio Grande do Sul. Em 22 de junho de 1878 foi reformado, a pedido, no pôsto que ocupava de coronel da Guarda Nacional. Tomou parte, fazendo uso da palavra, na memorável reunião popular de 28 de julho de 1881, realizada no salão da Biblioteca Pública Pelotense, para protesto ao decreto que extinguia o alfandegamento da Mesa de Rendas de Pelotas. Em 30 de setembro de 1881 foi oficialmente encarregado pela Praça do Comércio e Câmara Municipal de Pelotas para ir à Côrte apresentar ao Govêrno Imperial as representações solicitantes de uma alfândega de quarta ordem para Pelotas, tendo entregue em 19 de novembro, em mão, a referida representação ao Exmo. Sr. Conselheiro José Antonio Saraiva, Ministro da Fazenda. Por essa ocasião, em visita de despedida à Sua Majestade Imperial, mereceu as seguintes e confortantes palavras do Imperador: 'Sr. Graça, a sua Pelotas terá uma alfândega...'

Em 1885, a pedido da Sociedade de Imigração, exerceu grande influência junto ao Govêrno geral, a fim de ser sustada a decisão dêste mandando suprimir a Escola de Medicina e Veterinária, uma das mais belas aspirações de Pelotas. Foi nomeado pela segunda vez Vice-Presidente da Província em 30 de agôsto de 1885. Em 22 de outubro de 1887 foi escolhido pela comissão do manifesto abolicionista, nomeada pela Assembléia Geral convocada em 23 de setembro de 1887, em Pôrto Alegre, por S.Excia. Revma. o Sr. Bispo Diocesano, para fazer parte da comissão encarregada de promover no município de Pelotas a libertação dos últimos escravos nêle existentes. 

A então Província do Rio Grande do Sul e principalmente a cidade de Pelotas muito lhe devem no seu progresso material. É de conhecimento de todos que, não fôsse a avultada soma de 300 contos de réis que S.Excia. empregou na Companhia Hidráulica Pelotense, esta emprêsa teria acabado por falta de recursos. Quando, em 1876, a Companhia Inglêsa teve que suspender a iluminação pública nas três cidades - Pôrto Alegre, Rio Grande e Pelotas - e que Carlos Pinto obteve contrato para êsse fim, foi o Visconde da Graça que, com 750 contos, em libras esterlinas, comprou o acervo dessa companhia, começando logo depois a funcionar os gasômetros. À sua custa mandou o Eng. Licinio Chaves Barcellos proceder aos estudos para a desobstrução do Arroio Santa Bárbara.

Finalmente, foi chefe acatado do Partido Conservador, tomou parte saliente na iniciativa da fundação da Biblioteca Pública de Pelotas, na abertura da barra e canalização do Rio S. Gonçalo, Companhia de Bondes, Estrada de Ferro Rio Grande a Bagé, à qual doou grande extensão de terrenos, inclusive os que compreendem a estação e sua área de manobras nesta cidade, sociedades recreativas, instituições pias, destacando-se entre estas o Asilo de Mendigos, que ia ser fechado quando S.Excia, tendo disso conhecimento, não consentiu, autorizando por sua conta tôdas as obras necessárias ao seu funcionamento, no prédio em que está magnificamente instalada a referida instituição. Nem só a constituir um patrimônio para si votou-se o Visconde da Graça, mas, ainda, ao bem social, ao progresso de sua terra natal, dando colaboração inteligente e generosa a todos os empreendimentos da época que nos felicitam e à Cidade. Por isso mesmo, seu venerado nome refulge entre os dos beneméritos de Pelotas."