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domingo, 17 de setembro de 2017

José Cypriano Nunes Vieira


Por Fernando Osório

"Digno é o nosso morto de transpor aquêle templo grego, levantado ao deus da Medicina, e em cujo tôpo se lia: 'Aqui só terão entrada as almas puras!' Foi assim com essas palavras que o autor dêste ensaio encerrou sincera homenagem à memória do cultor de altruísmo que foi o Dr. Nunes Vieira, em poliantéia do 'Diário Popular' salientando que êle deixara a vida em 'pedaços repartida'. São assim os homens fortes e retos; fazem rebentar soluços na angústia da tristeza e da saudade. Inspiradas as suas obras na sabedoria do Bem, era-lhe a armadura feita de bravura moral. A peregrinos dotes médicos fusionava a vastidão de sua alma, o vigor de uma clara mentalidade, de uma sensatíssima inteligência, de um ânimo honesto e generoso, capaz de lembrar o dos paladinos antigos, pela suma excelência de uma espartana têmpera de caráter...

Nasceu a 10 de janeiro de 1857 no município de Bagé. Era filho do saudoso patrício Sr. José Bonifácio Vieira. Casado em primeiras núpcias com D. Conceição Nunes Vieira e em segundas núpcias com D. Alice Alves Vieira. Formou-se pela Faculdade do Rio em 1883. Foi eleito médico da Santa Casa, logo após o falecimento do Barão de Itapitocaí, ao qual substituiu no serviço de clínica naquele estabelecimento. Como o serviço ali se tornasse cada vez maior, o Dr. Nunes chamou dois colegas, depois mais quatro e, assim, sucessivamente, até completar o número de 18 médicos, dividindo por êstes seus honorários de 400$ mensais. Mais tarde, fêz com seus colegas desistência dos honorários, prestando serviços gratuitos até hoje à Santa Casa.

Fundador da Liga da Infância contra a difteria. Foi delegado de higiene em Pelotas. Diretor da Escola de Agronomia. Fundador e primeiro presidente da Agrícola Pastorial de Pelotas, o mais antigo núcleo , no gênero, do Rio Grande do Sul. Exerceu a presidência do Asilo de S. Benedito, sendo sócio benfeitor dessa instituição de caridade. Prestou excelentes serviços à Biblioteca Pública. Membro correspondente da Sociedade Brasileira de Animais à Agricultura, em Paris.

O seu desaparecimento, a 7 de setembro de 1917, acarretou as maiores demonstrações de pesar e de saudade por aquêle que exalçou e nobilitou, como poucos, a profissão, consolando corações, animando aflitos, estendendo, modesta e abnegada a mão dadivosa, rica de afeições e de consolações, a todos quantos se lhe acercavam nos transes mais dolorosos e mais tristes."