Fonte: NERY, Sebastião. Folclore político, 3. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 45-46.
"Janeiro de 1951, João Goulart chegou do Rio Grande ministro do Trabalho de Getúlio e presidente nacional do PTB. Instalou o partido no Edifício São Borja, ali na Cinelândia, Roberto Silveira era o secretário-geral, Doutel de Andrade primeiro-secretário. No fundo da sede, montaram um posto gratuito de assistência médica, a cargo de um médico requisitado do SAMDU. O povo ia lá buscar saúde, deixava voto...
Uma tarde, reúne-se a executiva nacional do PTB para resolver uma crise de Minas. O deputado José Raimundo estava brigando com o suplente Machado Sobrinho por causa da política municipal de Itabirito. E eram ambos dirigentes estaduais do partido. José Raimundo fez longa exposição, sentou-se. Machado Sobrinho começou a sua. De repente, emocionado, irritado, empalidece, dá um gemido, cai. Era o enfarte.
Chamaram às pressas o médico do posto. O homem veio lá do fundo de bata branca, todo desconfiado, ajoelhou-se, pôs a mão no peito de Machado Sobrinho, conferiu o pulso, levantou a cabeça, os olhos arregalados:
- Chama um médico que esse puto vai morrer.
Jango ficou desesperado:
- Mas o senhor não é médico?
- Sou, sim, mas não entendo de enfarte. Chama correndo um médico porque esse puto vai morrer.
Machado Sobrinho morreu mesmo. Doutel de Andrade ficou indignado, exigiu de Jango a demissão do médico:
- Este homem não pode exercer a medicina...
Jango espichou a perna direita:
- Doutel, em que posto do SAMDU ele era lotado?
- Em Irajá.
- Que coisa! Matando a nossa gente. Transfere-o para Copacabana.
- Por que Copacabana?
- Se ele tem que matar, então que vá matando o eleitorado do Lacerda. O nosso, não.
Viveu mais vinte anos. Enterrando, em Copacabana, os eleitores da UDN e da Arena."